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Caso Trump é 'pior que Watergate', diz jornalista que causou queda de Nixon

"Gravação evidencia o que esse presidente está disposto a fazer [contra a democracia]", disse Carl Bernstein - Reprodução/CNN
"Gravação evidencia o que esse presidente está disposto a fazer [contra a democracia]", disse Carl Bernstein Imagem: Reprodução/CNN

Do UOL, em São Paulo

03/01/2021 21h22

A revelação de que o presidente Donald Trump tentou pressionar o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, para "encontrar" votos a seu favor e reverter a vitória de Joe Biden no estado é mais grave do que o caso Watergate, na avaliação de Carl Bernstein. Segundo o jornalista, os áudios divulgados hoje pelo The Washington Post são evidência "suficiente" para um impeachment.

O Watergate foi um escândalo político ocorrido nos anos 1970 e revelado por Bernstein e Bob Woodward, ambos repórteres do The Washington Post à época. O episódio resultou na renúncia do então presidente Richard Nixon, do Partido Republicano — o mesmo de Trump —, e marcou a história política dos Estados Unidos, tendo sido retratado até nos cinemas, em "Todos os Homens do Presidente" (1976).

"Isso não é um déjà-vu [sensação de já ter vivido determinada situação], é algo muito pior do que o que aconteceu no Watergate", disse Bernstein à CNN. "Essa gravação evidencia o que esse presidente está disposto a fazer para enfraquecer o sistema eleitoral. Ilegalmente, inapropriadamente e imoralmente, ele tenta incitar um golpe para continuar como presidente dos EUA".

O jornalista ainda definiu Trump como um presidente "criminoso" e "subversivo", e cobrou ações dos membros do Partido Republicano contra o presidente. Ele lembrou que os "heróis" do Watergate foram justamente os republicanos que "não toleraram a conduta de Richard Nixon".

"É isso que deveríamos estar ouvindo dos republicanos neste momento: 'Senhor presidente, renuncie, deixa a Casa Branca. Isso é inescrupuloso, é errado, e nós, do seu partido, não vamos permitir isso", completou.

Caso Trump

Assim como o Watergate, a revelação de que Trump pressionou Raffensperger para tentar reverter o resultado da eleição na Geórgia também foi feita pelo The Washington Post. O jornal obteve a gravação de uma conversa telefônica entre os dois (leia a transcrição), em que é possível ouvir o presidente insistindo para que o secretário "encontrasse" mais votos favoráveis a ele.

O democrata Joe Biden, eleito em novembro para comandar os EUA nos próximos quatro anos, venceu na Geórgia com 49,5% dos votos, ante 49,3% de Trump, uma diferença de 11.779 votos. Em determinado momento, Trump fala que "só precisa encontrar 11.780" votos, o suficiente para "ultrapassar" seu adversário.

Como secretário de Estado da Geórgia, Raffensperger é responsável, entre outras atribuições, pela supervisão do processo eleitoral.

Você sabe o que eles fizeram e você não está denunciando. Isso é crime, e você não pode deixar que isso aconteça. (...) Quero dizer, estou te avisando que você está deixando que isso aconteça. Então veja: tudo o que quero fazer é isso, eu só quero encontrar 11.780 votos, um a mais do que temos [de diferença para Biden], porque nós vencemos no estado. Donald Trump, em conversa com Brad Raffensperger

Ouça o áudio completo (em inglês)