Jamil Chade: UE tem posição cômoda e hipócrita sobre refugiados afegãos
Hoje se encerra, oficialmente, o prazo dado pelo Talibã para que países ocidentais removam suas tropas do Afeganistão e terminem seus voos de resgate. A expectativa do dia, segundo o colunista Jamil Chade, é o pronunciamento de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, e qual atitude a UE (União Europeia) adotará.
Ao que tudo indica, os europeus não vão acolher os afegãos como fizeram com os sírios em 2015. "Os ministros da UE estão reunidos para tentar definir uma estratégia de como lidar com os refugiados afegãos, já que não querem repetir 2015 com a crise na Síria e ser surpreendidos pelos refugiados", afirmou Chade ao UOL News.
"Querem mantê-los na fronteira com o Paquistão ou Irã, é um comportamento cômodo e hipócrita por parte dos europeus. Dizem que estão preocupados, mas os afegãos que fiquem por ali no Paquistão e Irã, não na Europa", explicou.
"Só no Paquistão existem hoje mais de 1,5 milhão de afegãos, antes de cruzarem a fronteira agora. Crise de refugiados, onde? Já existe há 20 anos no Paquistão e no Irã. Só não querem que chegue na Europa", completou.
Além da aparente posição dos europeus, o colunista chamou atenção para a falta de posicionamento da comunidade internacional como um todo. "No Conselho de Segurança da ONU foi aprovada resolução de que o Talibã deve respeitar os Direitos Humanos, mas não diz o que acontece se não respeitarem", citou.
É algo muito frágil, o mundo hoje está dividido na situação e a população vive uma situação dramática. Um colega diplomata conta que a música nas rádios acabou diante do medo do Talibã".
Jamil Chade
Estados Unidos
A saída dos Estados Unidos é algo que certamente marcará o governo de Biden e a credibilidade dele no exterior, segundo a avaliação de Chade. "O que é que deixam os americanos? Deixam o Afeganistão em sérios problemas econômicos. Antes do Talibã, apenas 1/3 das mulheres era alfabetizada, é um dos países mais corruptos e mais pobres, com crianças desnutridas", falou.
"É desesperador deixar o país nas mãos do Talibã, que demonstra não ter mudado", disse. Além disso, o colunista afirmou que as tropas americanas largaram uma quantidade de equipamentos militares avaliados em cerca de US$ 85 bilhões.
Algumas partes os próprios militares teriam destruído, mas não tudo. "É o que os parceiros dos americanos temem, que o Talibã tenha acesso a um arsenal maior do que tinham em 2001, quando os Estados Unidos chegaram", explicou.
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