Sem voos, brasileiros ficam desabrigados em Portugal: "Acabou o dinheiro"
Resumo da notícia
- Em Portugal, um grupo de brasileiros enfrenta uma série de problemas, devido ao cancelamento de voos, e não consegue voltar ao Brasil
- Eles revelam que o dinheiro acabou para muitos deles, e alguns afirmam que não têm mais para onde ir ou com quem buscar auxílio
- O Itamaraty informa ter atuado para repatriar, apenas no último fim de semana, 2.840 brasileiros em Portugal e em outros países
Um grupo de brasileiros está dividido nas cidades de Porto e Lisboa, em Portugal, enfrentando uma série de problemas, devido à suspensão e ao cancelamento de voos no país europeu. Alguns estão há quase duas semanas tentando o retorno. Eles revelam que o dinheiro acabou para muitos deles, e alguns afirmam que não têm mais para onde ir ou com quem buscar auxílio.
A reportagem do UOL foi convidada a ingressar em um grupo de Whatsapp com 177 brasileiros "presos" em vários locais. Eles trocam informações a todo instante, apelam em busca de uma solução para voltar ao país e reclamam do abandono das autoridades brasileiras.
A vendedora Silvia Carvalho saiu de São Paulo e chegou à cidade do Porto no dia 3 de março. Com passagem marcada de volta apenas para maio, ela pretendia trabalhar no país ibérico até seu retorno, mas desde o dia 16, com o agravamento da crise pela pandemia de covid-19, tentou antecipar sua volta ao Brasil.
Como não conseguiu, Carvalho encara uma dura realidade: não tem dinheiro, nem mais para onde ir. "Estava em uma casa, mas acabou o dinheiro e vou ter que sair. Estou sem uma esperança, só tenho medo de ficar aqui sem nada", revela.
A vendedora conta que buscou ajuda do consulado brasileiro em Portugal. "Fui lá hoje e me deram 20 euros. Falaram que não podem fazer nada", diz. "Estou aqui sozinha, tenho pressão alta e estou com medo de [ter] um AVC [Acidente Vascular Cerebral]", revela a mulher de 55 anos, que viajou só.
"Queria muito ir para casa. Minha mãe ficou abalada e está com uma válvula do coração parada, vai ter que operar. Ela tem 78 anos, e meu irmão está com ela", conta.
"É surreal"
A advogada mineira Claudinéia de Souza Araújo é outra que enfrenta problemas. "Desde o dia 18 que meu voo foi cancelado, e estamos no aguardo", conta, citando que está "abrigada por um advogado amigo". "É surreal o que estamos passando."
Ela revela que muitos estão tentando ir para o aeroporto de Lisboa em busca de uma passagem e um voo. "Se tivesse ido, eu estaria ao relento, como [estão] muitos. As companhias aéreas cancelam os voos para vender mais caro. Um conhecido comprou passagem por R$ 13
mil. Depois de pagar, teve o voo cancelado. Eles cancelam e não devolvem o dinheiro, oferecem um voucher", afirma.
O empresário cearense José Porto conta que tenta uma antecipação de retorno para Fortaleza desde o dia 10 de março, sem sucesso. "O que incomoda muito é dizerem que estão fazendo de tudo para resgatar, e a gente continua do jeito que está, sem notícia e orientação", diz.
Ele relata que muitas pessoas estão enfrentando dificuldades, como falta de dinheiro e de ter onde ficar. "Eu estou na casa de uma amiga", revela, citando que tem ajudado brasileiros na medida do possível. O empresário cearense cobra maior ação das autoridades brasileiras. "Eles [da embaixada] poderiam distribuir cobertor, água, tomar ações para ver se acomoda essa galera que está com fome, está na rua", revela.
O jornalista baiano Gil Rocha está com a esposa e a filha de cinco anos em Portugal desde o dia 11. Ele tenta o retorno a Salvador sem sucesso. "Desde o dia 16 tento antecipar o voo para o mesmo dia ou dia seguinte. A viagem de retorno foi marcada para o dia 19. No dia 17 recebemos um e-mail da Air Europa cancelando do dia 19 e marcando para o dia 21. No dia seguinte veio outro e-mail cancelando o trecho Lisboa-Madri, mas mantendo Madri-São Paulo", conta.
Ele afirma que hoje está na cidade de Almada, na área metropolitana de Lisboa. "Busquei hospedagem em um pequeno apartamento, através do site Airbnb. Tenho outros amigos na mesma situação: um morador de Porto Seguro com a noiva e um de Ribeirão Preto", completa.
A professora universitária piauiense Rafaela Santos também diz que buscou um alojamento mais em conta no site Airbnb para esperar o retorno. "Estou [no alojamento] enquanto tiver dinheiro. Não sabemos quanto tempo ficaremos", diz.
"Nós estamos tentando ajudar as pessoas, porque tem gente aqui em situação muito difícil. Aí um cede uma noite no quarto, um arranja onde ficar no outro dia. Fazem continhas para ajudar. Nós mesmos estamos nos juntando e contribuindo para os que precisam mais", comenta a professora Santos.
Itamaraty diz que está repatriando
Contatado pelo UOL na tarde de ontem, o Itamaraty informou ter atuado para repatriar, apenas no último fim de semana, 2.840 brasileiros em Portugal e em outros países.
"A Embaixada do Brasil em Lisboa e os Consulados em Portugal continuam trabalhando para assegurar o retorno de todos os brasileiros atingidos pelas restrições de movimentação ao redor do mundo. Trata-se de situação excepcional que torna impossível a elaboração de cronograma preciso dos voos ou do atendimento imediato de todas as demandas existentes", explica.
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