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Acesso à internet facilitou protestos em Cuba, diz especialista da FGV

11.jul.2021 - Protestos foram registrados em Havana, Cuba - Alexandre Meneghini/Reuters
11.jul.2021 - Protestos foram registrados em Havana, Cuba Imagem: Alexandre Meneghini/Reuters

Colaboração para o UOL

13/07/2021 10h34

O professor e coordenador da graduação em Relações Internacionais na Fundação Getulio Vargas (FGV), Eduardo Mello, afirma que o acesso à internet é um grande facilitador dos protestos em Cuba. Segundo ele, é a primeira vez, desde 2018, que os cubanos podem comprar via empresa estatal pacotes de dados para o celular.

"Os cubanos entraram nessa vida digital e isso facilita, pois reduz as barreiras para organização e comunicação das pessoas. Tem o ambiente
propício de insatisfação popular com os problemas econômicos estruturais que se potencializam com as pessoas podendo se comunicar por meio de aplicativos, postar vídeos e chamar umas as outras", disse ao UOL Debate na manhã de hoje.

Segundo ele, Cuba enfrenta, além dos embargos, outros problemas econômicos relevantes, como o alto preço dos alimentos no mundo todo, o que leva a insatisfação da população. "Os principais bens importados por Cuba subiram cerca de 40% e a agricultura cubana é relativamente improdutiva. O país depende muito de preços internacionais e ainda há poucos incentivos para o aumento da produtividade do agricultor cubano", explica.

Mello ressalta que é simplista acusar só o comunismo, como fez o presidente Jair Bolsonaro ontem. "Você tem regimes autoritários de direita e esquerda. Cuba vive um regime autoritário de esquerda". Segundo ele, é importante acompanhar nos próximos dias as respostas da Rússia, China e Venezuela. "São os países com relação mais próxima ao regime cubano e que o tem apoiado fortemente. É deles que virá o apoio mais substancial se a situação começar a se deteriorar mais".

Para o professor, ainda é cedo para falar em "Primavera Cubana" e o que define o que vai acontecer é como o governo reagirá e a capacidade dele de dar respostas a essa insatisfação. "O governo ainda tem muita margem de manobra para se ajustar e manter o regime. Um cenário possível é a liderança do regime decidir dobrar a aposta da repressão esperando que eles se esvaziem até que a situação econômica do mundo melhore. Uma segunda resposta é o governo tentar uma maneira de conciliar o avanço de uma agenda de reformas de alguma forma que isso não ameace a sua posição de poder", avalia.

Protestos

O último domingo (11) foi histórico para Cuba. Aos gritos de "liberdade" e "abaixo a ditadura", manifestantes em todo o país foram às ruas para protestar contra o regime do presidente Miguel Díaz-Canel — algo inédito na ilha, comandada pelo Partido Comunista há décadas. A crise se tornou tão insustentável que nem a proibição da realização de atos foi capaz de conter a população.

Uma multidão ocupou as ruas da capital Havana, e muitos participavam de um protesto pela primeira vez na vida. À RFI, uma manifestante disse que a população está "farta" da crise econômica, da fome e da pandemia de covid-19 — o que, aliado ao "desejo de liberdade" e de renúncia de Díaz-Canel, motivou as pessoas a irem às ruas, apesar do medo da repressão.

As manifestações acontecem em um momento de forte crise em Cuba, que sofre com a escassez de medicamentos e produtos básicos, além de passar pela terceira — e pior — onda da pandemia até então. Com pouco mais de 11,3 milhões de habitantes, a ilha soma 244.914 casos confirmados e 1.579 mortes pelo coronavírus, segundo balanço da Universidade Johns Hopkins.