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Sem citar neonazistas, Trump condena "fanatismo e racismo" de "vários lados"

Centenas de homens e mulheres carregam tochas, fazem saudações nazistas e gritam palavras de ordem contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus em Charlottesville - AFP
Centenas de homens e mulheres carregam tochas, fazem saudações nazistas e gritam palavras de ordem contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus em Charlottesville Imagem: AFP

Do UOL, em São Paulo

12/08/2017 18h45

O presidente Donald Trump condenou neste sábado (12) as mostras de "fanatismo, racismo e violências de vários lados" durante os protestos violentos entre grupos antirracistas e de ultradireita --incluindo neonazistas e membros da Ku Klux Klan-- por causa da retirada de estátua em homenagem ao general confederado Robert E. Lee.

Os protestos começaram na noite de sexta-feira e se intensificaram hoje. Durante uma marcha de antirracistas, quando a situação já havia acalmado, um carro avançou contra os manifestantes em alta velocidade, matando uma mulher de 32 anos e deixando 19 feridos. O motorista foi preso logo após o crime. Ele foi identificado como James Alex Fields, 20 anos, de Maumee, Ohio, e responderá a acusação de assassinato em segundo grau (intencional, mas não planejado com antecedência). A polícia não divulgou qual teria sido a motivação alegada pelo suspeito para cometer o ataque.

Em um discurso em Bedminster, Nova Jersey, Trump condenou a violência de forma geral, sem citar os neonazistas e racistas que organizaram a marcha "Unir a Direita" para reunir membros da extrema direita de todo o país, gritando palavras de ordem contra judeus, negros e gays, entre outros grupos.

"Condenamos nos termos mais contundentes essa atroz mostra de fanatismo, racismo e violência de vários lados. Vários lados", disse o presidente. "Não importa nossa cor, crença, religião e partido político: somos 'todos os americanos primeiro'." Trump também cobrou a restauração da "lei e ordem" nos Estados Unidos.

"Isso já está acontecendo há muito tempo no nosso país, não na época de Donald Trump ou de Barack Obama. Está acontecendo há muito, muito tempo", disse Trump, que não respondeu perguntas de jornalistas sobre a participação de nacionalistas brancos nos protestos, inclusive de pessoas que o apoiaram publicamente nas eleições do ano passado.

IMAGENS FORTES - Carro atropela manifestantes na Virgínia

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A fala de Trump gerou críticas de parte da opinião pública, que cobrou que o presidente citasse os nacionalistas brancos. "Sr. Presidente, temos que chamar o mau pelo nome. Eles eram brancos supremacistas e isso [atropelamento intencional] foi um ato doméstico de terrorismo", disse Cory Gardner, do Colorado.

"Muito importante para a nação que escute o presidente chamando os eventos de Charlottesville pelo que são: um ataque terroristas de brancos supremacistas", acrescentou Marco Rubio, da Flórida. Ambos são do Partido Republicano, o mesmo de Trump.

Os democratas também fizeram críticas. "Até o presidente condenar especificamente a ação da direita alternativa em Charlottesville, ele não fez seu trabalho", disse o senador Chuck Schumer, líder dos democratas no Senado. "Não, senhor presidente. Isso é uma ação de provocação de neonazistas para fomentar o racismo e o ódio, e gerar violência. Chame do que é", afirmou o senador Bernie Sanders, pré-candidato democrata à Casa Branca no ano passado.

Quando Barack Obama era presidente, Trump reclamou algumas vezes que Obama não condenava os atentados terroristas ligados a simpatizantes e militantes do Estado Islâmico usando o termo "terrorismo radical islâmico".

Grupos neonazistas e da chamada 'direita alternativa' apoiaram Trump nas eleições dos anos passado --um líder da ultradireita, Richard Spencer, chegou a fazer uma saudação nazista ao comemorar a vitória do magnata em novembro.

Spencer estava no protesto em Charlottesville, junto com David Duke, figura proeminente da Ku Klux Klan.  Em entrevista neste sábado, Duke afirmou que o grupo vai "cumprir as promessas de Donald Trump [na campanha eleitoral] e tomar nosso país de volta".

Muitos manifestantes usavam placas em favor de Trump, segundo relato do jornal Washington Post.

"Unir a Direita"

A polêmica marcha "Unite the Right" (Unir a Direita) foi organizada como protesto pela retirada de uma estátua em homenagem ao general confederado Robert E. Lee, que liderou as forças sulistas, pró-escravidão, durante a Guerra Civil dos EUA, no século 19. Nela, os nacionalistas gritaram palavras de ordem contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus e carregaram tochas, fazendo gestos nazistas.

Antes do atropelamento, os confrontos entre os manifestantes neste sábado aconteceram no Emancipation Park, local onde está a estátua do general Lee, pouco antes do meio-dia, quando estava marcado o evento, que prometia reunir mais de mil manifestantes, incluindo líderes de grupos associados à extrema-direita do país. Quinze pessoas ficaram feridas nesses confrontos.

"Vocês não nos apagarão", cantou uma multidão de nacionalistas brancos, enquanto os manifestantes contrários levavam cartazes que diziam: "Nazi vai para casa" e "Destrua a supremacia branca".

A polícia precisou intervir e usar gás de pimenta para dispersar os dois grupos. Depois que a multidão foi dispersada, dezenas de agentes da lei vestidos com equipamentos de proteção foram vistos patrulhando as ruas, com pequenos grupos de manifestantes reunidos em bolsões nas ruas circundantes.

Segundo o presidente da Câmara de Vereadores da cidade, Mike Signer, a manifestação é racista, "uma parada covarde de ódio, preconceito, racismo e intolerância".