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Esquerda confunde sonho com realidade e cai no 'infantilismo', diz Mujica

Ex-presidente uruguaio também afirmou que a esquerda tem um problema "congênito" - Tony Gentile/Reuters
Ex-presidente uruguaio também afirmou que a esquerda tem um problema "congênito" Imagem: Tony Gentile/Reuters

Do UOL, em São Paulo

12/08/2020 12h26Atualizada em 12/08/2020 15h02

O ex-presidente uruguaio José Mujica fez uma análise crítica sobre a esquerda atual. Em entrevista ao veículo argentino Infobae, ele afirmou que existem dilemas permanentes e que a esquerda tende a cair no "infantilismo". Disse ainda que algumas políticas contra a pobreza serviram apenas para criar consumidores, e não cidadãos.

"Há sempre uma atitude conservadora e uma atitude de solidariedade de mudança que se expressam de acordo com os valores da época. Agora, no que chamamos de esquerda, há opinião demais, cai no sectarismo, torna-se dogmatizada", afirmou.

Tende a cair no infantilismo, confundindo o desejo com a realidade. A direita conservadora também serve a um propósito útil, porque não se pode viver mudando o tempo todo. Mas quando refina demais seu conservadorismo cai no reacionário, no facistoide. Esses dilemas estão permanentemente no ser humano
José Mujica, ex-presidente do Uruguai

Mujica voltou a criticar a forma como pessoas foram retiradas das condições de extrema pobreza apenas para se tornarem consumidores melhores e não verdadeiros cidadãos.

"Não dá para acreditar no grau de domesticação que a mercadoria nos impôs. Tiramos muita gente da pobreza extrema, mas não os tornamos cidadãos: os tornamos consumidores melhores. A culpa é nossa", acrescentou.

Em uma análise sobre história, Mujica afirmou que a esquerda tem um problema "congênito" e disse que o campo teve culpa na ascensão de alguns dos principais ditadores da história.

"Franco [ditador espanhol] morreu na cama porque a esquerda se dedicou muito mais à luta interna do que a enfrentá-la no momento preciso. Hitler chegou à presidência porque os queridos camaradas social-democratas e os queridos camaradas comunistas se dedicaram mais a eles mesmos do que a frear o outro", disse ele.

Desde a Revolução Francesa, é quase uma lei. E parece que a gente não aprende. Os de direita se unem por interesses, e a esquerda luta por ideias