Após Brasília, Guaidó vai ao Paraguai e diz que volta à Venezuela até 2ª
Em entrevista coletiva concedida hoje no Planalto, após encontro com o presidente Jair Bolsonaro (PSL), o autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, afirmou que retornará ao país até a próxima segunda-feira (4). Neste meio tempo, o parlamentar deve visitar o Paraguai, onde fará mais um apelo para depor Nicolás Maduro.
Guaidó afirmou que vem recebendo ameaças "pessoais e familiares" por parte do governo de Maduro, mas quer voltar para o país, "mais tardar na segunda-feira". "A fórmula de perseguição desse regime não funciona, só faz atrasar uma transição democrática. Vou voltar para a Venezuela", disse.
O líder venezuelano destacou a liderança do Brasil em relação às negociações da Venezuela com o Grupo de Lima - espécie de conselho diplomático formado por chanceleres de países da América.
Agradeço a liderança do Brasil por seus valores fundamentais: democracia, liberdade e, também pensando no futuro, resgatar esse relacionamento entre os nossos povos
Guaidó reforçou que o encontro com Bolsonaro é o início de uma nova diplomacia entre os países sul-americanos. "É o começo de um relacionamento positivo entre a Venezuela e o Brasil, e a região", afirmou o deputado. "Hoje na Venezuela estamos lutando por eleições livres, no marco da Constituição. A exigência do povo da Venezuela é muito clara: viver em paz, encontra alimentos, trabalho, não caminhar pela fronteira."
"Toda a região está olhando para o futuro da Venezuela e do Brasil. É uma etapa nova para a região, para o Brasil, para a Venezuela e queremos que os países estejam mais próximos possível. Lamentavelmente tem gente morrendo por falta de alimento
Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela
Segundo Guaidó, a polarização entre "guerra e paz", supostamente implementada pelo chavismo, é apenas uma retórica do governo para desviar as atenções dos problemas do país. A ideologia, de acordo com o deputado, tampouco faz parte desse embate.
"Não é verdade que seja um dilema entre guerra ou paz como querem fazer acreditar. Não é verdade que seja um dilema entre uma ideologia ou outra. Na Venezuela, a questão é entre democracia e ditadura, entre a miséria, a morte por fome ou a volta ao caminho da prosperidade, do futuro e da integração da região", argumentou o opositor.
Para o parlamentar, o discurso de que querem tomar os recursos naturais da Venezuela também é apenas uma "retórica", já que boa parte do Grupo de Lima é parceira econômica da Venezuela.
"Isso de quererem tomar os recursos da Venezuela é apenas retórica. Os países que estavam na conferência [Grupo de Lima] são os nossos maiores clientes durante anos.
Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela
Forças Armadas, economia e corrupção
Questionado pelo fato do alto escalão militar ainda estar ao lado de Nicolás Maduro, Guaidó afirmou que muitos não deixaram o país por conta do medo do governo. "A verdade é que tem a ver com medo, perseguição, tortura", afirmou, ressaltando ainda a importância de uma notícia vinculada hoje que aponta que pelo menos 500 militares já teriam desertado. "É um número importante".
Segundo o deputado, o controle dos ativos estrangeiros das estatais venezuelanas está sendo importante para barrar esquemas de corrupção que estavam supostamente encrostados no governo. Na coletiva, Guaidó chegou a afirmar que apenas um funcionário do Tesouro venezuelano recebeu mais de US$ 1 bilhão em propinas. "Os ativos não têm só relação com economia, têm a ver com o futuro da nação", afirmou.
Guaidó argumentou que a transição democrática que julga necessária ao país tem relação também com os investimentos estrangeiros. "Está muito claro que, para ser viável, dar confiança à economia, é necessário voltar à democracia", disse. O parlamentar ainda afirmou que "vai respeitar" todos os acordos, referindo-se aos negócios que a Venezuela possui com China - a segunda maior economia do mundo - e Rússia, ambos apoiadores de Maduro.
Planalto não havia planejado Bolsonaro e Guaidó juntos
Inicialmente, o Planalto não planejou uma fala de Guaidó junto a Bolsonaro, mas o cerimonial acabou preparando um dos salões no segundo andar do palácio para a declaração à imprensa. Momentos antes de entrarem no espaço, ministros e aliados de ambos se posicionaram em assentos à frente dos dois púlpitos montados.
Do governo brasileiro estiveram presentes os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores). O deputado federal Marcel van Hattem (Novo) também se sentou nas cadeiras reservadas à comitiva brasileira.
Por parte dos venezuelanos, pelo menos dois deputados da sigla de oposição a Maduro, Voluntad Popular, -- Vontade Popular, em português, o mesmo de Guaidó - estiveram presentes. Eles não falaram com a imprensa no Planalto.
Guaidó entrou no salão para a declaração acompanhado de Bolsonaro e foi o primeiro a discursar. Ele iniciou agradecendo "profundamente em nome de todo o povo" venezuelano e disse que o encontro é um marco importante para seu país. Ele reiterou, ao longo da fala, ser o começo de um relacionamento positivo entre a Venezuela, o Brasil e demais países da região.
"Essa reunião é um marco para resgatar um relacionamento positivo que beneficie ao nosso povo, não a uma empresa ou a um pequeno grupo político, mas realmente a nossa gente", afirmou.
O presidente autoproclamado citou o esforço brasileiro em enviar ajuda humanitária e defendeu as ações em Pacaraima, em Roraima, e em Cúcuta, na Colômbia. Na semana passada, o Grupo de Lima se reuniu em Bogotá, capital colombiana, a fim de discutir a situação no país vizinho.
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