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Eleições na Argentina: Fernández e Kirchner vencem Macri no primeiro turno

Do UOL, em São Paulo

27/10/2019 21h54Atualizada em 28/10/2019 08h40

Resumo da notícia

  • Fernández venceu a disputa contra Macri no primeiro turno
  • Vice eleita é Cristina Kirchner, que comandou o país antes de Macri
  • Bolsonaro diz que não irá cumprimentar o argentino pela vitória
  • Macri reconhece a vitória de Fernández, com quem terá reunião nesta 2ª

A Argentina foi às urnas neste domingo (27) e elegeu presidente o candidato de oposição, Alberto Fernández, em primeiro turno. Com 95,31% das urnas apuradas, Fernández registrava 47,99% dos votos, contra 40,48% de Mauricio Macri, atual presidente do país. O eleito terá como vice a ex-presidente Cristina Kirchner, que comandou o país entre 2007 e 2015.

Nas primeiras palavras após a vitória, já reconhecida por Macri, Fernández aproveitou para pedir ao atual governo para que, quando passar à oposição, "seja conscientes do que deixou" e "ajude a reconstruir o país das cinzas".

"Tomara que esse compromisso de diálogo que nunca tiveram passem a ter", afirmou Fernández diante de uma multidão de simpatizantes no quartel-general de coligação Frente de Todos, no bairro de Chacarita, em Buenos Aires. O presidente eleito terá um encontro com Macri nesta segunda (28).

A vitória da chapa de esquerda era esperada desde as eleições primárias, em 11 de agosto, quando superou a de Macri por 15 pontos percentuais.

Para vencer em primeiro turno na Argentina, basta que o primeiro colocado alcance 45% dos votos, ou 40% se a vantagem para o segundo candidato for de pelo menos 10 pontos percentuais.

27.out.2019 - Cristina Kirchner e Alberto Fernández na comemoração em Buenos Aires da vitória de sua chapa na eleição presidencial da Argentina - Martin Zabala - 27.out.2019/Xinhua - Martin Zabala - 27.out.2019/Xinhua
Cristina Kirchner e Alberto Fernández na comemoração em Buenos Aires da vitória de sua chapa na eleição presidencial da Argentina
Imagem: Martin Zabala - 27.out.2019/Xinhua

Fernández é desafeto de Bolsonaro

A vitória de Fernández e Kircher contraria a vontade do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL), aliado de Macri. Ele já disse que não irá cumprimentar o argentino pela vitória.

"Agora não vamos nos indispor. Vamos esperar o tempo para ver qual é a real posição dele na política. Porque ele vai assumir, vai tomar pé do que está acontecendo e vamos ver qual linha ele vai adotar", declarou o presidente brasileiro.

Em agosto, Bolsonaro chegou a dizer que o Rio Grande do Sul poderia se transformar em "um novo estado de Roraima" se houvesse a vitória de Fernández, ligado à esquerda. Roraima faz fronteira com a Venezuela e sofre com o intenso fluxo de imigrantes vindos do país, que sofre com a crise econômica.

O brasileiro chegou a afirmar, na semana passada, que a retomada da esquerda no país vizinho poderia colocar em risco o Mercosul —bloco comercial fundado em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Em agosto, Bolsonaro disse que RS poderia virar RR com vitória de Fernández

UOL Notícias

Fernández é um aliado da esquerda brasileira. Ele defende que Lula é um preso político e foi visitá-lo na prisão em julho deste ano, durante a campanha. Logo após as primárias argentinas, o presidente eleito argentino chamou Bolsonaro de racista e misógino.

Argentina - Ricardo Moraes/Reuters - Ricardo Moraes/Reuters
Vitória de Fernández foi no nono aniversário de morte de Nestor Kirchner, ex-presidente da Argentina e marido de Cristina; Nestor foi lembrado na comemoração da vitória
Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Argentina enfrenta crise econômica e social

Derrotado hoje, Macri herdou de Cristina Kirchner um país em ritmo acelerado de endividamento, com controle cambial e economia fechada. Ao assumir a presidência, no final de 2015, iniciou uma política econômica de menor intervenção estatal e prometeu zerar a pobreza, mas não conseguiu reverter o cenário de crise: o índice de pobreza na Argentina é o maior da década e a expectativa o FMI (Fundo Monetário Internacional) é que o país tenha inflação acumulada de 57% em 2019.

Ainda assim, Macri era visto como o candidato favorito do mercado financeiro. Em 12 de agosto, dia seguinte à derrota do liberal nas eleições primárias, o peso argentino desvalorizou 30% em relação ao dólar. Mauricio Macri chegou a anunciar um pacote de medidas intervencionistas para tentar recuperar a popularidade, mas não foi o suficiente.

Para tranquilizar o mercado e credores internacionais, Alberto Fernández se comprometeu durante as eleições a não dar um calote nas dívidas públicas.

No discurso da vitória, o presidente eleito reassumiu o compromisso de cumprir todas as propostas que fez durante a campanha eleitoral, entre elas reativar a economia e gerar empregos como chaves para tirar o país da crise. "Daqui em diante só nos resta cumprir o prometido. Saibam os argentinos que cada palavra que demos e cada compromisso que assumimos foi um compromisso moral e ético sobre o país que devemos cumprir", acrescentou.

Fernández foi chefe de gabinete de Nestor Kirchner, ex-presidente da Argentina e marido de Cristina. Nestor faleceu em 27 de outubro de 2010. "Não seria justo que hoje não reconhecesse o que fez por nós e a enorme possibilidade que me deu", afirmou Fernández.

(Com EFE e AFP)