Justiça pede novas provas sobre tratamento para bebê com doença incurável
A corrida contra o tempo para salvar o bebê britânico Charlie Gard ainda não chegou ao fim.
Após uma longa batalha judicial entre os pais de Charlie e a Corte britânica para que o bebê pudesse ser submetido a um tratamento experimental, a Justiça do Reino Unido em uma audiência realizada nessa segunda-feira (10) definiu adiar a decisão se o bebê poderá ser submetido a um tratamento experimental.
A Corte britânica ofereceu aos pais do garoto a chance de apresentarem novas evidências que provem que o seu filho deveria receber um tratamento experimental até quarta-feira de tarde e um novo julgamento irá ser realizado na próxima quinta-feira (13).
O juiz do caso, Nicholas Francis, insistiu que é preciso ter "novas e poderosas" evidências para reverter a decisão de impedir Charlie de viajar para o exterior para tratamento e a autorização para o hospital desligar os aparelhos que mantêm o bebê vivo. "Não há uma única pessoa que não queira salvar Charlie. Se há uma nova evidência, eu vou ouvir", disse.
A decisão ocorreu após uma emocionante audiência na qual a mãe de Charlie, Connie Yates, não escondeu a sua frustração com o caso e o pai, Chris Gard, gritou com um advogado. Em um determinado momento, Chris gritou para um advogado representando o hospital: "Quando vocês vão começar a falar a verdade?"
Yates acrescentou: "É realmente difícil. Ele é nosso filho. Por favor, nos ouçam".
Charlie Gard tem 11 meses de idade e sofre de síndrome de miopatia mitocondrial, uma síndrome rara que provoca a perda da força muscular e danos cerebrais. Com dois meses de idade ele precisou ser internado no Hospital Great Ormond Street, em Londres, onde permanece internado desde então.
O serviço de saúde pública do Reino Unido (NHS) disse que o bebê tem danos cerebrais irreversíveis, que o impedem de se mover, escutar, respirar e a sua respiração só funciona por meio de aparelhos.
Os tribunais anteriores haviam decidido que Charles não poderia receber um tratamento para sua síndrome e que os aparelhos que o mantêm vivo deveriam ser desligados, pois a posição anterior do hospital em que está internado era de que o tratamento experimental era "injustificado" e poderia causar a Charlie mais sofrimento para um caso onde não havia cura.
Porém na última sexta-feira (7) o hospital mudou de postura e pediu a reavaliação do Caso à Suprema Corte, após "novas evidências mostrarem um potencial tratamento para sua condição".
Sob as leis britânicas, é comum a corte intervir quando pais e médicos discordam sobre o tratamento de uma criança, como em casos onde as crenças religiosas dos pais proíbem transfusão de sangue.
Antes da audiência de hoje, Yates disse que sete especialistas do mundo todo expressaram apoio para a continuidade do tratamento e disseram para ela que tinha "mais de 10% de chances de funcionar".
Sobre a decisão de hoje, Catherine Glenn Foster, da Americans United for Life, que está em Londres para apoiar o casal, disse que "hoje foi uma vitória para os pobres Charlie, Chris e Connie sobre o Hospital Great Ormond Street. Há uma grande porção de esperança aqui".
Tratamento
Uma grande quantidade de apelos foi feito por apoiadores que se identificam com o caso e que defendem que o bebê pode ser salvo através de um tratamento experimental. O Hospital Pediátrico Bambino Gesú, que é de propriedade do Vaticano, enviou uma carta escrita por sete médicos, especialistas internacionais, para a Corte britânica dizendo que a nova droga utilizada no tratamento "pode funcionar".
De acordo com os primeiros estudos, essas moléculas podem superar a barreira hematoencefálica, que separam os vasos sanguíneos do cérebro, e assim ter impacto na miopatia mitocondrial - que é uma doença considerada incurável até o momento.
O caso ganhou atenção mundial após o papa Francisco declarar apoio aos pais de Charlie e disse que reza por eles, "na esperança de que seu desejo de acompanhar e cuidar do próprio filho até o fim não seja ignorado".
O presidente dos EUA, Donald Trump, também se manifestou sobre o caso no Twitter e disse que gostaria de ajudar Charlie a receber tratamento.
"Se pudermos ajudar o pequeno #CharlieGard, como nossos amigos do Reino Unido e o papa, ficaríamos felizes em fazê-lo", escreveu Trump.
If we can help little #CharlieGard, as per our friends in the U.K. and the Pope, we would be delighted to do so.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 3 de julho de 2017
Em uma entrevista feita na BBC Radio 4, momentos antes do julgamento dessa segunda-feira, a mãe de Charlie, Connie Yates, chegou a afirmar que os comentários feitos pelo papa e por Trump "salvaram a vida" de seu filho e transformaram a luta por sua sobrevivência "em um problema internacional".
A tentativa de salvar o garoto Charlie mobilizou milhares de pessoas em todo o mundo e uma campanha organizada pelos pais de Charlie em um site de financiamento coletivo para custear o tratamento nos EUA conseguiu arrecadar 1,3 milhão de libras (cerca de R$ 5,5 milhões). Porém, eles não têm autonomia para transferir o bebê para os EUA enquanto a Suprema Corte britânica não determinar.
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