Pai de acusado condena ataque em show e diz que filho não participou: "não somos assim"
O líbio Ramadan Abedi, pai de Salman Abedi, apontado como autor do atentado que deixou 22 mortos após um show de Ariana Grande em Manchester, negou que o filho tenha cometido o atentado suicida na cidade inglesa, na noite de segunda-feira (22).
Abedi, que está na Líbia, falou por telefone à agência Associated Press. Ele afirmou que conversou com Abedi cinco dias atrás e disse que o filho se preparava para uma viagem à Arábia Saudita e à Líbia, onde passaria o mês do Ramadã com a família. Segundo ele, o filho de 22 anos parecia "normal".
"Não acreditamos em matar inocentes. Não somos assim", afirmou ele, segundo a AP. O pai também confirmou que o acusado visitou a Líbia há cerca de 45 dias e que seu outro filho, Ismail, foi preso na terça-feira (23) durante as investigações do ataque.
Considerado perseguido pelo então ditador Muammar Gaddafi, Ramadan Abedi pediu asilo ao Reino Unido em 1993 e se mudou de Tripoli para Manchester. Hoje, trabalha como gerente de uma força de segurança na capital da Líbia.
Um ex-oficial de segurança da Líbia, Abdel-Basit Haroun, disse à Associated Press que conhecia Ramadan Abedi, pai do acusado, e que ele era ligado a um grupo líbio que combatia o regime de Gaddafi na década de 1990 e tinha relação com a Al Qaeda. Segundo Haroun, após a separação do grupo líbio, Ramadan se associou ao movimento radical salafista jihadista, que originou tanto a Al Qaeda quanto o Estado Islâmico.
Família teria se preocupado com radicalização
De acordo com reportagem do "New York Times", no entanto, um amigo da família em Manchester afirmou que os pais de Salman Abedi estavam preocupados com a radicalização do jovem de 22 anos.
Segundo a fonte, eles teriam guardado o passaporte britânico do filho, mas devolveram após Salman dizer que gostaria de conhecer a cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita. Em vez de ir à Arábia, no entanto, Salman decidiu voltar ao Reino Unido, de acordo com o relato, onde teria planejado o atentado.
De acordo com um vizinho do jovem ouvido pelo "New York Times", Salman Abedi teria ficado nervoso em 2015 com um discurso de um imã da mesquita que frequentava, no qual o religioso condenou o terrorismo e assassinatos em nome de uma causa política. O sermão teria irritado outros membros da mesquita.
Nessa mesma época, Salman Abedi abandonou a Universidade de Salford, onde estudava administração de negócios, segundo os vizinhos. Ele ficou enfurecido após a morte do amigo Abdul Wahab Hafidah, também descendente de líbios, em um crime ligado a gangues, de acordo com os relatos.
Reino Unido investiga rede de terrorismo que estaria por trás do ataque
A polícia britânica afirmou nesta quarta que está investigando uma rede de terrorismo que estaria por trás dos ataques, auxiliando Salman Abedi nas explosões. "Eu acho que está muito claro que é uma rede que nós estamos investigando", disse Ian Hopkins a repórteres. "Investigações extensas estão acontecendo e ações estão sendo realizadas por toda Manchester enquanto falamos", acrescentou.
Além do homem preso na terça-feira, apontado por Ramadan Abedi como sendo seu outro filho, Ismail, outras três pessoas foram detidas hoje por supostas relações com o atentado. As detenções deste três indivíduos, cujas identidades não foram divulgadas, ocorreram depois que os agentes fizeram batidas em quartos no oeste da cidade.
A ministra britânica do Interior, Amber Rudd, disse ser provável que Abedi não tenha agido sozinho e que era conhecido das autoridades de segurança.
Segundo o ministro do Interior francês, Gérard Collomb, Abedi teria passado pela Síria, onde se radicalizou. "É um cidadão de nacionalidade britânica, de origem líbia, mas que cresceu no Reino Unido e que, de repente, depois de uma viagem à Líbia e provavelmente à Síria, se radicalizou e decidiu cometer este atentado", disse ele, com base em informações fornecidas por investigadores britânicos.
O atentado foi reivindicado pelo grupo extremista "Estado Islâmico" (EI). Trata-se do ataque mais mortal no Reino Unido desde o 7 de julho de 2005, quando homens-bomba mataram 52 pessoas no transporte público de Londres.
A mesquita frequentada pela família Abedi em Manchester realizou cerimônia em homenagem a vítimas e condenou o ataque. "Isso não faz parte de nossa religião", declarou Fawzi Haffar, do centro islâmico de Manchester.
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