Líder antimáscara que morreu de covid dizia preferir liberdade à saúde

O líder de um movimento antimáscara norte-americano, Caleb Wallace, de 30 anos, que morreu de covid-19 após ficar internado por quase um mês em San Angelo, no estado do Texas (EUA), chamava a pandemia de uma "tirania" e fazia declarações negacionistas, contrárias às recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) no combate à doença. Ele realizava campanhas contra as medidas de combate a pandemia e deixou três filhos e a esposa grávida.

Fundador do grupo "The San Angelo Freedom Defenders" (Defensores da Liberdade de San Angelo, em tradução livre), Caleb organizou manifestações em que lutava para "acabar com a tirania covid" se opondo às regras de uso de máscara e à vacina, com objetivo de "garantir direitos dados por Deus e constitucionalmente protegidos", informou o The New York Post.

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"Mostre-me a ciência que as máscaras funcionam [...], que o fechamento de escolas funciona. Mostre-me as evidências de que os bloqueios (lockdown) funcionam", disse Caleb no Facebook, em dezembro de 2020.

No entanto, estudos como um feito pela USP (Universidade de São Paulo) mostram a eficiência de centenas de modelos de máscaras, com algumas delas filtrando quase 100% de partículas que podem conter o novo coronavírus.

'Preocupo-me mais com a liberdade do que com a sua saúde'

Sua trajetória de declarações contra as medidas é extensa. Em uma entrevista ao canal do YouTube San Angelo Live!, em outubro de 2020, o líder antimáscara disse que estava "farto" das precauções obrigatórias contra o combate ao vírus. Seu grupo chegou a fazer uma lista de empresas locais que exigiam o uso de máscaras, com objetivo de que os membros pudessem evitar comprar nesses comércios.

Um mês depois, foi a vez de Caleb fazer declarações negacionistas e contra as máscaras na frente de autoridades da sua cidade, San Angelo. "Não posso dizer a diferença se tenho liberdade para respirar ao ar livre ou respirar atrás, sugando o ar por trás dessa coisa", teria dito ele se referindo à máscara, segundo o canal Kxan, afiliado da NCB no Texas.

"Minha saúde não tem nada a ver com você. Por mais duro que pareça, nossos direitos constitucionais e fundamentais protegem isso [sua suposta liberdade]. Nada mais", afirmou ele, sobre não se proteger contra o vírus utilizando a máscara. "Me desculpe se isso soa tão direto e soe que eu não me importo. Eu me importo. Preocupo-me mais com a liberdade do que com sua saúde pessoal".

Os dados mais recentes mostram que países que adotaram lockdown rígidos como a Austrália e Nova Zelândia, registraram até o momento 52.612 casos e 1.002 mortes e 3.520 casos e 26 mortes, respectivamente, para uma população somada de 30 milhões de pessoas. Os EUA estão com 38.877.840 casos e 637.930 mortes desde 2020. Os dados são da Universidade Johns Hopkins.

A infecção

Segundo o Huffington Post, Wallace começou a sentir os sintomas da covid-19 no dia 19 de julho deste ano, mas a mulher afirmou que ele se recusou a fazer o teste e começou a se medicar por conta própria com aspirina, zinco, vitamina C e ivermectina, medicamentos que não têm comprovação científica em relação à doença.

Caleb Wallace passou a ficar doente com mais gravidade em 26 de julho, ao apresentar falta de ar, febre alta e tosse seca, piorando no dia seguinte, conforme disse sua mulher Jessica, grávida de 8 meses do quarto filho do casal, em entrevista ao jornal local San Angelo Standard-Times.

Em 30 de julho ele foi internado e dias depois intubado. Ele teve morte anunciada publicamente em 28 de agosto por Jéssica.

Jessica afirma que não seguia o que o marido pregava: "Eu sou da cidade fronteiriça Del Rio e minhas opiniões são menos conservadoras". Jessica usa máscara e disse que Caleb entendeu que ela queria fazer isso, mesmo que ele falasse que "máscaras não vão te salvar".

A mãe de Brooke, de 5 anos, Audrey de 3, Kate, de 1, e do bebê que deve nascer em setembro, Emsley Jean Wallace, disse, antes da morte do marido, que as opiniões dele não tiravam sua admiração: "No fim, fosse ele um conservador radical ou não, era um homem incrível".