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Exemplo para Bolsonaro, Suécia é 2º país na Europa em casos por habitantes

26.mar.2020 - Cartaz assegura que o bar está aberto durante a pandemia do novo coronavírus em Estocolmo, Suécia - Colm Fulton/Reuters
26.mar.2020 - Cartaz assegura que o bar está aberto durante a pandemia do novo coronavírus em Estocolmo, Suécia Imagem: Colm Fulton/Reuters

Carolina Marins*

Do UOL, em São Paulo

22/06/2020 04h01

A Suécia virou motivo de exemplo para o presidente Jair Bolsonaro ao optar por não aplicar quarentena no combate à disseminação do novo coronavírus. Hoje, no entanto, o país se tornou o segundo em casos por 100.000 habitantes da Europa, enquanto seus vizinhos que se isolaram já vivenciam a desaceleração da doença.

Com 56.043 casos confirmados em uma população com um pouco mais de 10 milhões de pessoas, a Suécia tem hoje uma taxa de 550,3 casos notificados para cada 100.000 habitantes. É o segundo da Europa, atrás apenas de Luxemburgo com 675.5 infectados para cada 100.000. Porém, a população deste último é muito menor, sendo um pouco mais de 613 mil habitantes.

Os dados são do Centro Europeu de Controle de Doenças (ECDC). Luxemburgo e Suécia são seguidos por Bélgica (530) e Espanha (526). A média europeia é 282,7.

No Brasil, cuja população é de cerca de 210,1 milhões de habitantes e os casos confirmados de covid-19 são de aproximadamente 1,1 milhão, a taxa para cada 100 mil habitantes gira em torno de 516, segundo dados do Ministério da Saúde.

Enquanto a Europa vê uma queda nos seus números de casos e mortos, a Suécia ainda não apresenta variação de crescimento. O país tem superado os mil casos diariamente, mais do que Espanha e Itália, que já foram consideradas epicentros da doença e agora passam por um processo de reabertura.

Imunização de rebanho

O Reino Unido é outra nação europeia que ainda apresenta números diários acima de mil. Uma similaridade entre Suécia e Reino Unido foi a aposta na chamada "imunização de rebanho" em lugar da quarentena. Nesta estratégia, a população é deixada para se contaminar livremente, a fim de atingir uma porcentagem de mais de 60% de pessoas infectadas e possivelmente imunizadas pela doença. Com mais gente imunizada e menos suscetíveis, a doença entraria em queda.

Porém, a estratégia é criticada por médicos e cientistas, pois ainda não se conhece a extensão da imunização provocada pelo novo coronavírus. Além disso, ignora que a alta contaminação simultânea de pessoas pode sobrecarregar os sistemas de saúde e levar ao seu colapso, o que elevaria o número de mortes por desassistência.

O Reino Unido abandonou a estratégia após os números explodirem e o famoso sistema público de saúde britânico (NHS) chegar perto do colapso. O fato do primeiro-ministro britânico ter contraído o vírus e desenvolvido quadro grave da covid-19 - necessitando de cuidados intensivos - também contribuiu para a mudança.

A Suécia, no entanto, continua apostando que não precisa fechar bares, restaurantes e escolas. Apenas universidades e visitas aos asilos foram restritas. O país decidiu apostar na "responsabilidade social", na qual o governo apenas recomenda as medidas e crê que a população vá obedecer.

Neste mês, o epidemiologista do governo sueco, Anders Tegnell, disse que o país avançou menos do que o esperado no objetivo de conseguir a imunidade de rebanho. As taxas de contágio na Suécia são muito mais altas do que em qualquer outro lugar da região nórdica. A taxa de mortalidade da covid-19 está entre as piores do mundo. Ele admitiu que o plano causou mortes demais.

Uma análise de 50 mil testes realizada pela Werlabs, uma empresa privada, mostra que cerca de 14% das pessoas testadas nas últimas seis semanas na região de Estocolmo desenvolveram anticorpos para a covid-19. O número se compara a um estudo publicado neste mês sobre Bérgamo - antes o epicentro da covid-19 na Itália -, segundo o qual 57% das pessoas testadas tinham desenvolvido anticorpos.

Bolsonaro já utilizou esta estratégia da Suécia como exemplo a ser replicado no Brasil. Para ele, o país não deveria adotar fechamento de comércios para conter a pandemia. "Se dependesse de mim, quase nada teria sido fechado, a exemplo da Suécia", disse no dia 14 de maio em crítica aos estados que adotaram isolamento social.

Ontem, durante comício de campanha, o presidente dos Estados Unidos colocou Brasil e Suécia em um mesmo patamar, como maus exemplos de combate ao coronavírus. "Pergunte a eles como eles estão no Brasil, é um grande amigo meu, não estão muito bem. Vocês ouviram muito sobre a Suécia. Pergunte a eles como eles estão. Salvamos um milhão de vidas, agora é hora de voltar ao trabalho", disse.

*Com Bloomberg