É errado relacionar a opressão nos protestos ao comunismo,diz especialista
A diretora do Instituto Diplomacia para Democracia e doutoranda de Programa de Integração da América Latina, Amanda Harumy, afirmou que é errado relacionar diretamente a opressão das manifestações em Cuba ao comunismo.
"Na América Latina, tanto no caso do Chile quanto da Colômbia, as manifestações foram fortemente reprimidas pelo estado. Isso não é uma característica só do comunismo", disse ao UOL Debate na manhã de hoje.
Segundo ela, Cuba é um país que a receita vinda do turismo é importante. Então, com a pandemia, a ilha vem enfrentando problemas econômicos. "A pandemia está trazendo consequências, uma forte inflação e um desabastecimento da sociedade cubana. São problemas que impactam a população. Essas manifestações têm lastros nesses problemas. Mas é importante prestar atenção o quanto a política internacional, a política externa de Biden, que a gente ainda não sabe qual é, vai ser determinante no caso de Cuba", analisou.
Para Amanda, ainda é cedo para entender para onde vão as manifestações, inclusive pelo fato de ainda não ter sido possível ver a postura do presidente americano, Joe Biden, na América Latina. "A América Latina está passando por um momento de questionamento de que direção ela vai. Analisar Cuba é analisar também esse termômetro da América Latina e ver qual será a reação para os próximos anos. A política externa de Biden vai ter muita influência, a partir de agora que a gente vai começar a ver quais serão os métodos da política externa norte-americana por aqui".
Além da postura externa dos EUA, segundo Amanda, o desfecho dos protestos depende do presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel."É um cenário bem complexo que a liderança precisará ter capacidade de escuta e de construção coletiva na ilha para manter o projeto socialista. Tudo isso vai estar relacionado em como o governo vai atuar domesticamente, construir soluções e diálogos com essas manifestações".
Protestos em Cuba
O último domingo (11) foi histórico para Cuba. Aos gritos de "liberdade" e "abaixo a ditadura", manifestantes em todo o país foram às ruas para protestar contra o regime do presidente Miguel Díaz-Canel — algo inédito na ilha, comandada pelo Partido Comunista há décadas. A crise se tornou tão insustentável que nem a proibição da realização de atos foi capaz de conter a população.
Uma multidão ocupou as ruas da capital Havana, e muitos participavam de um protesto pela primeira vez na vida. À RFI, uma manifestante disse que a população está "farta" da crise econômica, da fome e da pandemia de covid-19 — o que, aliado ao "desejo de liberdade" e de renúncia de Díaz-Canel, motivou as pessoas a irem às ruas, apesar do medo da repressão.
As manifestações acontecem em um momento de forte crise em Cuba, que sofre com a escassez de medicamentos e produtos básicos, além de passar pela terceira — e pior — onda da pandemia até então. Com pouco mais de 11,3 milhões de habitantes, a ilha soma 244.914 casos confirmados e 1.579 mortes pelo coronavírus, segundo balanço da Universidade Johns Hopkins.
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