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'Sei que serei criticado': veja falas de Biden em discurso sobre o Taleban

Do UOL, em São Paulo

16/08/2021 18h25

Um dia após o grupo extremista Taleban tomar o controle, em Cabul, o presidente dos EUA, Joe Biden, admitiu em pronunciamento uma sucessão de erros ao longo de 20 anos de ocupação americana no Afeganistão, mas defendeu a retirada imediata de sua tropa militar.

Sem muita resistência, os radicais tomaram a capital do Afeganistão, além de 26 das 34 capitais provinciais em um período de 7 dias, em um avanço rápido embora não surpreendente para observadores internacionais. O atual presidente, Ashraf Ghani, e seu vice, Amrullah Saleh, fugiram do país às pressas.

Durante o seu discurso, Biden disse que será criticado, mas que não se arrepende da sua decisão, e que os Estados Unidos não podem enfrentar uma guerra interminável.

"Eu sou o presidente da América, e essa guerra acaba comigo. Eu estou triste com toda essa situação, mas não me arrependo da minha decisão", disse o democrata. "Eu sei que a minha decisão será criticada, mas eu prefiro isso do que passar para o próximo presidente", completou, em seguida.

Eu não vou repetir o mesmo erro do passado. O erro de continuar num conflito que não é do interesse nacional. Onde aposta mais ainda em uma guerra civil. São erros que não queremos repetir. Não podemos ignorar essas questões internas. Biden, em seu discurso para o povo americano

Leia trechos do discurso de Biden

Nós acabamos com toda a força do Taleban no Afeganistão. Nós acabamos com a Al-Qaeda. Nós conseguimos caçar Osama Bin Laden. Isso foi uma década atrás. Nossa missão no Afeganistão nunca foi de ficar para sempre, e sim para ficar e centralizar a democracia.

Nós temos missões contra o terrorismo em vários países, mas não temos uma presença militar permanente.

Quando eu assumir a presidência, eu assumi o acordo que Donald Trump fez com o Taleban, o acordo de Doha. E, nesse acordo, as forças [americanas] deveriam estar fora do Afeganistão no dia 1º de maio de 2021. Nossos militares estavam exaustos e foram retirados: de 15.500 caiu para 2.500. E o Taleban estava mais forte do que nunca, desde 2001. E a escolha que eu tive que fazer é continuar com este acordo ou lutar contra o Taleban. Não houve cessar fogo depois do dia 1º de maio

Portanto, eu mantenho firmemente a minha decisão. Depois de 20 anos, nós aprendemos do jeito mais difícil, que nunca houve uma época boa para retirar as forças do país. E é por isso que ainda estávamos lá.

E a verdade é que o [governo do] Afeganistão caiu mais rápido do que pensávamos. Os líderes afegãos desistiram e fugiram. As forças afegãs colapsaram. E os acontecimentos das últimas semanas reforçam que qualquer movimento dos EUA no Afeganistão agora... os militares americanos não podem e não devem lutar e morrer em uma guerra na qual os afegãos não estão lutando.

Nós gastamos mais de US$ 1 trilhão. Nós treinamos as forças militares afegãs. Nós treinamos mais de 300 mil militares. Pagamos salários. Fizemos a manutenção da força aérea, algo que o Taleban não tem. Nós demos todas as chances para que eles lutassem pelo seu futuro. O que nós não conseguimos foi dar o desejo de lutar por esse futuro. Se o Afeganistão não consegue trazer uma resistência ao Taleban, não há chance de que em um ano, cinco, vinte anos, os militares americanos conseguiriam fazer ali alguma diferença.

Então, eu acredito firmemente no coração, que a saída dos militares americanos é importante porque os próprios afegãos não lutariam. Nós escolhemos os parceiros estratégicos e os gastos de bilhões de dólares para estabilizar o Afeganistão não pode continuar de forma indefinida.

Eu não vou repetir o mesmo erro do passado. O erro de continuar num conflito que não é do interesse nacional. Onde aposta mais ainda em uma guerra civil. São erros que não queremos repetir. Não podemos ignorar essas questões internas.

Sejamos sinceros: a nossa missão no Afeganistão teve muitos erros. Eu sou o 4º presidente a assumir a guerra. E não vou passar essa responsabilidade para o 5º presidente. Eu sou o presidente da América, e essa guerra acaba comigo. Eu estou triste com toda essa situação, mas não me arrependo da minha decisão.

Eu não posso pedir para os militares que lutem sem fim, com vítimas, com danos, com luto, perda. Não é do interesse da nossa segurança nacional. Não é do interesse do povo americano.

Eu fiz compromisso com o povo norte-americano que, ao se eleger, eu retiraria os militares da guerra do Afeganistão. E eu quero cumprir esse compromisso.

Eu sei que a minha decisão será criticada, mas eu prefiro isso do que passar para o próximo presidente.

Veja a seguir uma cronologia resumida da relação entre Estados Unidos e Afeganistão nos últimos 20 anos:

13/11/2001: Ataques aéreos e terrestres feitos pelos Estados Unidos levaram à queda do governo afegão.

2/12/2001 a 5/12/2001: Uma conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) na Alemanha resulta em um acordo para formação de um governo interino no Afeganistão.

01/2004: Afeganistão promulga uma nova Constituição.

9/10/2004: Afeganistão realiza eleições diretas e democráticas.

1/12/2009: Presidente dos EUA Barack Obama anuncia o envio de mais 30 mil tropas americanas para o Afeganistão. Com isso, em 2010 passaram a atuar no Afeganistão quase 100 mil tropas, além das 40 mil da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

2/05/2011: Tropas americanas matam Osama Bin Laden no Paquistão.

22/06/2011: Obama anuncia um plano para reduzir o número de tropas no Afeganistão e afirma que a operação no país deve ser encerrada até 2014.

30/09/2014: Estados Unidos e Afeganistão assinam um acordo que permite que as tropas norte-americanas permaneçam no país além do prazo previsto anteriormente de dezembro de 2014.

9/12/2019: Documentos confidenciais obtidos pelo jornal americano The Washington Post mostram que oficiais estado-unidenses escondeu da população americana dúvidas de que o país seria bem-sucedido na guerra.

14/04/2021: O presidente Joe Biden anuncia sua decisão de remover todas as tropas do Afeganistão antes do dia 11 de setembro de 2021.