Macri foi mais duro do que Bolsonaro contra Maduro. E a razão é diplomática
Jair Bolsonaro (PSL) ganhou fama - e, em parte, até a cadeira presidencial - por não medir palavras e rejeitar o 'politicamente correto'. Mas ao receber sua primeira visita de Estado, na última quarta-feira (16), chamou a atenção por adotar um tom menos agressivo do que o correlato argentino, Maurício Macri, ao tratar do líder venezuelano Nicolás Maduro.
Mudança de postura? Desalinhamento? Nada disso. Segundo fontes ouvidas pelo UOL, o motivo da discrepância é simples: Bolsonaro seguiu o protocolo diplomático e priorizou, em suas falas, o convidado e o país dele -- ou seja, a Argentina.
Já Macri, recebido por Bolsonaro, teve a liberdade de tratar do assunto que escolhesse. O argentino destacou a Venezuela e chamou Maduro de "ditador" .
Segundo uma fonte do governo brasileiro, foi Macri quem decidiu usar o espaço para falar de Venezuela. E Bolsonaro, como anfitrião, fez palavras dirigidas ao seu visitante. E isso não significaria que o Brasil esteja menos preocupado ou tenha uma posição menos firme do que o país comandado por Macri, ressaltou a fonte, sob anonimato.
Na avaliação do embaixador Rubens Barbosa, Presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, Bolsonaro manteve-se alinhado às orientações dadas pelo corpo diplomático.
"A posição de Brasil e Argentina sobre a Venezuela é a mesma. Daí a fala no discurso de Bolsonaro sobre 'convergência de valores'. Quando isso é citado, Bolsonaro falava de Venezuela", afirma o diplomata.
Barbosa lembra ainda que ambos seguem as diretrizes adotadas pelo Grupo de Lima, que não reconhece a legitimidade do novo mandato de Maduro --o venezuelano tomou posse na semana passada, apesar dos protestos da comunidade internacional.
"A retórica de ambos é a mesma, mas ninguém vai tomar nenhuma providência de intervir na Venezuela. Quando o Grupo de Lima diz que reconhece a Assembleia Nacional como órgão legítimo, o que se faz é um apoio retórico", diz o embaixador.
Fontes do governo brasileiro confirmam que estão em contato com opositores venezuelanos, que tentam organizar uma grande manifestação em 23 de janeiro. A convocação de uma reunião na OEA (Organização dos Estados Americanos) também é cogitada pelos integrantes do Grupo de Lima.
Na avaliação de Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), criticar duramente a Venezuela também é um modo de Macri tentar criar um diálogo com Bolsonaro. "A Venezuela é muito mais importante para o Brasil do que para a Argentina, por conta da fronteira comum, dos refugiados e da cooperação na área de energia", diz o especialista.
"A questão principal do encontro foi encontrar um plano de trabalho conjunto para o Mercosul, que parece ocupar um lugar muito secundário na visão diplomática de Bolsonaro", avalia Santoro.
Macri tenta lucrar com Bolsonaro
Durante os discursos, Macri e Bolsonaro fizeram questão de demonstrar sintonia. O brasileiro elogiou os esforços de Macri para "reerguer a economia da Argentina e torná-la mais integrada ao mundo", apesar dos indicadores do país vizinho ainda patinarem.
Já o argentino frisou que "quando um [país] tem um bom momento, ajuda o outro. Precisamos que os dois tenham os dois bons momentos". "Nós dois fomos eleitos pelos nossos povos porque queriam mudanças de verdade", insistiu Macri.
Para o embaixador Rubens Barbosa, Macri tenta colar sua imagem à agenda econômica de Bolsonaro, vitoriosa nas urnas brasileiras.
"Os dois têm interesses na melhora da situação econômica do outro, porque ambos se beneficiarão. E como Macri vai disputar a reeleição este ano, está fazendo uma jogada política, se associando a um governo que está começando, que promete fazer uma abertura da economia, crescer entre 3% a 4% no ano. Se o governo Bolsonaro conseguir fazer isso, vai ser muito bom para a Argentina, e o Macri vai capitalizar em cima disso e tirar ganhos políticos disso", avalia o diplomata.
Mercosul mais "enxuto"
Bolsonaro defendeu um Mercosul mais "enxuto". A ideia é reduzir a burocracia do bloco, e os países-membros do bloco devem seguir negociando maneiras de colocar isso em prática.
O Brasil ainda defende uma reforma tarifária, com a redução da TEC (a tarifa externa comum). Além disso, o foco é a facilitação do comércio: o governo brasileiro espera que o acordo com a União Europeia (UE), citado por Macri e Bolsonaro como prioridade, saia do papel até o fim do ano.
Um acordo com os EUA também é visto com bons olhos, daí a ideia exposta por Macri e Bolsonaro de concluir as negociações pendentes para abrir novas frentes comerciais.
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