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Arábia Saudita retira proibição e permitirá que mulheres dirijam

Loujain al-Hathloul/AP
Imagem: Loujain al-Hathloul/AP

Do UOL, em São Paulo

26/09/2017 16h31Atualizada em 26/09/2017 20h50

A Arábia Saudita anunciou nesta terça-feira (26) que permitirá que as mulheres dirijam, acabando com uma política que se tornou um símbolo global da repressão das mulheres no reino ultraconservador.

A Arábia Saudita é o único país do mundo em que mulheres eram proibidas de dirigir. A mudança, que deve entrar em vigor em junho do ano que vem, foi anunciada pela TV estatal e durante um evento simultâneo em Washington. A decisão destaca o dano que a política de não-condução causou para a reputação internacional do país.

A Arábia Saudita, onde o Islã nasceu, é uma monarquia muçulmana governada seguindo a lei da Sharia. Funcionários sauditas e clérigos deram inúmeras explicações para a proibição para as mulheres ao longo dos anos.

O decreto real ordenou a formação de um órgão ministerial para dar conselhos dentro de 30 dias e então implementar a decisão até 24 de junho de 2018, de acordo com a agência de notícias estatal SPA.

Alguns chegaram a dizer que seria inapropriado na cultura saudita que uma mulher dirigisse um veículo, ou que motoristas do sexo masculino não saberiam como lidar com as mulheres nos carros próximos a eles. Outros argumentaram que permitir que as mulheres dirigissem provocaria a promiscuidade e levaria ao colapso da família saudita. Um clérigo afirmou --sem qualquer evidência-- que dirigir prejudicaria os ovários das mulheres.

Até agora, as mulheres não podiam dirigir na Arábia Saudita e precisavam contar com um motorista particular ou um familiar homem que as ajudasse em seus deslocamentos.

Grupos de direitos humanos fizeram uma longa campanha para que a proibição fosse revogada, e algumas mulheres chegaram a ser presas por desafiar a proibição.

As mudanças recentes na Arábia Saudita foram motivadas pela ascensão do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, 32, que delineou um plano de grande alcance para rever a economia e a sociedade do reino.

Apesar do anúncio, as mulheres não poderão dirigir imediatamente. O reino não tem infraestrutura para que as mulheres aprendam a dirigir ou obtenham licenças de motorista. A polícia também precisará ser treinada para interagir com as mulheres --em uma sociedade onde homens e mulheres que não estão relacionados raramente interagem.

Em 2011, várias mulheres foram detidas por terem dirigido seus automóveis na Arábia Saudita, dentro de um movimento impulsionado nas redes sociais e batizado como "Vou dirigir meu automóvel".

Na Arábia Saudita, as mulheres ainda não podem viajar fora do país sem serem acompanhadas por um homem da família ou tutor, entre outras restrições.

A decisão foi publicada dias depois que centenas de mulheres puderam ir no sábado, pela primeira vez, a um estádio de Riad para assistir às celebrações da festa nacional, com shows e queima de fogos de artifício.

"Estou muito animada e chocada ao mesmo tempo. Esperava que isso acontecesse em 10 ou 20 anos", disse Haya al-Rikayan, funcionária de 30 anos de um banco em Riad.

"É um dia muito feliz! Ainda não acredito. Só vou acreditar quando vir com meus próprios olhos", disse Shatha Dusri, funcionária da companhia petroleira Aramco em Dhahran, que reconheceu ter dirigido dentro de um complexo residencial fechado onde vive, mas nunca em um espaço público. (Com agências internacionais)