Angola faz buscas contra pastores da Universal; igreja vê 'perseguição'
O SIC (Serviço de Investigação Criminal) da Polícia Nacional de Angola fez ações de busca e apreensão contra pastores da Igreja Universal do Reino de Deus no país africano. Templos religiosos também foram alvo dos mandados judiciais do SIC, espécie de Polícia Federal de Angola.
Os policiais apreenderam computadores, câmeras de segurança, livros da contabilidade e documentos bancários. Também procuraram cofres e fundos falsos em paredes, além de fotografarem cartões de crédito e papéis de bancos. A investigação mira suspeitas de evasão de divisas e de lavagem de dinheiro, segundo fontes informaram ao UOL neste fim de semana.
A ação aconteceu na sexta-feira (10). Segundo a TV Record, que pertence ao líder da Universal, Edir Macedo, cerca de "80 agentes" da polícia fizeram buscas em "mais de 20 casas". O líder da Universal em Angola, bispo Honorilton Gonçalves, nega qualquer irregularidade e diz ver "perseguição" religiosa no caso.
Pastores dissidentes mantêm 30 templos invadidos
Paralelamente, as igrejas da Universal em Angola têm sido alvo de invasões de pastores dissidentes nas últimas três semanas. Houve violência física contra brasileiros e angolanos, segundo o embaixador do Brasil em Angola, Paulino Franco de Carvalho Neto, que atua no país desde 2016.
Uma parte desses dissidentes é autora de uma queixa-crime, apresentada em novembro, e que originou as ações de busca e apreensão de sexta-feira, informou o diplomata.
Trinta templos permanecem invadidos, nas contas do bispo Honorilton.
O Itamaraty está apelando às autoridades do país, como o Ministério do Interior, que chefia a polícia, e a PGR (Procuradoria-Geral da República). Carvalho contou que o Brasil já expressou, várias vezes, o descontentamento com o fato de a polícia não expulsar as pessoas que ocuparam os imóveis ilegalmente.
A diplomacia brasileira segue dialogando para conseguir que os invasores sejam retirados.
Dissidentes acusam Universal de vender templos
Honorilton negou a acusação de ex-pastores da igreja, segundo os quais a instituição religiosa estaria vendendo templos em Angola ou enviando o dinheiro para outros países. "Nenhum imóvel da igreja foi vendido", disse o bispo à emissora CNN Brasil no sábado (11).
Não há nenhuma ilegalidade na igreja, mesmo porque as contas da igreja sofrem auditorias externas e fiscalizações constantes do governo
Honorilton Gonçalves, líder da da Universal em Angola
"Há um rigoroso sistema de fiscalização e prevenção." O bispo disse que os agentes da polícia fizeram mais de dez horas de buscas na sede da igreja, em Luanda, capital de Angola.
Também houve busca e apreensão na residência de pastores e em outras igrejas.
Não encontraram absolutamente nada porque não há ilegalidade na igreja
Honorilton Gonçalves
O UOL procurou a Igreja Universal no Brasil e em Angola por telefone, e-mail e redes sociais. Não houve retorno, mas o posicionamento será publicado se recebido.
Autoridades não retiram invasores, diz Itamaraty
Armindo Laureano, diretor do Novo Jornal (maior jornal privado de Angola), disse que a investigação sobre lavagem de dinheiro em relação à Universal é antiga, mas ganhou contornos com denúncias feitas por pastores dissidentes da igreja.
Laureano e mais duas fontes locais, uma delas ex-funcionário da diplomacia de Angola, contaram à reportagem que há acusações de racismo e de obrigação de que os obreiros da igreja se submetam a operações de vasectomia.
Uma dos principais crimes é lavagem de dinheiro e a fuga de capitais. A polícia anda há muito tempo atrás disso
Armindo Laureano, jornalista angolano
O embaixador Carvalho afirma que as acusações de queixa-crime se referem a evasão de divisas e obrigação de vasectomia.
Para Honorilton, os dissidentes são "rebeldes" e são beneficiados com a leniência das autoridades. Em 24 de junho, o porta-voz da PGR do país, Álvaro João, afirmou que os pastores da igreja e os rebelados "devem chegar a um entendimento e sem violência", segundo narrou ao jornal estatal angolano.
O jornalista Laureano disse que as autoridades conseguiram reduzir o número de templos invadidos. Ele contou que, no mês passado, havia 80 igrejas ocupadas pelos dissidentes. Honorilton informou que ontem eram 30.
"Você tem que olhar para a legalidade daquilo", contou Laureano, que condena as invasões. "Aquilo tem dono e está registrado em nome da Igreja Universal. Eles [os dissidentes] entendem que não, os pastores angolanos, que aquilo é feito com dinheiro angolano e tem que ficar aqui na Angola."
Honorilton diz que a polícia é lenta para retirar os invasores, mas foi rápida para fazer as ações de busca e apreensão. O Itamaraty concorda que invadir propriedade privada é crime em qualquer país e cobra rapidez da polícia em retirar os dissidentes dos templos.
Independentemente da queixa-crime do ano passado, não é razoável invasores permanecerem lá mais de duas semanas e nada tenha acontecido
Paulino Carvalho Neto, embaixador do Brasil em Angola
Para o diplomata, "causa perplexidade" que os mandados de busca e apreensão do SIC tenham ocorrido justamente semanas depois de os templos serem alvo de invasões. Carvalho disse que as invasões são "inaceitáveis".
As investigações também são feitas pela PGR.
Polícia, PGR e embaixada silenciam
O UOL procurou a Polícia Nacional de Angola e o SIC. O inspetor Mário Francisco disse que seus superiores avaliariam o pedido de informações. Não houve esclarecimentos até a publicação da reportagem.
O porta-voz da PGR do país, Álvaro João, não retornou aos telefonemas e mensagens enviados.
A Embaixada de Angola no Brasil também não retornou os pedidos de esclarecimentos, feitos por telefone e correio eletrônico.
A Universal foi fundada por Edir Macedo, dono da TV Record. A igreja tem 43 anos e 10 milhões de fiéis pelo mundo. Há 12 mil templos espalhados por 135 países. A Universal chegou a Angola em 1992.
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