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Condores se reproduziram sem macho durante ameaça de extinção, diz estudo

Condor-da-Califórnia - jkauffeld/Getty Images/iStockphoto
Condor-da-Califórnia Imagem: jkauffeld/Getty Images/iStockphoto

Do UOL, em São Paulo

05/11/2021 15h08Atualizada em 06/11/2021 09h27

Cientistas do zoológico de San Diego afirmam que o condor da Califórnia, conhecido como o maior pássaro voador da América do Norte, conseguiu se reproduzir de uma maneira muito rara para a espécie: por meio da partenogênese (quando um óvulo se torna um embrião sem a introdução de espermatozoides).

Em um artigo publicado na semana passada no Journal of Heredity, os cientistas disseram que a partenogênese foi observada em condores pela primeira vez. A descoberta levanta a hipótese de que este poderia ter sido um método de sobrevivência destes animais diante do perigo de extinção que enfrentavam no início dos anos 1980.

"Essa descoberta levanta a questão sobre que a partenogênese está acontecendo com mais frequência com as aves do que imaginávamos anteriormente", disse Oliver Ryder, coautor do estudo e diretor de genética da conservação da San Diego Zoo Wildlife Alliance, ao The Washington Post.

O tipo de reprodução é comum em invertebrados, como abelhas ou escorpiões. Aves raramente podem se reproduzir desta maneira, como é o caso de perus, galinhas e pombos, embora seus descendentes morressem antes que pudessem se desenvolver totalmente.

A sobrevivência do Condor sofreu um baque em 1982, quando sua população caiu para apenas 22 espécimes. Os números podem ser explicados principalmente por conta da caça com munição de chumbo, que envenena os animais mortos que os condores comem. Além disso, muitas das mortes destas aves foram ocasionadas por voos em linhas de transmissão ou pelo consumo de produtos humanos que causam danos à saúde destes animais.

Os esforços para restaurar a população desta ave começaram ainda naquela década, por meio de um programa de reprodução. Na época, a equipe de Ryder coletou impressões digitais de DNA das aves e construiu um banco genético. Já no ano passado, a população tinha alcançado a marca de 500 aves, de acordo com o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA. Os condores permanecem protegidos pela Lei de Espécies Ameaçadas nos Estados Unidos.

Ao examinar o banco de dados que continha perfis genéticos de todos os condores nascidos desde o começo do projeto, Ryder e seus colegas notaram algo estranho e inesperado: dois dos condores eram biologicamente órfãos. Nascidos de duas mães diferentes em cativeiro com anos de diferença, os filhotes carregavam apenas os genes de suas mães, e nenhum gene correspondia a nenhum dos pássaros machos no banco de dados, afirmou o pesquisador.

Entendemos que não havia nenhum macho que pudesse ser o pai destes filhotes. Eles também eram geneticamente uniformes de uma forma que só apresentavam os genes de suas próprias mães.

Apesar da descoberta inovadora, ambos os filhotes não sobreviveram por muito tempo. Um morreu em 2003, com cerca de 2 anos de idade, devido à "má integração com as aves selvagens" e "baixo consumo de alimentos". Já em 2017, o outro morreu aos 8 anos, de complicações causadas por uma ferida na pata.

No entanto, Ryder disse que a descoberta levantou a questão de tentar entender se a partenogênese ocorreu nestas aves porque a população de condores havia diminuído para números tão baixos naquela época. Apesar da hipótese, o cientista afirma que mais pesquisas precisam ser realizadas para chegar a uma conclusão exata.

A natureza continua a nos ensinar. Achamos que entendemos algo, e então você faz uma descoberta como esta e o mundo parece diferente depois disso.