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Rússia sabia de ataque sírio com armas químicas, diz agência

5.abr.2017 - Homens observam os escombros de um posto médico bombardeado em Khan Sheikhoun após o ataque químico - Ammar Abdullah/Reuters
5.abr.2017 - Homens observam os escombros de um posto médico bombardeado em Khan Sheikhoun após o ataque químico Imagem: Ammar Abdullah/Reuters

Do UOL, em São Paulo

10/04/2017 19h25

O governo americano concluiu que a Rússia sabia com antecedência do ataque com armas químicas realizado na Síria na semana passada. Segundo fontes consultadas pela agência Associated Press sob anonimato, um drone operado pela Rússia sobrevoou um hospital em que as vítimas do atentado estavam sendo atendidas. Horas depois, um avião russo bombardeou o hospital. Para os funcionários dos EUA, o bombardeio foi feito para encobrir as provas do uso de armas químicas contra civis

O funcionário americano disse ainda que a presença do drone não seria uma coincidência, e que a Rússia deveria saber sobre a preparação com o ataque com armas químicas e que as vítimas procurariam socorro médico. Ele não soube dizer exatamente em que horário o drone sobrevoou a pequena cidade de Khan Sheikhtoun, no norte do país, onde morreram mais de 80 pessoas.

A acusação é grave e foi feita na véspera da viagem do secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, a Rússia, em um sinal do acirramento da tensão entre os dois países. O antecessor de Tillerson, John Kerry, costumava se reunir com Putin e com o ministro das Relações Exteriores russo em visitas a Moscou, e Putin concedeu várias audiências ao próprio Tillerson quando ele comandava a petroleira Exxon Mobil antes de assumir seu cargo atual no governo de Donald Trump.

Nesta segunda, o senador John McCain acusou a Rússia de ter cooperado com forças do governo sírio contra o ataque químico. Em entrevista coletiva dada aos jornalistas na Sérvia, McCain disse que os russos “sabiam das armas químicas porque estavam operando exatamente na mesma base” atacada com mísseis americanos. “Os EUA deveriam primeiro dizer aos russos que este tipo de crime de guerra é inaceitável hoje no mundo”, afirmou.

Até esta segunda, nenhum funcionário americano disse que os EUA estavam seguros de que a Rússia havia operado o drone. A fonte ouvida pela AP disse que os EUA agora estão certos de que os russos operavam o equipamento, mas que ainda não está claro sobre quem estaria no comando do avião russo que bombardeou o hospital, já que os sírios também operam aviões russos.

O governo americano já tinha confirmado que os russos trabalhavam com os sírios na base aérea de Shayrat, bombardeada pelos EUA e de onde supostamente foi lançado o ataque químico contra civis. Os EUA acreditam que as armas químicas sírias estariam armazenadas na base. Estes elementos reforçariam a tese de que a Rússia foi cúmplice do ataque de Bashar al-Assad.

Ainda que a Rússia tenha apoiado firmemente o governo de Assad e coordenando estratégias militares conjuntas, Washington nunca acuou Moscou de cumplicidade em nenhum ataque com substâncias químicas contra civis, incluindo crianças. Antes inimigos durante a Guerra Fria, a Casa Branca e o Kremlin trabalharam juntos em 2013 para retirar e destruir mais de 1.300 toneladas de armas químicas e agentes neurotóxicos da Síria.

Arsenal químico intacto

Fontes do Pentágono disseram à AFP que governo sírio teria reservas de armas químicas na base aérea que os EUA atacaram, e que o arsenal estaria intacto após o bombardeio. Especialistas de Inteligência dos Estados Unidos avaliam se o Exército do presidente sírio esconde essas armas em depósitos de munições na base aérea de Shayrat, perto de Homs, disse o coronel John Thomas, porta-voz do Comando Central americano.

"Suspeitamos que há uma significativa probabilidade de que existam mais armas químicas que poderiam estar prontas para serem lançadas [...], motivo pelo qual não bombardeamos" essas instalações, disse Thomas à imprensa. O Pentágono não quis disparar contra as reservas químicas para não se arriscar a gerar uma nuvem de gás tóxico sobre algumas regiões da Síria.

20% da aviação destruída

O ataque com mísseis que os EUA realizaram destruiu aproximadamente 20% do poderio aéreo do governo de Bashar al Assad, assegurou nesta segunda-feira o secretário americano da Defesa, Jim Mattis. "A avaliação do departamento de Defesa é que o ataque deixou como resultado danos ou a destruição de depósitos de munição e combustíveis, capacidade de defesa aérea e 20% de todos os aviões sírios operacionais", expressou Mattis em nota.

De acordo com Mattis, o governo da Síria perdeu a capacidade de abastecer ou restabelecer o armamento na base aérea de Shayrat. Inclusive, as pistas de pouso ficaram inutilizadas. Mattis definiu o ataque como uma "resposta na medida" contra o uso de armas químicas.