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O que uma vítima revela sobre assédio sexual nos "altos escalões políticos"

A ministra sueca das Relações Exteriores, Margot Wallstrom - Ivan Sekretarev/ AP
A ministra sueca das Relações Exteriores, Margot Wallstrom Imagem: Ivan Sekretarev/ AP

Do UOL, em São Paulo

31/10/2017 04h00

A ministra das Relações Exteriores da Suécia, Margot Wallstrom, em sua rede social, usou a hashtag #MeToo (#EuTambém), sinalizando que também seria uma vítima de agressão sexual. Pouco depois, ela revelou à imprensa que o episódio aconteceu "nos mais altos escalões políticos" durante um encontro entre líderes europeus. "Eu também experimentei isto [assédio sexual]", disse à agência de notícias TT.

A hashtag #MeToo foi lançada pela atriz Alyssa Milano com o objetivo de mostrar a dimensão do assédio sexual e que o problema vai muito além das acusações contra o produtor de Hollywood Harvey Weinstein.

Naquele momento, Wallstrom não quis dar detalhes de seu caso por se tratar de uma "perspectiva muito pessoal". Dias depois, no entanto, um depoimento dela dada ao jornalista sueco Jan Scherman e publicado no livro "Räkna med känslorna" ("Considere os sentimentos", em tradução livre), veio à tona sobre um incidente ocorrido em um jantar com vários líderes da União Europeia.

De repente eu senti uma mão na minha coxa. O homem ao meu lado na mesa começou a me acariciar. Isso foi surreal"

Depoimento de Wallstrom no livro

Wallstrom deixou o jantar e depois se encontrou com o então presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, e contou o caso. "Barroso considerou isso completamente inaceitável. Mas não sei se ele disse algo para a pessoa", disse Wallstrom.

Sobre as mulheres que têm compartilhado suas histórias de abuso, Wallstrom diz que esse tipo de apelo deve levar à ação. "Estas são mulheres e meninas corajosas do mundo todo. Mas também penso nisso na posição de política: o que fazer? Esse tipo de apelo não é suficiente, ele também tem que levar à ação."

Política externa feminista

Wallstrom foi integrante da Comissão Europeia e a primeira Representante Especial do Secretário-Geral da ONU para Violência Sexual em Conflitos.

Ao assumir o ministério das Relações Exteriores, em 2014, ela disse aos jornalistas que sua política na pasta seria "feminista". "Uma política externa feminista", segundo ela, "é uma análise do mundo."

livro sueco - Reprodução - Reprodução
Capa do livro do jornalista sueco Jan Scherman, que inclui relato de Wallstrom sobre assédio sexual sofrido durante jantar da UE
Imagem: Reprodução

A política exterior feminista busca assegurar os direitos e a participação da mulher no processo de tomada de decisões centrais, mesmo em negociações de paz. "Não é só um assunto de igualdade de gênero, mas também de desenvolvimento humano e de segurança. É uma maneira de alcançar sociedades melhores e mais sustentáveis", disse à BBC Eric Sundstrom, assessor político da ministra Wallstrom.

Assédio de colegas de trabalho

De acordo com uma pesquisa realizada em todo o bloco europeu pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia em 2014, o cenário mais provável para que uma mulher seja assediada fora de um relacionamento íntimo é o local de trabalho. Na Suécia, por exemplo, 43% das mulheres relataram ter sido assediadas sexualmente por colegas.

Diversos estudos sobre dinâmica sexual no local de trabalho apontam que mulheres em cargos de gerência são mais sujeitas ao assédio. Isso é comum porque elas podem ser a única mulher em um ambiente dominado por homens ou porque as mulheres em cargos de chefia são consideradas em desacordo com seu gênero.

Um relatório de 2012 publicado pela American Sociological Review descobriu que os alvos mais comuns são mulheres que ameaçam o status de homens nos cargos de chefia e gerência, por exemplo.