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Entenda o que motiva a onda de protestos e distúrbios na África do Sul

Membros da Força de Defesa da África do Sul patrulham a área saqueada em Soweto, Johanesburgo, capital do país - Phill Magakoe/AFP
Membros da Força de Defesa da África do Sul patrulham a área saqueada em Soweto, Johanesburgo, capital do país Imagem: Phill Magakoe/AFP

Do UOL, em São Paulo *

13/07/2021 14h54Atualizada em 14/07/2021 14h44

Ao menos 45 pessoas já morreram na África do Sul desde o início de protestos desencadeados na esteira da prisão do ex-presidente Jacob Zuma, que governou país entre 2009 e 2018.

O governo central já ordenou o envio de tropas militares para as províncias mais afetadas por saques e ondas de violência originadas a partir dos protestos pró-Zuma, mas ainda não há sinais de amenização da crise — e o balanço de mortos continua a aumentar.

Por que Zuma foi preso?

No final de junho, Zuma foi condenado a 15 meses de prisão pelo Tribunal Constitucional por desacato ao se negar a comparecer a uma comissão que investiga casos suspeitos de corrupção que teriam ocorrido durante o período em que governou o país.

A principal denúncia que recai sobre o político é a de que ele permitiu que os irmãos Atul, Ajay e Rajesh Gupta, empresários, influenciassem a formulação de políticas públicas e se enriquecessem a partir disso. O trio, que fugiu do país, nega a acusação.

O ex-presidente também enfrenta 16 acusações de fraude, corrupção e crime organizado relacionadas com a compra, realizada em 1999, quando era vice-presidente do país, de equipamento militar de cinco empresas europeias de armamento.

Ele é acusado de ter embolsado mais de 4 milhões de rands (quase US$ 290 mil, na cotação atual) em subornos da francesa Thales, um dos grupos que ganhou o contrato de mais de US$ 3,3 bilhões e que foi processada por corrupção e lavagem de dinheiro.

A própria saída de Zuma do posto de presidente tem relação com acusações de corrupção — seja as com relação ao caso de 1999 ou com fatos que teriam ocorrido durante o mandato presidencial. O político tinha um mandado para cumprir até 2019, mas renunciou antes disso.

Sentença sob revisão

Zuma tem afirmado ser inocente das acusações e criticado a sentença do Tribunal Constitucional, alegando que ela é "inconstitucional". Ainda sim, na noite da última quarta-feira (7), ele se entregou às autoridades.

O ex-presidente sul-africano só se entregou depois de o Tribunal Constitucional, após pedido dele, decidir rever a sentença — mesmo que a pena não tivesse mais a possibilidade de recursos.

Ontem, a corte realizou uma audiência de 10 horas sobre a pena imposta ao ex-mandatário — mas ainda não há previsão de quando sairá o veredito sobre a manutenção ou não da sentença.

Como começaram os protestos?

Antes mesmo de Zuma se entregar às autoridades, populares estavam se reunindo em frente à propriedade rural do ex-presidente, em Nkandla, na província de Kwazulu-Natal, região natal do político.

Guerreiros zulus, povo que habita o país, participaram de um ato no último sábado. "Quando ele (Zuma) estava no comando do país, não havia problemas de eletricidade, nem confinamento, nem covid-19", afirmou um participante do protesto.

Temendo tensões, o Congresso Nacional Africano, partido de Zuma, enviou uma delegação à província de Kwazulu-Natal para pedir calma aos apoiadores do ex-presidente. A presença policial foi reforçada nos arredores da propriedade.

E quando os atos viraram distúrbios?

Os primeiros incidentes decorrentes dos protestos aconteceram em Kwazulu-Natal, na última sexta-feira (9). Na época, estradas foram bloqueadas e caminhões acabaram sendo incendiados.

No fim de semana, a onda de violência chegou e se espalhou por Johanesburgo, especialmente em Soweto, área que, durante o período do regime racista do Apartheid, serviu para abrigar os negros segregados.

Em Guateng, província cuja capital é Johanesburgo, o chefe do governo local, David Makhura, disse hoje que dez pessoas morreram em um momento de confusão e correria durante saques em um shopping.

Mais cedo, Sihle Zikalala, primeiro-ministro da província de Kwazulu-Natal, havia anunciado um total de 26 mortes na região — em Guateng, Makhura disse que já são 19.

Tentativa de controle

Ontem à noite (12), o atual presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, anunciou o envio de tropas para auxiliar a polícia a conter os distúrbios e "restaurar a ordem" nas ruas.

Segundo o ministro responsável peças forças de seguranças do país da África Austral, Bheki Cele, pouco mais de 750 pessoas já foram detidas em meio aos protestos, os saques e a onda de violência em todo o país — a maioria em Johanesburgo.

* Com informações da AFP, da Ansa, da Reuters e da RFI