Festa por vitória de Fernández tem críticas a Bolsonaro e "Lula livre"
Resumo da notícia
- Argentinos foram às ruas comemorar a eleição Alberto Fernández
- Apoiadores criticaram o atual presidente Macri e Bolsonaro
- Alguns também defenderam Lula e pediram sua liberdade
"Que em paz descanse", dizia a placa luminosa levantada por uma manifestante em referência à derrota do presidente Mauricio Macri nas eleições presidenciais deste domingo (27). Trata-se da agente imobiliária Eva Giglio, que foi até o palco montado do lado de fora do comitê do peronista Alberto Fernández para comemorar a vitória na votação.
Ela diz que o país viveu quatro anos de tristezas, com falta de dinheiro e trabalho, e que agora os argentinos vão "voltar a ser felizes". "O neoliberalismo vai embora para sempre", diz, criticando não só o presidente argentino. "O Macri está indo embora e espero que no Brasil o Bolsonaro vá também", diz
Fernández, que logo após as primárias tinha trocado farpas com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PSL), mas que parou de fazer comentários sobre ele, disse no discurso de sua vitória em primeiro turno, que é preciso continuar pedindo a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Lula Livre", completou ele, que mais cedo já tinha dado parabéns, em uma rede social, ao ex-presidente brasileiro, que fez aniversário neste domingo.
O dia também marcou a lembrança da morte do ex-presidente argentino Néstor Kirchner. Carregando um grande cartaz com a imagem de Kirchner, Germán Rivero diz com orgulho que os argentinos se cansaram do governo Macri e que agora o país voltou ao "populismo".
"Apoiamos o Néstor aqui, o Lula no Brasil, o Evo na Bolívia", diz ele, que pede a união dos latino-americanos.
Lula é lembrado por apoiadores de Fernández
Para Rivero, "julgaram mal o Lula e o povo brasileiro tinha que reagir". Ao seu lado, sua filha Agustina Rivero, disse que será ruim se continuar o conflito entre Fernández e Bolsonaro, mas que não gosta de escutar as falas do presidente brasileiro: "É impossível não ficar brava com um presidente assim".
Ela conta que era estudante de psicologia na Universidade de Buenos Aires, mas teve que abandonar o curso porque já não conseguia se sustentar. Já os pais tinham uma loja de roupa, que acabou fechando. A família atribui ambos os episódios ao atual governo.
Entre cânticos peronistas e palavras de ordem contra Macri, um grupo de jovens, que levou um cooler com bebidas ao local de comemoração, contou à reportagem que são amigos de bairro e de diferentes profissões.
"Nunca passei nenhuma dificuldade, mas muita gente próxima a mim sofreu. É uma alegria muito grande a volta de um sistema econômico inclusivo, já que o atual é muito excludente. Por isso viemos", disse o professor de eletrônica Gabriel Gabis.
Presença LGBT e Marielle
Entre os apoiadores de Fernández, o músico chileno Vicente Quintreleo agitava uma bandeira LGBT. Residente na Argentina desde 2011, ele citou os protestos no em seu país para afirmar que a esquerda progressista está voltando a ocupar um papel fundamental na política latino-americana.
"O kirchnerismo foi muito progressista em temáticas LGBT", explica, mencionando a aprovação da lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Outra apoiadora do kirchnerismo disse à reportagem estar lá pelo futuro dos filhos. "Sabíamos que não estávamos errados, que o Macri tinha que ir embora, que isso tinha que terminar. Foram quatro anos de terror, sofrimento, angústia, de dor, de ver as pessoas muito mal", disse ela, que carregava uma boneca de Cristina Kirchner.
"Estar aqui é uma festa para nós, não dá para acreditar", conclui.
Com uma camiseta onde se lia em espanhol "lute como Marielle Franco", vereadora carioca assassinada no ano passado, a tradutora Isabela Gaia estava entre outros brasileiros no meio da multidão que comemorava a vitória de Fernández.
Ela integra o Coletivo Passarinho, criado à época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff para denunciar os acontecimentos no Brasil, e conta que votou pela primeira vez no país, onde mora há nove anos.
"Desde as primárias, veio essa esperança de uma guinada para a América Latina. O Macri também foi um dos primeiros a começar essa guinada para a direita, então é muito simbólico para o Brasil que se esteja revertendo essa situação na Argentina", diz.
Segundo ela, "é possível analisar um pouco da queda de popularidade do Macri muito voltada ao medo que se tem de chegar a um Bolsonaro. As pessoas aqui falam muito isso, escutamos o tempo inteiro. Então o apoio dele já está reverberando para a sociedade argentina", acredita.
Para ela, depois de "toda 'demonização' do kirchnerismo, que pode ser comparada à 'demonização' do Partido dos Trabalhadores no Brasil", chama atenção uma reversão tão rápida e a volta do kirchnerismo ao poder. "Talvez a sociedade esteja tendo outra percepção do que é um governo para o povo", conclui.
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