Ricupero: Ideologia do governo Bolsonaro é tosca e pode prejudicar Brasil
O ex-ministro Rubens Ricupero questionou nesta sexta-feira (30) as motivações do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para se alinhar com os Estados Unidos, em contraposição à China, e declarou que uma "ideologia tosca e mal trabalhada" pode prejudicar o Brasil na relação com outros países a partir do próximo ano.
Diplomata de carreira, Ricupero foi embaixador do Brasil em Washington entre 1991 e 1993 e comandou os ministérios da Fazenda e Meio Ambiente durante o governo Itamar Franco (1992-1994). As críticas às posições de Bolsonaro aconteceram durante a conferência "Brasil-China: Propostas para o Futuro", realizada pelo Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) em São Paulo.
Mais tarde, em conversa com o UOL, ele explicou que essa associação entre o novo governo e a gestão Donald Trump pode prejudicar o país "de maneira grave".
"Nós devemos ter as melhores relações possíveis com EUA e China, mas sem tomar partido na rivalidade estratégica entre os dois. A causa dessa briga é os EUA querendo permanecer dominantes na Ásia, e isso não é nosso problema. Deve haver pragmatismo para perceber que o interesse brasileiro é comercial, de atrair investimentos dos dois lados."
Leia mais:
- Parceria Brasil-China está acima de ideologias, diz embaixador chinês
- Após críticas de Bolsonaro, Temer se compromete com Acordo de Paris
Segundo ele, a ideia de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém - defendida por Bolsonaro, meses após Trump ter feito o mesmo com a sede diplomática dos EUA em Israel - é um exemplo de medida que pode prejudicar o Brasil sem trazer nada em troca, e cuja explicação é somente ideológica.
"[A transferência] É uma ideia que não tem nenhuma justificativa racional, só vai nos causar danos. É muita ideologia, uma ideologia tosca, mal trabalhada. Qual a razão comprar briga de Israel? De atacar o Irã? O Irã e os países árabes em conjunto representam 49% da importação de carne de frango e boi", ressaltou.
De acordo com Ricupero, a ideologia do novo governo "importou coisas dos EUA com sotaque inglês". "Nem sequer tomaram cuidado de adaptar para uma roupagem brasileira", acrescentou.
O ex-ministro também disse esperar que o novo chanceler, Ernesto Araújo, "não seja marginalizado" e que o Itamaraty continue a ter um papel central no governo. Em seguida, ele criticou a viagem de Eduardo Bolsonaro aos EUA.
"Não houve contato com a embaixada do Brasil em Washington, e isso é muito preocupante. A embaixada representa oficialmente nosso país, então um cidadão, mesmo que um deputado, que tem contato com autoridades americanas à revelia da embaixada não está representando a política oficial do Brasil."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.