Talibã comemora saída dos EUA do Afeganistão: 'País se tornou livre'
Porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid (foto acima) comemorou hoje a saída definitiva das tropas dos Estados Unidos do Afeganistão, depois de 20 anos de presença militar americana no país — a guerra mais longa em que os EUA estiveram envolvidos. O prazo para conclusão deste processo de retirada se encerrava amanhã, segundo estabelecido pelo presidente Joe Biden.
"Doze das últimas tropas americanas deixaram o aeroporto de Cabul [capital do Afeganistão] nesta noite. Desta forma, nosso país se tornou totalmente livre e independente", escreveu Mujahid em uma rede social. Pouco depois, ele anunciou que o último soldado dos EUA deixou Cabul por volta da meia-noite (horário local, 17h em Brasília).
Depois da confirmação da retirada dos últimos soldados americanos, tiros foram ouvidos em diferentes postos de controle do Talibã em Cabul, segundo relatos de jornalistas da AFP. Também no Twitter, Mujahid confirmou que os tiros eram de comemoração e tranquilizou a população.
Os sons de tiros em Cabul são tiros de alegria com a retirada das tropas americanas, e os cidadãos não precisam se preocupar. Estamos em processo de recuperação.
Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã
"Fizemos história"
Importante membro do Talibã, Anas Haqqani também celebrou a saída dos EUA do Afeganistão, classificando o momento como "histórico".
Fizemos história de novo. A ocupação de 20 anos do Afeganistão pelos EUA e pela Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] acabou hoje à noite. Estou muito feliz porque, depois de 20 anos de jihad ["guerra santa" contra inimigos do Islã], sacrifícios e sofrimentos, tenho orgulho de presenciar esses momentos históricos. Oro pelas almas de todos os mártires da jihad.
Anas Haqqani, membro do Talibã
A retirada por completo das tropas americanas já havia sido confirmada pouco antes pelo chefe das Forças Armadas dos EUA, Kenneth F. Mackenzie. Em coletiva, ele ainda anunciou que o país continuará atuando diplomaticamente para evacuar todas as pessoas que queiram deixar Cabul.
"Embora a evacuação militar [americana] esteja completa, a missão diplomática para garantir a retirada de outros cidadãos dos EUA e afegãos elegíveis que queiram partir continua", explicou. "Desde 14 de agosto, aviões dos EUA e seus aliados evacuaram mais de 123 mil civis do Aeroporto Internacional Hami Karzai [em Cabul]".
15 dias de Talibã
Capital do Afeganistão, Cabul foi tomada no último dia 15 pelo Talibã. O ato foi a maior movimentação do grupo fundamentalista em quase 20 anos, e foi feito sem muita resistência, de acordo com relatos vindos do país.
Desde então, os EUA e seus aliados têm lutado para retirar do país militares, tradutores, funcionários de embaixadas locais, ativistas de direitos civis, jornalistas e outros afegãos vulneráveis a represálias do Talibã. As evacuações se tornaram ainda mais perigosas depois que um atentado reivindicado pelo EI-K, braço afegão do Estado Islâmico, deixou dezenas de mortos em Cabul, incluindo 13 militares americanos.
Até a véspera (14) da tomada de Cabul pelo Talibã, os extremistas haviam conquistado províncias que ficavam localizadas ao redor da cidade, como uma forma de montar um cerco estratégico para avançar até a capital. O presidente Ashraf Ghani e seu vice, Amrullah Saleh, deixaram o país horas após a entrada do Talibã em Cabul.
É a primeira vez desde outubro de 2001 que o grupo volta à capital. O risco de tomada de Cabul já era alertado por especialistas, que viam com apreensão a saída total das tropas americanas do Afeganistão depois de 20 anos de ocupação.
(Com AFP e Reuters)
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