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EUA reabrem embaixada em Havana e reforçam apoio a fim de embargo

Do UOL, em São Paulo

14/08/2015 11h47

Os Estados Unidos levantaram sua bandeira pela primeira vez, desde 1961, na embaixada norte-americana em Havana (Cuba), nesta sexta-feira (14), marcando oficialmente a reabertura de seu escritório diplomático no país caribenho e a restauração das relações entre ambos.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse algumas frases em espanhol em seu pronunciamento e reforçou que os EUA precisam se dedicar à derrubada do embargo econômico imposto à ilha nas últimas décadas, decisão que depende do Congresso norte-americano.

"Sabemos que o caminho para a normalização das relações é longo, mas temos que começar neste instante. Não há nada a temer. São muitos os benefícios de que gozaremos quando nossos cidadãos se conhecerem melhor e se visitarem com mais frequência, trocando ideias e aprendendo uns com os outros", disse Kerry, em espanhol.

Na sequência, Kerry citou o embargo econômico ao qual Cuba é submetida desde outubro de 1960. "O embargo continua e só pode ser derrubado pelo Congresso, um passo que nós apoiamos fortemente", disse, sendo aplaudido pelos presentes à cerimônia.

"O presidente Obama fez esforços para derrubar algumas restrições, mas queremos ir mais longe. A meta dessas mudanças é ajudar Cuba a se conectar com o mundo. Assim como fazemos nossa parte, esperamos que Cuba faça o mesmo."

O secretário de Estado norte-americano ainda lembrou que “décadas de boas intenções” não levaram a uma abertura política de Cuba e disse que essa tarefa não era dos Estados Unidos. “O futuro de Cuba é para os cubanos darem forma. Isso não pode ser feito por uma entidade de fora, e sim pela sociedade daqui. Mas todos sabem também que os EUA sempre irão cobrar pela liberdade democrática, pelo direito das pessoas de expressarem suas opiniões, pelo direito das pessoas de expressarem sua fé. Normalizar a diplomacia não é um favor. É algo que os governos precisam fazer juntos.”

“Prisioneiros do passado”

As principais tensões na relação entre os dois países foram citadas pelo secretário em seu discurso, como a invasão da Baía dos Porcos em 1961 e a crise dos mísseis no ano seguinte, no auge do conflito entre EUA e URSS na Guerra Fria, tendo Havana como epicentro. “Foram 13 dias em que estivemos perto da guerra nuclear. Eu era estudante. Não tínhamos certeza do futuro, não sabíamos o que veríamos quando acordássemos no dia seguinte”, afirmou. “É preciso coragem para deixarmos de ser prisioneiros do passado, e isso não significa esquecer a História.”

A normalização das relações com o Vietnã e o fim do bloco soviético nesse período em que a situação entre EUA e Cuba continuava estremecida também foram destacadas.

Segundo o representante do governo norte-americano, os dois povos agora precisam se conhecer, fazer viagens por seus territórios e saber mais uns dos outros. Usando uma frase de Barack Obama (presidente dos EUA), Kerry afirmou que agora os países são "vizinhos e não mais rivais ou inimigos". Ele ainda aproveitou para agradecer a ajuda diplomática dada pelo papa Francisco e mencionou a viagem que o líder católico fará a Cuba e aos EUA no mês de setembro.

"Tudo que divide o homem é um pecado contra a humanidade", disse Kerry, aproveitando a frase do jornalista e político cubano José Martí para explicar o atual momento. "Foram muitos dias de sacrifícios e tristeza nos dois lados da fronteira, e agora precisamos abrir portas para diminuir a dor desses laços", sugerindo uma troca do passado de “ódio por algo mais produtivo”. “Estamos muito confiantes.”

Logo após o discurso de Kerry, a bandeira norte-americana foi hasteada. A cerimônia teve a participação de três fuzileiros navais dos EUA que haviam baixado a bandeira em 1961 e, nesta sexta-feira, entregaram uma nova bandeira para ser hasteada em frente à embaixada, localizada na orla de Havana.

“Quando eles saíram em 1961, a tensão estava alta, ninguém se sentia seguro. Eles fizeram seus trabalhos e saíram para retirar as bandeiras, mas fizeram uma promessa de retornar a Havana e levantá-la de novo. Não imaginavam o quanto esse dia estava distante”, afirmou Kerry. (Com agências internacionais)