No Chile, papa Francisco diz sentir vergonha por pedofilia na Igreja e pede perdão às vítimas
O papa Francisco admitiu nesta terça-feira (16) sentir dor e vergonha pelos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja contra crianças no Chile, pedindo perdão e se comprometendo a apoiar as vítimas e a se esforçar para que os fatos que abalaram o país não voltem a acontecer.
Durante cerimônia no palácio presidencial de La Moneda, onde foi recebido pela presidente chilena, Michelle Bachelet, o papa fez seu primeiro pronunciamento no país, marcado por uma "mea culpa", em uma tentativa de recuperar a credibilidade da Igreja Católica no país.
"Aqui não posso fazer menos do que exprimir a dor e a vergonha que sinto perante um dano irreparável causado a crianças por parte dos ministros da Igreja. Desejo unir-me aos meus irmãos no episcopado porque é justo pedir perdão e apoiar com todas as forças as vítimas, enquanto devemos nos empenhar para que isso não se repita", disse Francisco.
O reconhecimento acontece no momento em que um grupo de fiéis mantém críticas contra um bispo chileno acusado de proteger um clérigo influente acusado de repetidos abusos sexuais contra menores.
Os escândalos levaram a algumas manifestações planejadas contra a presença do pontífice, que chegou na segunda-feira ao Chile para uma visita de quatro dias, nos quais irá se dirigir não só a católicos mais fervorosos, mas também a indígenas e imigrantes que pedem um tratamento mais justo em um país onde a desigualdade é um persistente flagelo.
Os protestos atingiram igrejas no país: nove delas já foram atacadas, incluindo três na madrugada após a chegada do papa.
Devotos acampam em parque onde missa será realizada
Nesta terça, o primeiro dia de agenda oficial do papa no país, Francisco ainda rezará uma missa no Parque O'Higgins, onde são esperadas cerca de 600 mil pessoas, e à tarde visitará um presídio feminino. À noite, a agenda será mais "religiosa", com reuniões com padres, seminaristas, freiras e bispos.
Desde a madrugada, milhares de devotos católicos acamparam com sacos de dormir e cobertores no Parque O'Higgins, uma das maiores áreas arborizadas de Santiago, para escutar à primeira grande missa do papa.
"Saímos muito cedo, viajamos de San Francisco de Mostazal (ao sul de Santiago), chegamos à 4h da manhã na entrada no parque. Chegamos aqui e não nos movemos mais", disse Angelina Soto, dona de casa de 67 anos, que viajou com sua filha e sua irmã.
"Acredito que isto vai mudar um pouco a comunidade dos chilenos, para que sejamos mais generosos, que a brecha social diminua um pouco, é o mais feio aqui no Chile", acrescentou.
Papa quebra protocolo na chegada ao Chile
O papa desembarcou na capital do Chile na noite de segunda-feira (15) e, ao chegar à Nunciatura, onde ficará hospedado nos três dias de viagem, já quebrou o protocolo e cumprimentou as pessoas que o aguardavam no local.
O avião do papa pousou às 19h20 no aeroporto da capital chilena, quase uma hora antes do previsto, e o pontífice foi recebido pela presidente Michelle Bachelet e três crianças.
Algumas das pessoas que o aguardavam, incluindo mães com crianças pequenas, chegaram a esperar até quatro horas para ver o líder católico.
Ao longo do percurso entre o aeroporto e a sede apostólica, Francisco foi saudado por milhares de pessoas. Ele fez o caminho com o papamóvel aberto e foi seguido pelo arcebispo da capital, cardeal Ricardo Ezzati Andrello.
Mais de 18 mil seguranças estão atuando na proteção ao papa. No contexto dos ataques contra igrejas, o esquema foi reforçado com a atuação de 15 mil voluntários.
Francisco ficará no Chile até o dia 18, passando ainda pelas cidades de Temuco e Iquique. Depois, parte para uma visita ao Peru, onde fica até dia 22, com compromissos em Lima, Puerto Maldonado e Trujillo.
Esta é a segunda visita de um papa ao Chile. O papa João Paulo 2º visitou o país em 1987, no rescaldo da ditadura de Augusto Pinochet, uma época marcada por violações dos direitos humanos e pela pobreza.
Mas agora Francisco visita uma nação que busca alcançar o matrimônio igualitário, igualdade para as mulheres, respeito à identidade de gênero e à imigração, através de iniciativas impulsionadas pela presidente socialista Michelle Bachelet. E também onde os católicos se reduziram em quase um terço nas últimas duas décadas, segundo pesquisa da Latinobarómetro. (Com agências internacionais)
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