França, socialismo, Amazônia: as polêmicas de Bolsonaro na ONU
Resumo da notícia
- Bolsonaro fez duras críticas aos governos do PT
- Tambéma atacou Cuba e o "Mais Médicos"
- Ao falar de Amazônia, deu indiretas a Macron
- Para ele, floresta "permanece intocada"
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) usou seu discurso na manhã de hoje na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, para fazer ataques ao socialismo, a Cuba e a Venezuela e mandar indiretas a líderes europeus como o presidente da França, Emmanuel Macron, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
Bolsonaro ainda criticou o que classificou de "ataques sensacionalistas da mídia estrangeira", disse ter "compromisso solene" com a preservação do meio ambiente e afirmou que a Amazônia está "praticamente intocada", o que não é verdade. Também declarou ser uma "falácia" a afirmação de que a Amazônia é patrimônio da humanidade.
A previsão era que o discurso de Bolsonaro, que se recupera de cirurgia, durasse 20 minutos, mas ele falou ininterruptamente por 31 minutos.
Veja, abaixo, os principais pontos do discurso e as polêmicas envolvidas em cada um deles.
Ataques ao socialismo
Com duras críticas aos governos do PT, Bolsonaro associou os anos em que o partido esteve no poder ao que classificou como uma proximidade do socialismo.
- "Apresento aos senhores um novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo. Um Brasil que está sendo reconstruído a partir dos anseios e dos ideais de seu povo"
- "Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições"
Ataques a Cuba
- "Em 2013, um acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma comprovação profissional. Foram impedidos de trazer cônjuges e filhos, tiveram 75% de seus salários confiscados pelo regime e foram impedidos de usufruir de direitos fundamentais, como o de ir e vir. Um verdadeiro trabalho escravo, acreditem. Respaldado por entidades de direitos humanos do Brasil e da ONU"
O Mais Médicos foi criado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) com a intenção de ampliar a presença de médicos no interior do Brasil. O programa, de fato, dispensava a revalidação de diplomas no Brasil para médicos estrangeiros.
No ano passado, cerca de 8 mil médicos cubanos ocupavam as vagas do programa, pouco antes de Cuba anunciar sua saída. Outras 6 mil eram ocupadas por brasileiros (formados dentro e fora do país).
Os cubanos do Mais Médicos eram convocados por meio de um acordo internacional com a Opas (Organização Panamericana da Saúde), que era responsável por receber o valor dos salários dos profissionais. Com isso, Cuba pagava cerca de um quarto aos médicos e retinha o restante.
Indiretas a Macron
Ao defender a soberania do país, Bolsonaro direcionou críticas ao presidente da França, Emmanuel Macron, mesmo sem nomeá-lo.
- "Problemas [para preservar o meio ambiente] qualquer país os tem. Contudo, os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional devido aos focos de incêndio na Amazônia despertaram nosso sentimento patriótico"
- "É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo"
- "Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista".
O presidente francês se tornou uma das vozes mais críticas à política ambiental do governo Bolsonaro -desde então, os dois vêm protagonizando duros embates.
A fala de que a Amazônia é o pulmão do mundo, citada por Bolsonaro, foi publicada por Macron em seu Twitter.
Defesa da soberania brasileira e da Amazônia
- "Nossa Amazônia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada"
- "Quero reafirmar minha posição de que qualquer iniciativa de ajuda ou apoio à preservação da Floresta Amazônica, ou de outros biomas, deve ser tratada em pleno respeito à soberania brasileira"
- "Ela [Amazônia] não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia. Cada um de vocês pode comprovar o que estou falando agora"
- "Não estamos aqui para apagar nacionalidades e soberanias em nome de um "interesse global" abstrato"
Dados de diferentes órgãos e entidades apontam para um aumento no número de queimadas na Amazônia pelo menos desde junho deste ano. Em agosto, produtores rurais do Pará organizaram o "dia do fogo", quando incendiaram, em conjunto, áreas da Amazônia.
No mesmo mês, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento na Amazônia aumentou 222% em comparação com o mesmo período no ano passado.
Aceno a Moro
Após um período conturbado nas relações entre Bolsonaro e Sergio Moro, no mês passado, o presidente volta a enaltecer seu ministro de maior popularidade.
Crítico contumaz do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro lembrou, ainda, que foi Moro o juiz responsável por julgar e mandar prender o petista. Hoje ministro, Moro era o juiz responsável pelos casos da Operação Lava Jato em primeira instância.
- "Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto. Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o Dr. Sergio Moro, nosso atual Ministro da Justiça e Segurança Pública"
Reservas indígenas
- "Hoje, 14% do território brasileiro está demarcado como terra indígena, mas é preciso entender que nossos nativos são seres humanos, exatamente como qualquer um de nós. Eles querem e merecem usufruir dos mesmos direitos de que todos nós. Quero deixar claro: o Brasil não vai aumentar para 20% sua área já demarcada como terra indígena, como alguns chefes de Estados gostariam que acontecesse"
- "A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia"
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