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Soldado espanhol não sabia se 'bebê estava vivo ou morto' ao salvá-lo

Guarda Civil Juan Francisco salva bebê com menos de 1 ano de afogamento - Reprodução/Twitter
Guarda Civil Juan Francisco salva bebê com menos de 1 ano de afogamento Imagem: Reprodução/Twitter

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/05/2021 09h07

Um soldado espanhol do Grupo Especial de Atividades Submarinas da Guarda Civil Espanhola que se atirou no mar para salvar um bebê marroquino de menos de 1 ano ontem disse que não sabia se o recém-nascido estava vivo ou morto ao pegá-lo.

Juan Francisco, de 41 anos, é um dos oito guardas-civis espanhóis que atuam no resgate de milhares de marroquinos que tentam executar uma travessia perigosa rumo à Europa nas proximidades da cidade espanhola de Ceuta.

O guarda civil está há 12 anos na corporação, já foi militar, mergulhador de resgate na Marinha e escolheu a mesma especialidade dentro do instituto armado. Ele diz que foi treinado para enfrentar "quase qualquer situação no mar", mas que a "maré humana" com centenas de pessoas desesperadas que encontrou foi uma condição que não havia imaginado viver.

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18.mai.2021 - Marroquinos tentam aos milhares entrar na Espanha
Imagem: FADEL SENNA / AFP

A foto que mostra Juanfran segurando a criança nos braços viralizou na mídia internacional hoje. Mas enquanto milhões admiravam a imagem, o soldado continua atuando no resgate dos imigrantes e só teve uma rápida pausa para falar com veículos de comunicação.

Em entrevista ao El País na tarde de hoje, ele afirmou que não sabia "se o bebê estava vivo ou morto", e que dormiu no máximo dez horas desde domingo, quando a operação começou.

"Nosso trabalho habitual consiste em resgatar corpos de mortos nas águas, sejam do mar, de um pântano ou de um rio... Mas desta vez tivemos de resgatar pessoas vivas, de todas as idades, em todas as condições, e discriminar entre tanta gente na água quem precisava da nossa ajuda com mais urgência", disse antes de voltar ao mar.

Pegamos o bebê, ele estava congelado, com frio, não gesticulava. Foi um pouco traumático. Estávamos muito atentos às pessoas mais vulneráveis que não iam poder ficar na água e havia muitos pais e mães com os filhos amarrados"

Ele adicionou: "Estávamos atentos a todas as pessoas que acreditávamos que não seriam capazes de chegar desde onde queriam sair até a zona espanhola. Usavam flutuadores de brinquedo, garrafas vazias, o que fosse. Alguns usavam coletes de cortiça mal colocados que, em vez de manterem a cabeça à tona, provocavam o efeito contrário", diz um dos mergulhadores que é descrito pelos colegas com apreço.

"Havia muitos pais e mães com os filhos amarrados da maneira que podiam", descreve. Para priorizar os salvamentos mais urgentes, o guarda colocou panos e roupas nas costas dos migrantes para encontrá-los na água. Dessa forma, a mãe com seu bebê amarrado, foram rapidamente resgatados. Juanfran também lembrou que, apesar de muitos salvamentos, nem todos sobreviveram. Um jovem migrante foi a única morte registrada.

A equipe lembra "os olhos desorbitados das pessoas que tiveram de socorrer nos últimos dias no mar". O guarda lembra que na madrugada de terça-feira, dezenas de pessoas de origem subsaariana começaram a entrar na água "era muito difícil vê-los na água, à noite e com sua pele escura... não os víamos, não sabíamos se estavam com crianças", lamentou.

Desde segunda-feira (17), cerca de oito mil imigrantes, entre eles 1500 menores de idade, tentam entrar no continente europeu em busca de um visto. O governo anunciou a deportação de metade dos marroquinos.

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18.mai.2021 - Milhares de marroquinos tentaram entrar na Espanha e foram alvo da polícia local
Imagem: FADEL SENNA / AFP