Chile não tem vice, e 'número 2' é primo do presidente Piñera
Resumo da notícia
- No Chile não há o cargo de vice-presidente
- Quem assume o cargo é o ministro do Interior
- O atual ministro do Interior é Andrés Chadwick Piñera, primo do presidente
- Chadwick, 63, foi entusiasta da ditadura Pinochet e é alvo de pedidos de renúncia
A Constituição chilena extinguiu a função de vice-presidente da República em 1833. Desde então, o Ministro do Interior e Segurança Pública assume a presidência durante os períodos de ausência do titular.
A figura do "plano B" ao presidente atual do Chile, Sebastián Piñera, ganhou relevância nos últimos dias: o país enfrenta os maiores protestos desde a volta da democracia, em 1990, e agora os manifestantes querem a renúncia do presidente. O país já registra ao menos 19 mortes e 2840 prisões em decorrência das manifestações.
Também está na mira dos protestos o ministro do Interior, "número dois" do governo, o advogado e político chileno Andrés Chadwick Piñera. Ele é primo do presidente. Se o presidente e o ministro do interior caírem, assume o presidente do Senado.
Chadwick: mais à direita e mais polêmico
Chadwick Piñera é filiado à União Democrata Independente (UDI), partido mais à direita da coalizão de centro-direita que elegeu Sebastian Piñera - eleito presidente pela segunda vez em março de 2018.
Chadwick é um dos nomes mais polêmicos do governo de Piñera e sua renúncia está sendo pedida pela oposição chilena em virtude de sua atuação frente aos protestos iniciados semana passada, repelidos com extrema violência pela polícia e objeto de inspeção do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, que começará na próxima semana.
Ao ser questionado por parlamentares de oposição na última quarta-feira (23), Chadwick disse que não tinha "responsabilidade política nenhuma" pela violência. Uma deputada lhe mostrou, durante a sessão, fotos de dois mortos nos protestos e o ministro sorriu, segundo seus adversários, o que provocou uma nova onda de pedidos de renúncia, resumidos na hashtag #renunciaChadwick.
Não é a primeira vez que pedem a cabeça de Chadwick. Em novembro do ano passado, após o episódio do assassinato do líder mapuche Camilo Catrillanca, no sul do país, ele foi alvo de protestos.
Em abril deste ano, outra polêmica envolvendo o primo de Piñera: a revelação de conversas de whatsapp com o prefeito de Rancágua (região por onde Chadwick já foi eleito deputado) pedindo que ele apoiasse um promotor que recebeu uma sanção por investigar incêndios também provocou novos pedidos de demissão do ministro.
Passado pinochetista
Chadwick foi um jovem apoiador da ditadura de Pinochet, tendo sido nomeado, em 1979, pelo ditador para o cargo de presidente da Federação dos Estudantes da Universidade Católica do Chile.
Anos antes, em 1977, ele teria participado, segundo o jornal Mercurio, do simbólico encontro promovido pela Frente Juvenil de Unidade Nacional no topo do morro de Chacarillas. Em 1981, Chadwick foi eleito presidente da Frente.
Em 1988, Chadwick posicionou-se enfaticamente contra as eleições para presidente no plebiscito que definiu um prazo final para a ditadura militar, iniciada com o sangrento golpe de 11 de setembro de 1973. Seu primo, o presidente, apesar de ser um político de direita, era contrário à ditadura e votou "No" ao regime de Pinochet.
Chadwick disse à época que aqueles que votariam no "No" somente para votar contra Pinochet deveriam perguntar-se antes de fazê-lo se estão dispostos a ajudar que o país paralise economicamente".
Em 1983, contudo, o "vice" de Piñera disse, em entrevista ao jornal Mercúrio, que era de esquerda, "como todo jovem", e que simpatizava com o governo de Salvador Allende, deposto pelo general, e que queimou no quintal todas as coisas que havia em sua casa e que o associavam ao MAPU (Movimento de Ação Popular Unitária), no qual militava antes do golpe, e que apoiava o socialista.
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