Apesar de dia histórico, Raúl Castro lamenta que bloqueio econômico seja mantido
O presidente cubano, Raúl Castro, anunciou nesta quarta-feira (17) que, durante conversa por telefone com o presidente americano, Barack Obama, nesta terça-feira (16), acertou "o restabelecimento das relações diplomáticas" com os EUA, mas lamentou que seja mantido o "bloqueio" econômico sobre a ilha.
"Acertamos o restabelecimento das relações diplomáticas. Isto não quer dizer que o principal tenha sido resolvido: o bloqueio econômico", disse Raúl, que confirmou, também, a libertação de três agentes cubanos presos nos Estados Unidos, assim como as do funcionário terceirizado do governo americano Alan Gross e de um "espião de origem cubano" a serviço de Washington em Cuba.
O presidente cubano definiu que serão adotadas "medidas mútuas para melhorar o clima bilateral".
Libertações
Três agentes de inteligência cubanos que passaram 16 anos em prisões nos Estados Unidos retornaram a Cuba nesta quarta-feira como parte de um troca de prisioneiros na qual Cuba libertou um funcionário norte-americano que ficou cinco anos preso em uma prisão cubana, disse o presidente cubano, Raúl Castro.
"Gerardo, Ramón e Antonio chegaram em nossa pátria hoje", afirmou o presidente sobre os três remanescentes dos chamados "heróis antiterroristas", conhecidos principalmente por seus primeiros nomes. São Gerardo Hernández, 49, Ramón Labañino, 51, e Antonio Guerrero, 56.
O funcionário de ajuda dos EUA Alan Gross, que tinha passado cinco anos em uma prisão cubana, foi libertado. A libertação dos três agentes cubanos provavelmente será saudada como uma retumbante vitória por Castro, mas ele evitou declarações triunfais em seu discurso televisionado. Ele disse que era motivo de "enorme alegria para suas famílias e todo o nosso povo".
Em um aceno raro para os Estados Unidos depois de quase 56 anos de hostilidades entre os dois países, Raúl Castro elogiou Obama. "Esta decisão do presidente Obama merece respeito e reconhecimento pelo nosso povo", disse o presidente cubano.
Reaproximação
O contato entre Obama e Castro foi o primeiro entre os líderes dos dois países em mais de meio século. Conversas secretas entre as delegações governamentais dos dois países para debater a normalização das relações começaram há meses e que o Canadá sediou a maioria das reuniões.
O ex-presidente cubano Fidel Castro "não participou das discussões" de forma direta, mas autorizou sua equipe a negociar.
O Vaticano também facilitou os contatos, recebendo delegações dos dois países, e o papa Francisco se envolveu pessoalmente nas negociações com o envio de cartas a Obama e a Raúl Castro, nas quais defendia a libertação do americano Alan Gross e dos três espiões cubanos presos nos EUA.
Graças a esse processo, os dois países se comprometeram a iniciar um diálogo sobre o restabelecimento de suas relações diplomáticas que incluirá a abertura, dentro de alguns meses, de embaixadas em Havana e Washington.
Funcionários do governo americano afirmaram que a decisão de Obama representará a mudança mais significativa na política americana para com Cuba "em mais de 50 anos", pois o presidente dos Estados Unidos acredita que as medidas de aproximação com Cuba são "uma ferramenta melhor que o isolamento" ao qual a ilha foi submetida nas últimas décadas.
As medidas incluem a flexibilização das restrições às viagens e o comércio entre EUA e Cuba, assim como das remessas que os cubanos recebem a partir do território americano, segundo as fontes.
Os EUA decretaram em 1961 um embargo econômico unilateral sobre Cuba que se mantém até hoje e cuja suspensão depende da aprovação do Congresso americano, algo improvável neste momento.
Além disso, Obama pediu a seu secretário de Estado, John Kerry, que revise a inclusão de Cuba na lista de países que os Estados Unidos consideram patrocinadores do terrorismo.
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