Crianças, goleiro e refugiado sírio: as vítimas do ataque na Nova Zelândia
Os nomes de algumas das 50 vítimas do atentado a duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, começaram a ser divulgados por colegas e familiares --a polícia neozelandesa ainda não emitiu nenhuma nota oficial com as identificações dos mortos. Entre elas, estão um menino de 3 anos --a vítima mais jovem--, um goleiro da seleção de futsal e um refugiado sírio com sua família.
Autoridades dizem que tentam acelerar a identificação das vítimas do massacre para assegurar que as famílias possam sepultá-las de acordo com as tradições islâmicas --a religião pede que a pessoa seja enterrada o mais breve possível após a sua morte, preferencialmente dentro de 24 horas. A previsão, segundo o governo, é que os corpos sejam entregues aos familiares até a quarta-feira.
Conheça as histórias de algumas das vítimas:
A vítima mais jovem morreu ao se desgarrar da família
Mucaad Ibrahim é a vítima mais jovem do ataque. O menino acompanhava o irmão mais velho e o pai durante as orações na mesquita Al Noor, o primeiro local atacado. Acabou se tornando um alvo fácil em meio ao caos provocado pelo supremacista branco Brenton Tarrant, 28. Seu corpo foi reconhecido pelo irmão hoje, quase 48 horas depois do atentado.
Mucaad era uma criança alegre e cheia de energia, que sempre parecia estar rindo, disse o irmão Abdi Ibrahim às agências de notícias. "E ele era brilhante, com uma afinidade pela tecnologia. Seu brinquedo preferido era um iPad", contou.
O menino estava em frente ao irmão, ouvindo o líder religioso, quando uma chuva de balas interrompeu as orações. Todos começaram a correr. Abdi pensou que seu pai estaria com Mucaad. Na pressa e em meio ao desespero das pessoas, o trio se separou. Essa foi a última vez que Abdi viu seu irmãozinho. Depois de uma busca angustiante da família, a polícia confirmou que Mucaad estava morto.
O goleiro da seleção de futsal da Nova Zelândia
Atta Elayyan, 33, era goleiro da equipe nacional de futsal do país. Nasceu no Kuwait e, além de atuar como atleta profissional, era CEO de uma companhia de tecnologia. Casado, tinha uma filha pequena (com ele na imagem acima). Também foi atingido dentro da mesquita Al Noor, onde a maior parte das 50 vítimas foi baleada.
O pai de Atta, Mohammed Elayyan, que ajudou a fundar a mesquita de Al Noor em 1993, também morreu no atentado.
A família que fugiu da Síria
O sírio Khaled Mustafa estava na mesquita com seus dois filhos para as orações de sexta-feira quando o atirador abriu fogo. Ele fugiu de seu país natal para a Nova Zelândia com a mulher e três filhos no ano passado, pensando que era um local seguro. Um de seus filhos foi ferido no ataque; o outro está desaparecido.
A mulher e a filha de Khaled estão em choque, segundo afirma a organização Solidariedade Síria na Nova Zelândia. Mesmo abalada, a mãe ainda precisa cuidar do filho de 13 anos hospitalizado, que já passou por uma cirurgia após ser ferido.
Marido viu a morte da mulher pelo Facebook
Farid Ahmed e sua mulher de 45 anos, Husna Ahmed, se separaram para ir ao banheiro pouco antes de o atentado na mesquita Al Noor ter início.
O terrorista transmitiu a matança pelo Facebook, então Farid viu pelas imagens que Husna havia sido baleada. Além disso, a foto do corpo da mulher foi espalhada pelas redes sociais. Mais tarde, a polícia confirmou que ela estava entre os mortos.
Quando o ataque começou, Husna ajudou a salvar algumas crianças e mulheres. "Ela voltou para me procurar, porque eu estava em uma cadeira de rodas. Quando ela estava se aproximando do portão, foi baleada. Ela estava ocupada salvando pessoas e se esqueceu da própria vida", conta o marido.
Farid, que assim como a esposa nasceu em Bangladesh e chegou à Nova Zelândia há 30 anos, não pensa em deixar o país mesmo após a tragédia. "Acredito que algumas pessoas estão tentando quebrar a harmonia que temos com a diversidade na Nova Zelândia", disse.
"Mas eles não vão ganhar. Nós conseguiremos manter a harmonia", afirmou o viúvo. Farid diz ainda que perdoa o assassino. "Perdi minha mulher, mas não odeio o atirador", diz.
O caçula somali
Quatro dos cinco filhos de Adan Ibrahin Dirie conseguiram escapar dos atentados. Mas o caçula de 4 anos, Abdullahi, está entre os mortos.
O pai do menino também foi ferido no ataque. A família fugiu da Somália no começo da década de 1990 e vivia com status de refúgio na Nova Zelândia desde então.
O homem que sustentava sua família no Paquistão
Syed Areeb Ahmed, 26, deixou a família em Karachi, no Paquistão, para trabalhar na Nova Zelândia --assim, poderia ajudá-los financeiramente. Religioso, era filho único.
"A educação sempre foi a sua prioridade", disse Muhammad Muzaffar Khan, seu tio. "Ele foi recentemente para a Nova Zelândia, onde conseguiu o emprego. Ele tinha apenas começado sua carreira, mas tiraram sua vida", afirmou o tio.
Até agora, além de Syed, outros oito paquistaneses mortos foram identificados por diferentes fontes: Zeeshan Raza; o pai, Ghulam Hussain, e a mãe, Karam Bibi; Sohail Shahid; Syed Jahandad Ali; Mahboob Haroon; Naeem Rashid e seu filho, Talha Naeem.
O professor que tentou conter o terrorista
Entre os paquistaneses mortos, está o professor Naeem Rashid. Ele aparece no vídeo do massacre transmitido no Facebook tentando deter o atirador. O professor, procedente da cidade paquistanesa de Abbottabad, se instalou em Christchurch em 2009 para cursar um doutorado. Ele foi levado a um hospital, onde morreu devido aos seus graves ferimentos.
Rashid tinha passagem comprada para visitar a família no Paquistão em maio. "Ele foi muito corajoso. Tentou pegar a arma do terrorista e salvou muitas vidas", disse Mohammad Khursheed, que mora no Paquistão.
O fugitivo da guerra soviética no Afeganistão
Haji Daoud Nabi, 71, se mudou com sua família para a Nova Zelândia em 1977, para escapar da guerra soviético-afegã. Ele liderava uma associação que ajudava refugiados a se estabelecer no novo país.
Segundo o filho de Haji, Yama al-Nabi, o pai foi morto ao se atirar na linha de fogo para defender outras pessoas.
O filho de Haji escapou do atentado ao se atrasar para um encontro com o pai na mesquita.
* Com agências internacionais.
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