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EUA apreendem 13 t de produtos feitos com cabelo de chineses explorados

Do UOL, em São Paulo

02/07/2020 09h56Atualizada em 02/07/2020 13h21

Uma carga de 13 toneladas avaliada em US$ 800 mil (R$ 4,2 milhões) foi apreendida nos Estados Unidos porque seus produtos podem ter sido feitos com cabelos de prisioneiros chineses, diz o site The Guardian.

Autoridades alfandegárias dos EUA acreditam que muçulmanos em campos de trabalho na província de Xinjiang, no oeste da China, tiveram seus cabelos usados na confecção de apliques e outros itens à base de cabelos humanos contidos na carga.

"A produção desses bens constitui uma violação muito séria dos direitos humanos, e a ordem de detenção tem como objetivo enviar uma mensagem clara e direta a todas as entidades que buscam fazer negócios com os Estados Unidos de que práticas ilícitas e desumanas não serão toleradas nas redes de fornecimento norte-americanas", disse Brenda Smith, comissária assistente executiva do escritório do CBP (sigla para Proteção de Alfândegas e Fronteiras).

Esta é a segunda vez este ano que o CBP faz um pedido de contenção de cargas desse tipo vindas da China, por suspeitas de que as pessoas que as confeccionam passam por violações dos direitos humanos.

Rushan Abbas, ativista uigur norte-americana cuja irmã desapareceu na China há quase dois anos e acredita-se estar presa em um campo de detenção, disse que as pessoas que usam apliques devem pensar sobre quem os está confeccionando.

"Isso é tão comovente para nós", disse ela. "Quero que as pessoas pensem sobre a escravidão que alguns estão enfrentando hoje. Minha irmã está sentada em algum lugar sendo forçada a fazer o quê, pedaços de cabelo?", ela afirma.

A remessa apreendida agora foi feita pela Lix County Meixin Hair Product Co. Ltd. Em maio, uma apreensão semelhante foi feita à Hetian Haolin Hair Accessories Co., embora os produtos fossem sintéticos, não humanos.

Ambos os exportadores estão na região de Xinjiang, onde, nos últimos quatro anos, o governo prendeu cerca de 1 milhão ou mais integrantes de minorias étnicas turcas.

Ministério das Relações Exteriores nega irregularidades

Os detidos são mantidos em campos de internação e prisões, onde são submetidos a disciplina ideológica, forçados a denunciar sua religião e idioma e sofrem abuso físico. Há muito que a China assumiu que os uigures, que são majoritariamente muçulmanos, abrigam tendências separatistas por causa de sua cultura, idioma e religião distintos.

Investigações realizadas por organizações internacionais de imprensa apontam que pessoas dentro dos campos e prisões estão produzindo roupas esportivas para marcas famosas dos EUA.

O Ministério das Relações Exteriores da China disse que não há trabalho forçado nem detenção de minorias étnicas.

Autoridades de Xinjiang anunciaram em dezembro que os campos haviam sido fechados e que todos os detidos haviam se "formado", mas a informação é difícil de verificar, dada a vigilância rigorosa e as restrições a trabalhos de reportagem na região.

Alguns uigures e cazaques disseram à agência Associated Press que seus parentes foram libertados, mas muitos outros dizem que seus familiares continuam detidos, foram condenados à prisão ou transferidos para trabalhos forçados em fábricas.