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Como um garoto teve uma crise alérgica a amendoim mesmo sem comer nada durante voo?

Chris e Hong Daley voltavam de férias com seu filho em avião da Singapore Airlines - Reprodução
Chris e Hong Daley voltavam de férias com seu filho em avião da Singapore Airlines Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL

17/07/2017 12h40

Quando pediram à atendente do avião em que viajavam por um lanche sem amendoim para seu filho de 3 anos, Marcus, que sofre de anafilaxia (reação alérgica grave à planta), Chris e Hong Daley não imaginavam que o garoto pudesse vir a sofrer por causa de outros passageiros. Apesar do cuidado dos pais, o garoto começou a vomitar, apresentar inchaço nos olhos e dificuldades de fala.

Ao abrirem pacotes contendo amendoim, passageiros da Singapore Airlines lançaram partículas do alimento no ar, dentro do avião, atacando a alergia da criança.

O caso aconteceu na última quarta-feira (12), durante voo que partiu da Tailândia rumo à Austrália. O incidente gerou uma campanha de conscientização para outros pais de crianças que sofrem da alergia.

Chris e Hong voltavam de férias com seu filho para Melbourne, quando foram surpreendidos pelo caso. Médico especialista em problemas respiratórios, o pai alertou sobre os riscos de eventos similares com outros passageiros alérgicos ao alimento. "Com a poeira de amendoim, quando você abre um pacote, parte do que você pode cheirar é composta por pequenos fragmentos de amendoim, que vão parar no ar", explica Chris.

Segundo ele, a salvação de seu filho veio na forma de quatro injeções de adrenalina e outras medicações antialérgicas que eles levavam consigo. Ainda assim, o susto foi grande, principalmente quando a injeção provocou um corte na perna de Marcus, que nunca havia sido tratado com esse tipo de medicamento.

"A família atrás de nós, a mãe estava bastante traumatizada, porque ela sentiu que ela havia causado aquilo, junto dos seus filhos, e não parava de pedir desculpas", lembra Chris. Pouco mais de uma hora havia passado de um voo de sete horas de duração, entretanto o médico afirma que, assim que seu filho voltou à normalidade, a viagem seguiu normalmente.

Agora, Chris teme pela segurança de outros passageiros que apresentem condições similares às de Marcus. "Se não fizermos algo sobre isso, não vai demorar até que haja um número de fatalidades em voos", afirma.

Ignorados" pela companhia de voo

Uma amiga da família Daley, que viajava no mesmo voo, também sofreu uma pequena reação alérgica aos amendoins. Em terra, ela reclamou na página do Facebook da Singapore Airlines, pedindo que parassem de servir o alimento. A resposta: mesmo que banissem os amendoins, a empresa não teria como controlar o que os passageiros levam a bordo do avião.

Para Hong Daley, isso mostra que a preoucupação de sua família e amigos foi ignorada pela companhia aérea. "Fomos dispensados e só queremos conscientizar as pessoas que isso pode acontecer em um avião", disse. "Tudo que eles têm de fazer é parar de servir amendoins. E há tantos outros lanches".

A fim, de impulsionar um posicionamento mais definitivo da companhia, Hong e Chris formalizaram uma queixa contra a Singapore Airlines. "Obviamente não se pode revistar todo mundo atrás de amendoins", reconheceu o médico. "Mas se você conscientemente serve centenas de pacotes de amendoim, de uma vez, em um voo que quase certamente terá alguém alérgico, isso é inconsequente, irresponsável e potencialmente fatal", adiciona.

Outro lado

Em nota, a Singapore Airlines se desculpou para com a família Daley pelo "aborrecimento que eles viveram durante seu voo". "Assim que nossa tripulação soube da situação, imediatamente removeu todos os pacotes de amendoim da área em torno do Sr. Daley e sua família", afirmou um porta-voz da companhia".

Para garantir que o incidente não se estendesse, a equipe suspendeu os serviços de amendoim na classe econômica pelo restante do voo", adicionou. "Estamos em contato com o Sr. Daley e iremos reavaliar esse incidente".

Há 10 anos, a companhia aérea australiana Qantas restringiu a distribuição de amendoins em todos os seus voos e espaços comerciais, depois de uma campanha conduzida pelo ex-presidente da Associação Médica da Austrália, Dr. Mukesh Haikerwal. Segundo ele, muitas outras companhias aéreas do mundo têm uma política similar, como a neo-zelandesa Air New Zealand.

"Companhias aéreas têm uma responsabilidade em fazer suas cabines seguras para todos os seus passageiros", afirmou Haikerwal. "Algumas linhas europeias até fazem da ausência de amendoins uma vantagem", diz. O ex-presidente reconheceu, entretanto, a dificuldade de impedir pessoas de levar alimentos com a planta a bordo, mas disse que medidas razoáveis precisam ser tomadas para impedir que elas causem reações alérgicas.