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Após pedido de prisão, Cristina acusa Macri de perseguição "inédita em tempos democráticos"

Do UOL, em São Paulo

07/12/2017 18h26

Após o pedido de prisão declarado pela Justiça argentina por traição à pátria, a ex-presidente Cristina Kirchner acusou o presidente Mauricio Macri e a Justiça do país de executar "manobras de perseguição inédita contra a oposição em tempos democráticos". Segundo ela, a acusação de traição à pátria feita contra ela é um insulto à inteligência dos argentinos e "viola o Estado de direito".

Cristina, que ocupou a presidência argentina entre 2007 e 2015, é acusada de "traição" por supostamente ter assinado um pacto com o Irã para encobrir altos funcionários iranianos suspeitos de envolvimento no caso. O acordo permitiria que autoridades iranianas suspeitas de ordenar o ataque fossem interrogadas por magistrados argentinos em Teerã, ao invés de em Buenos Aires. A prisão preventiva de Cristina foi pedida por suspeita de obstrução à investigação de um atentado contra a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), ocorrido em 1994. 

Em discurso nesta quinta-feira (7), Cristina atacou Macri diretamente, não só o responsabilizando pelas acusações e pelo pedido de retirada de foro privilegiado feito pela Justiça, mas acusando-o de usar o caso para ocultar os fracassos de suas políticas econômicas. "É uma grande cortina de fumaça que pretende intimidade e assustar a população, as pessoas nas ruas que querem protestar".

Segundo ela, o juiz segue ordens de Macri. "Macri sabe que é uma causa inventada e que não há crime. Buscam provocar dano pessoal e político aos opositores, contra suas trajetórias. Não tem nenhuma relação com a realidade". Durante todo o dia, Macri evitou comentar o pedido de prisão de Cristina

Cristina foi eleita senadora em outubro, o que lhe confere o foro privilegiado. Assim, para que seja presa, é preciso que o Congresso retire a sua imunidade. Mas, além de o Congresso estar em recesso, os peronistas --kirchneristas ou não-- já disseram que não pretendem votar a favor da perda de foro da ex-presidente. 

Cristina chamou a medida do juiz federal Claudio Bonadio de "desvario judicial". "Tudo é um despropósito, um verdadeiro excesso. É uma causa inventada sobre fatos que não existiram. Não há causa, não há delito, não há motivo", disse. Segundo ela, o caso envolve um ato de política externa não judicial que passou pela aprovação do Parlamento argentino.

Caso envolve morte de promotor

A investigação se baseia em uma denúncia apresentada pelo promotor Alberto Nisman em janeiro de 2015, quatro dias antes de ser encontrado morto com um disparo na cabeça em seu apartamento em Buenos Aires. A denúncia foi rejeitada e arquivada meses depois, mas reaberta no final de 2016 após a aparição da gravação em que o ex-ministro do Exterior de Kirchner recnonhece a um funcionário da Amia que o governo sabia da suposta responsabilidade do Irã no ataque.

O atentado contra a Amia foi o segundo ataque contra judeus na Argentina e deixou um saldo de 85 mortos e centenas de feridos. Antes dele, em 1992, 29 pessoas morreram quando uma bomba explodiu em frente à embaixada de Israel em Buenos Aires, em circunstâncias ainda por esclarecer.

O suposto envolvimento nas investigações sobre o ataque ao centro judaico representa a mais grave acusação contra Kirchner, que atualmente enfrenta julgamento em vários outros casos de corrupção e lavagem de dinheiro decorrentes de seus anos como presidente.