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"Não se concentre em mim", diz Trump a premiê britânica após compartilhar vídeo antimuçulmano

25.mai.2017 - A premiê britânica Theresa May e o presidente dos EUA, Donald Trump, durante encontro da Otan, em Bruxelas - Matt Dunham/ AP
25.mai.2017 - A premiê britânica Theresa May e o presidente dos EUA, Donald Trump, durante encontro da Otan, em Bruxelas Imagem: Matt Dunham/ AP

Do UOL, em São Paulo

30/11/2017 10h06Atualizada em 30/11/2017 10h41

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, rebateu a primeira-ministra britânica, Theresa May, no Twitter, depois que o Reino Unido o criticou por retuitar vídeos anti-islâmicos originalmente divulgados por um grupo britânico de extrema-direita.

No tuíte, em que Trump diz a May que ela deve se concentrar no terrorismo em vez de se focar nele, foi um ataque público sem precedentes à líder do mais próximo aliado nos EUA em questões de segurança.

"Theresa, @theresamay, não se concentre em mim, foque no destrutivo Terrorismo Radical Islâmico que está ocorrendo no Reino Unido. Estamos muito bem", escreveu Trump na rede social.

O tuíte foi uma reação a declarações do porta-voz de May, que disse na quarta-feira em resposta ao compartilhamento por Trump dos vídeos anti-islâmicos: "É errado que o presidente tenha feito isso".

Em resposta ao tuíte de Trump de hoje, o porta-voz da primeira-ministra disse que Theresa May está completamente focada em combater o extremismo. Perguntado se May está focada em combater o extremismo, seu porta-voz disse: "Sim".

"A grande maioria dos muçulmanos neste país são pessoas cumpridoras da lei que abominam o extremismo em todas as suas formas. A primeira-ministra tem sido clara...que onde o extremismo islâmico existe, ele deve ser combatido de frente. Estamos trabalhando duro para fazer isso tanto em casa como internacionalmente e...com nossos parceiros norte-americanos".

Trump provocou uma onda de críticas dos dois lados do Atlântico na quarta ao compartilhar vídeos anti-islâmicos publicados por Jayda Fransen, vice-líder do grupo anti-imigração britânico Reino Unido Primeiro, que foi condenada neste mês por abusos cometidos contra uma mulher muçulmana.

As imagens mostram atos de violência que supostamente foram cometidos por muçulmanos. Num dos vídeos, um garoto de muletas é agredido por outro rapaz, que seria um imigrante muçulmano. Em outro, um homem destrói uma imagem da Virgem Maria.

Um terceiro vídeo, filmado de longe, mostra um grupo de supostos muçulmanos agredindo um jovem no telhado de um prédio. Segundo a postagem de Fransen, o garoto foi espancado até a morte. As imagens ainda registram a vítima sendo lançada do alto de uma coluna.

Os três vídeos, publicados pela ativista ultradireitista britânica entre esta terça e quarta-feira, foram retuitados por Trump em sua conta pessoal no Twitter, sem acrescentar qualquer mensagem.

As imagens foram divulgadas sem contexto dos acontecimentos relatados e não fornecem elementos que possam comprovar a veracidade dos títulos atribuídos aos vídeos por Fransen.

O presidente americano não ofereceu qualquer explicação sobre por que compartilhou esses vídeos. Mais tarde, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, defendeu a atitude de Trump afirmando que ele deseja "promover uma fronteira forte e uma segurança nacional forte".

Questionada se o líder republicano teve a responsabilidade de verificar o conteúdo das imagens, Sanders respondeu: "Independentemente de o vídeo ser real ou não, a ameaça é real e é sobre isso que o presidente está falando. Não há nada de falso nisso".

Reações

As postagens de Trump no Twitter, que costumam seguir tom agressivo, foram condenadas por políticos britânicos e organizações islâmicas e de direitos humanos, que alertam que as imagens podem incitar à violência contra muçulmanos nos Estados Unidos.

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, disse que o presidente americano errou ao compartilhar os vídeos. "O Britain First procura dividir as comunidades através do uso de narrativas de ódio, que vendem mentiras e provocam tensões. Eles causam ansiedade em pessoas que cumprem a lei", disse um porta-voz em comunicado.

O texto ainda afirma que o "povo britânico, em sua maioria, rejeita a retórica preconceituosa da extrema direita, que é a antítese dos valores que este país representa: decência, tolerância e respeito". "É errado que o presidente tenha feito isso", conclui o governo em Londres.

A oposição britânica seguiu o mesmo tom. Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, descreveu os tuítes de Trump como "abomináveis, perigosos e uma ameaça à nossa sociedade".

O Conselho de Relações Islâmico-Americanas, maior organização de direitos civis muçulmanos nos EUA, afirmou: "Estas são ações que se pode esperar ver em sites anti-islâmicos que incitam ao ódio, não no Twitter do presidente dos Estados Unidos".

O Britain First (Reino Unido em primeiro lugar, em tradução livre) é um grupo de extrema-direita contrário à imigração e ao que chama de "islamização" do Reino Unido. Já lançou candidatos em eleições locais e nacionais, sem sucesso, e fez campanha contra a construção e expansão de mesquitas.

Os integrantes do movimento, que se consideram um partido político, mesmo não tendo representantes no governo, são acusados de promover a intolerância religiosa, também por meio do compartilhamento de conteúdo agressivo nas redes sociais.

Fransen, vice-líder do Britain First, também acumula acusações de intolerância. No ano passado, ela chegou a ser condenada a pagar uma multa pelo crime de assédio agravado pela religião, após ofender uma mulher muçulmana que vestia um hijab.

A britânica ainda responde a uma ação por ter usado "palavras ou comportamento ameaçadores, abusivos ou insultantes" durante um discurso na Irlanda do Norte, em agosto. Ela precisou prestar esclarecimentos às autoridades, mas pagou uma fiança e atualmente está em liberdade.

No Twitter, Fransen agradeceu a Trump por ter compartilhado as imagens. "Estou enfrentando [uma possível] prisão por criticar o islã. O Reino Unido é agora compatível com a sharia [lei islâmica]. Preciso de sua ajuda!", escreveu a ativista.