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"Me cansei de ficar calado", diz adido militar que rompeu com Maduro

26.jan.2019 - O coronel José Luis Silva, adido militar da embaixada da Venezuela nos Estados Unidos - Joshua Roberts/Reuters
26.jan.2019 - O coronel José Luis Silva, adido militar da embaixada da Venezuela nos Estados Unidos Imagem: Joshua Roberts/Reuters

Lucía Leal

Em Washington

27/01/2019 00h37

O coronel José Luis Silva, adido militar da embaixada da Venezuela nos Estados Unidos, disse neste sábado (26) que decidiu romper com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, porque se cansou de "ficar calado" diante do que considera o "suicídio de um país", e opinou que "falta pouco" para a transição no país sul-americano.

Em entrevista telefônica com a Agência Efe desde Washington, Silva explicou sua decisão de anunciar neste sábado, em vídeo distribuído nas redes sociais, apoio ao chefe da Assembleia Nacional (AN, Parlamento), Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente encarregado do país na quarta (23).

"O motivo é que me cansei de ver como pela comodidade fomos, sem querer ou por omissão, cúmplices de todas as barbáries que este governo cometeu em nome de sua revolução", afirmou o coronel da Guarda Nacional Bolivariana (GNB).

Silva está há cinco anos como agregado de Defesa na embaixada venezuelana em Washington e assegura que nunca gostou que as forças da ordem fossem usadas na Venezuela para "reprimir alguém porque protesta", e que seu "grupo de familiares e amigos" sabia de suas diferenças com o governo de Maduro nesse sentido.

"Agora, já me cansei de acompanhar e de ficar calado, porque na Venezuela o que estamos vivendo é o suicídio de um país, o suicídio de uma coletividade, de uma sociedade, e eu não vou ser cúmplice disso", sentenciou.

O anúncio de Silva coincidiu com a saída de vários diplomatas venezuelanos dos EUA, dado que Maduro ordenou fechar os consulados da Venezuela no país americano como consequência de sua decisão de romper as relações com Washington.

Mas Silva garantiu que ele não recebeu "nenhuma cessação de missão do governo da Venezuela" e que planeja permanecer em Washington a não ser que a autoridade à qual reconhece como presidente venezuelano, ou seja, Guaidó, lhe ordene o contrário.

"Eu continuo sendo o agregado de Defesa da Venezuela (...) e estou subordinado ao governo legítimo da Venezuela, não ao ilegítimo", ressaltou.

Apesar de um porta-voz da Casa Branca, Garrett Marquis, ter reagido rapidamente com um tuíte ao anúncio de Silva, o coronel negou ter coordenado sua decisão com Washington.

"Honestamente, não tive nenhum contato com o governo dos EUA e nem com nenhuma organização", indicou.

"Isto é um ato patriótico de um venezuelano que quer dizer ao mundo, e sobretudo aos meus irmãos das Forças Armadas, que basta, já está bom de seguir sendo o pilar de suporte de um Governo ilegítimo", acrescentou.

O coronel disse que falou "pessoalmente" com outros "oficiais" venezuelanos "que não estão de acordo com o presidente Maduro", e acredita que "eles também irão expressar o descontentamento com este regime".

"Os venezuelanos despertaram, o povo definitivamente perdeu o medo, e os militares e a Polícia Nacional, que têm as armas, já estão cansados de utilizar essas armas contra o povo", disse Silva.

"O primeiro passo é que já estão ignorando muitas ordens, eles não querem ir ou não vão reprimir muitas manifestações. Falta pouco", previu.

Perguntado pela resistência a abandonar Maduro entre o estamento militar, Silva respondeu: "Os que falaram é o ministro da Defesa com o seu alto comando. Essa gente não representa os militares e muito menos o povo da Venezuela".

O coronel afirmou que na Venezuela "há mais generais do que em países com exércitos cem vezes maiores", e dentro dessa confraria, "vai ser impossível que um comandante geral se rebele contra Maduro, ou um general que tenha muitas tropas".

"Mas o coronel, o tenente-coronel, o capitão, que tem uma filha doente porque não pode se alimentar bem, esse homem, esse sim vai sair às ruas e não vai atacar seu povo, como já vimos em manifestações que os militares deram as costas ao regime", opinou.

"Não atacaram o povo: por aí vai começar, por aí já começou", concluiu.