O míssil norte-coreano realmente pode atingir qualquer lugar do mundo?
A Coreia do Norte declarou nesta terça-feira (4) que realizou o lançamento de um míssil intercontinental. Se essa afirmação for verdadeira isso pode ser o pavio de uma bomba que pode ameaçar o mundo todo.
Como sempre quando a Coreia do Norte faz uma declaração é difícil dizer o quanto isso é uma verdade ou apenas uma retórica.
Analistas, em um primeiro momento, acreditam que talvez o novo míssil seja capaz de atingir o Alasca e que isso pode ser uma grande melhora nos esforços de longa data dos norte-coreanos em criar um míssil balístico intercontinental. Mas, segundo eles, a Coreia do Norte ainda está muito distante da afirmação de que eles podem agora "atingir qualquer lugar da Terra".
Desconfiados irão sempre perguntar como a Coreia do Norte pode declarar um sucesso total a respeito de uma tecnologia complexa depois de realizar apenas um teste.
Porém a mensagem da Coreia do Norte ainda é bem clara: se não forem parados, em uma questão de tempo eles conseguirão alcançar o seu objetivo de poder atingir todas as partes dos EUA.
Porque o novo míssil pode ser intercontinental
O país está determinado a utilizar o que tem de melhor e mais brilhante e possui aparentemente uma enorme quantidade de recursos financeiros.
O ritmo de lançamento de testes aumentou dramaticamente depois que Kim Jong-un assumiu o país em 2011. E desde 2012 a Coreia do Norte colocou dois satélites em órbita com mísseis de longo alcance, o que muitos dizem ser um teste clandestino para a tecnologia de mísseis.
No último ano, a Coreia do Norte conduziu o quarto e o quinto teste de bombas atômicas e afirmou ter tido grandes avanços nucleares.
Depois que a Coreia do Norte disse em março sobre um teste de campo ser um novo tipo de um mecanismo para seus mísseis, Kim Jong-un alertou a todos dizendo que "todo o mundo em breve testemunharia o significado da grande vitória que conquistamos hoje".
Analistas que avaliaram o teste à distância dizem que o alcance potencial do míssil, se for disparado em uma trajetória normal, poderia ir mais distante que 6.000 quilômetros, o que o torna um míssil intercontinental.
Segundo a KCNA, a agência oficial da Coreia do Norte, o míssil alcançou uma altitude de 2.802 km e sobrevoou uma distância de 933 km.
"É isto aí. É um ICBM [míssil intercontinental]. Um ICBM que pode atingir Anchorage [Alasca], não San Francisco [Califórnia], mas ainda assim", escreveu no Twitter Jeffrey Lewis, pesquisador do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, com sede na Califórnia.
David Wright, analista da organização Union of Concerned Scientists, afirmou, com base nos dados disponíveis, que o projétil realizou potencialmente uma trajetória "muito curva" e "poderia alcançar no máximo 6.700 km com uma trajetória padrão".
"Este alcance não é suficiente para alcançar os 48 Estados (ao sul do Canadá) ou as maiores ilhas do Havaí, mas seria suficiente para atingir todo o Alasca", disse.
Porque o novo míssil não pode ser intercontinental
É difícil, mas não impossível para os que observam de fora entenderem o que aconteceu exatamente no lançamento.
"Isso é somente uma coisa que a Coreia do Norte poderia saber", afirmou Kwon Sejin, professor do Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia do Sul.
Alguns duvidam se Coreia do Norte realmente possui a tecnologia necessária para construir um míssil de reentrada, algo que possa atravessar e reentrar na atmosfera para atingir o alvo determinado. Ou ainda se a Coreia do Norte pode construir uma ogiva pequena o suficiente para caber em um míssil de longo alcance.
Chae-Yeon-seok, professor do Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia do Sul, disse que o radar e os satélites podem rastrear qualquer míssil voando, mas não podem especificar qual a sua tecnologia. "Nós não podemos verificar se uma ogiva poderá cair no oceano sem causar qualquer problema."
Para o Ministério da Defesa da Rússia, o míssil balístico disparado corresponde a um míssil de médio alcance.
"Os parâmetros de voo correspondem com as características de um foguete balístico de alcance médio", afirmou o ministério russo em comunicado.
Segundo o mesmo comunicado, o Sistema de Alerta de Ataque com Mísseis detectou o lançamento do foguete norte-coreano, que aconteceu às 21h46 de Brasília da última segunda-feira, e seguiu toda a sua trajetória com sucesso.
"O foguete atingiu uma altura de 535 quilômetros, percorreu cerca de 510 quilômetros e caiu na parte central de Mar do Japão", segundo a nota.
Os políticos russos consideraram o anúncio norte-coreano como um "blefe".
"As declarações de Pyongyang de que podem atacar qualquer lugar no mundo são, claro, um delírio. Mas ainda é preciso levá-las a sério, não deixam de ser um 'blefe'", disse o vice-presidente do Comitê de Relações Internacionais da Duma, a Câmara dos Deputados da Rússia, Alexei Chepa.
O governo dos Estados Unidos também afirmou que o teste foi realizado com um míssil de ‘médio alcance’ e não intercontinental.
O Major Cho Han Gyu, diretor da Junta de Chefes da Coreia do Sul, afirmou em uma transmissão para a televisão que o míssil exibido é apenas uma melhoria no míssil de médio alcance exibido em maio. Mas ele disse para as autoridades sul-coreanas e para a inteligência dos EUA que eles ainda estão tentando determinar se a Coreia do Norte realmente disparou um míssil intercontinental.
Porque a categoria do míssil não importa
A Coreia do Norte durante décadas buscou construir armas que possam combater os EUA e a "hostilidade" sul-coreana.
E nenhuma sanção, ameaça ou diplomacia conseguiu parar o avanço e a insistência do país.
Um ataque dos EUA e da Coreia do Sul provavelmente destruiria a Coreia do Norte, mas também mataria milhares de sul-coreanos que vivem a apenas alguns quilômetros de distância da fronteira com a Coreia do Norte.
Isso significa que sem se ter uma solução certa, é apenas uma questão de tempo antes da realidade combinar com o que a propaganda da Coreia do Norte apontou. Na terça-feira, ela disse que o teste é "o passo final para completar a força militar e nuclear da nação."
*Com informações da AP e EFE
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