EUA e oposição começam semana aumentando pressão sobre Maduro
A disputa de poder na Venezuela esquentou neste domingo (27), que foi de grande articulação entre os EUA e a oposição venezuelana, representada por Juan Guaidó --o presidente da Assembleia Nacional que se autoproclamou presidente do país sem retirar Nicolás Maduro no poder. As duas forças iniciaram a semana com uma série de ações de pressão e deslegitimação do governo chavista.
Uma delas foi uma campanha junto aos militares na manhã de domingo. A oposição distribuiu nos quartéis o texto de uma lei aprovada no Parlamento que oferece garantias aos funcionários civis e militares que desobedeçam Maduro e auxiliem uma mudança de governo -- alguns estão chamando de "lei de anistia".
No mesmo dia, Maduro passou revista em vários quartéis do centro do país, onde supervisionou exercícios militares e recebeu o apoio de centenas de soldados.
A segunda medida foi a convocação, feita por Guaidó nas redes sociais, de protestos nacionais para esta quarta-feira (30). A terceira, já em parceria com os EUA, foi definir uma nova autoridade diplomática nos EUA em nome da Venezuela, indicada por Guaidó.
Os Estados Unidos também teriam transferido o controle de várias contas bancárias do Estado venezuelano a Guaidó -- a medida ainda não confirmada pelo presidente estadunidense Donald Trump.
Por fim, o autoproclamado presidente solicitou uma visita da ONU à Venezuela para comprovar as mortes denunciadas pelo opositor.
Protestos na Venezuela na próxima quarta
Guaidó convocou neste domingo duas manifestações, a primeira delas para esta quarta-feira (30). O objetivo será exigir que os militares fiquem ao lado dos cidadãos e permitam a entrada de ajuda humanitária.
Em mensagem divulgada através de suas redes sociais, o opositor chamou os venezuelanos a "saírem às ruas" em um "grande protesto nacional" a partir das 12h local (13h, em Brasília) para exigir que a Força Armada permita que a ajuda humanitária entre no país.
"Vamos fazer de maneira pacífica", pediu a seus simpatizantes, ao acrescentar que a jornada também terá como objetivo continuar entregando aos uniformizados o texto da lei que incentiva o não reconhecimento do governo Maduro.
Guaidó também convocou outra manifestação para o próximo sábado (2), sem dar mais detalhes -- a não ser que vai acontecer "nas ruas de toda Venezuela e todo o mundo".
Um novo "encarregado de negócios"
Segundo informe do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, neste domingo, os EUA aceitaram o opositor Carlos Vecchio como encarregado de negócios da Venezuela. Ele foi designado por Guaidó.
"O senhor Vecchio terá autoridade sobre assuntos diplomáticos nos Estados Unidos em nome da Venezuela", afirmou Pompeo, em um comunicado.
Pompeo disse que Vecchio se reuniu com o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, David Hale, "que reafirmou o firme apoio dos Estados Unidos à liderança do presidente interino Guaidó na Venezuela".
"Os Estados Unidos esperam, com interesse, trabalhar com o senhor Vecchio e com o pessoal diplomático designado pelo presidente interino Guaidó", declarou Pompeo.
Controle de contas nos EUA
Sem confirmação de Trump, o senador republicano Marco Rubio, influente na política da Casa Branca para a Venezuela, afirmou também neste domingo que o governo americano passou o controle de várias contas do Estado venezuelano sob jurisdição dos Estados Unidos a Guaidó.
"Os Estados Unidos deram o controle de contas bancárias no país do Governo venezuelano e do Banco Central Venezuelano ao governo legítimo do presidente interino @jguaido", escreveu Rubio em sua conta do Twitter.
Rubio acompanhou sua mensagem com um artigo de opinião no jornal The Wall Street Journal, cuja colunista afirmava que "na sexta-feira, os EUA deram ao senhor Guaidó o controle de contas do Governo venezuelano no Banco do Federal Reserva de Nova York e em outros bancos assegurados nos EUA".
O governo Trump não confirmou imediatamente a afirmação de Rubio, mas a Casa Branca já tinha antecipado que essa medida era uma possibilidade.
Com o reconhecimento de Guaidó, mudam as autoridades que "tomam legitimamente as decisões com relação às transações econômicas entre a Venezuela e os EUA, o que trará muitas consequências", explicou um funcionário da Casa Branca, que pediu anonimato, na quarta-feira passada.
Não está claro se a medida afeta todas as contas do Estado venezuelano nos EUA, que em alguns casos ficaram submissas a sanções econômicas de Washington.
Rubio, que esteve muito envolvido nas consultas com a Casa Branca sobre a Venezuela, previu também que nos próximos dias haverá mais detalhes sobre o futuro das transações relacionadas com o petróleo entre EUA e o país caribenho.
"Quase 75% do efetivo recebido pela PDVSA (a companhia petrolífera estatal venezuelana) (...) vem do petróleo que mandam a refinarias dos EUA (...) O que é lógico é que se siga comprando, mas que o dinheiro fique à disposição do governo legítimo" de Guaidó, disse Rubio à emissora Univisión.
Solicitação de visita da ONU
Ainda neste domingo e pelo Twitter, Guaidó solicitou à alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que visite o país para verificar as mortes atribuídas por ele às forças da ordem.
Ao deixar uma missa em memória dos 29 mortos nos protestos contra o governo Nicolás Maduro, o opositor pediu à ex-presidente do Chile que observe "o que está acontecendo com nossos jovens assassinados".
"Que apresse sua visita ao nosso país, para que seja testemunha presencial da grave crise em que vive todo povo venezuelano", tuitou Guaidó.
Ele também pediu aos militares que não reprimam as manifestações: "Não atirem contra o povo da Venezuela".
Guaidó também pediu informações sobre "quem está dando a ordem" de "assassinar".
"Acham que, torturando nosso povo, vão nos intimidar", disse Guaidó, que pediu uma "reunião de emergência" com ONGs, defensores dos direitos humanos e o Parlamento de maioria opositora para tratar da situação.
Neste domingo, a ONG de direitos humanos Provea denunciou a ação de um "esquadrão da morte", com ordens para "matar" e privar da liberdade "manifestantes em sua maioria de setores populares".
Na última quinta-feira (24), Bachelet pediu uma "solução política pacífica" na Venezuela e classificou a situação como "muito preocupante". A ex-presidente pediu diálogo para evitar mais "mortos e feridos" no país.
* Com agências internacionais
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