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Polônia acusa Bielo-Rússia de mover imigrantes ilegais para sua fronteira

Bloqueio de imigrantes do Oriente Médio na fronteira entre Polônia e Bielo-Rússia intensifica crise entre os dois países - Mauricio Lima/The New York Times
Bloqueio de imigrantes do Oriente Médio na fronteira entre Polônia e Bielo-Rússia intensifica crise entre os dois países Imagem: Mauricio Lima/The New York Times

Mateus Omena

Colaboração para o UOL, em São Paulo

09/11/2021 11h22

O clima de tensão se intensificou na fronteira entre a Polônia e a Bielo-Rússia, depois que as autoridades polonesas acusaram o país vizinho de mover imigrantes irregulares em direção ao seu território, e mobilizaram unidades militares para reagir aos confrontos.

Diante deste cenário crítico, a Alemanha solicitou hoje à União Europeia que ajude a Polônia a proteger suas fronteiras e controlar o fluxo de imigrantes. E o ministro do interior alemão, Horst Seehofer, se manifestou em defesa de uma coalizão de países democráticos para ajudar a Alemanha a viabilizar a imigração legal no continente.

Seehofer também acusou o líder da Bielo-Rússia, Alexander Lukashenko, e o presidente russo Vladimir Putin de incitar um conflito por meio da exploração de refugiados e migrantes, com o objetivo de desestabilizar as nações ocidentais. E afirmou que os países da UE devem se unir diante de uma "guerra híbrida" representada por uma crise migratória.

A polícia polonesa bloqueou ontem a entrada de centenas de pessoas no país, depois que autoridades bielorrussas as escoltaram até a fronteira.

A Polônia e outros países da UE acusaram a Bielo-Rússia de tentar provocar uma nova crise de refugiados na Europa como retaliação às críticas das nações democráticas às condutas autoritárias de Alexander Lukashenko. O governo bielo-russo emitiu vistos especiais que permitem a entrada de migrantes do Iraque e de outros países do Oriente Médio.

"Os países da UE devem permanecer unidos, porque Lukashenko está usando essas pessoas, com o apoio do presidente russo Vladimir Putin, para desestabilizar o Ocidente", declarou Seehofer ao jornal alemão Bild. "A Polônia ou a Alemanha não podem lidar com isso sozinhas. Devemos ajudar o governo polonês a proteger suas fronteiras externas. Na verdade, essa tarefa seria da Comissão Europeia. Agora estou apelando para que eles ajam ", acrescentou.

O vice de Seehofer, Stephan Mayer, disse ao Bild que "a Alemanha poderia enviar policiais rapidamente para apoiar a Polônia se o país assim desejar".

Um porta-voz do governo polonês afirmou que pelo menos 4.000 migrantes se reuniram perto da fronteira nesta terça-feira. E as autoridades enviaram milhares de soldados para essa área, criaram uma zona militarizada de três quilômetros de profundidade, construíram cercas de arame farpado e aprovaram a construção de um muro de fronteira. E estão declarando um estado de emergência na região.

Confrontos

Na segunda-feira, as tensões entre a Polônia e a Bielo-Rússia aumentaram depois que quase 4.000 imigrantes tentaram romper as barreiras da fronteira com a Polônia.

Guardas de fronteira, policiais e soldados poloneses usaram gás lacrimogêneo para deter aqueles que escalaram os muros ou tentavam cortar as cercas de arame farpado.

Durante a noite, centenas de pessoas dormiram em barracas em um acampamento ao longo da fronteira, e fizeram fogueiras para se protegerem das baixas temperaturas. E nesta manhã, a passagem por um trecho da fronteira na Polônia foi fechada, e a polícia segue monitorando a área.

Os conflitos não se repetiram, mas o clima de apreensão permanece. No lado bielorusso, os guardas têm revistado carros e ônibus que se aproximam da área da fronteira e, segundo relatos, dispararam tiros de alerta para evitar que mais pessoas entrassem no campo.

Muitos dos que buscam entrar na Polônia estão fugindo desesperadamente das guerras, das ameaças do Talibã no Afeganistão e da pobreza no Oriente Médio. A maioria deseja chegar à Alemanha, que afirmou ter recebido mais de 6.100 refugiados da Bielorrússia através da Polônia desde o início do ano.

Reações globais

Na segunda-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu maior apoio à Polônia, Lituânia e Letônia para lidar com a emergência. Ursula garantiu que a UE vai investigar as rotas de imigrantes ilegais e as companhias aéreas envolvidas no tráfico de pessoas.

A Otan também criticou as iniciativas da Bielo-Rússia, acusando o governo de Alexander Lukashenko de usar imigrantes como peões de suas ambições políticas.

Já o Departamento de Estado dos EUA apelou ao governo bielo-russo para interromper imediatamente a sua estratégia de orquestrar e coagir os fluxos de migrantes irregulares através das suas fronteiras para a Europa.

A Polônia, membro da UE e da Otan, tem recebido fortes críticas por sua retórica dura sobre a migração nos últimos anos. As últimas declarações de líderes como Horst Seehofer e Ursula Von der Leyen sugerem um abrandamento da abordagem em relação aos problemas de imigração.

Aqueles que tentavam cruzar a fronteira da Bielo-Rússia com as nações da UE ficaram presos entre os territórios dos dois desde outubro, quando a polícia polonesa foi autorizada a expulsar imigrantes e ignorar os pedidos de asilo. Os guardas de fronteira da Bielo-Rússia se recusaram a permitir que eles voltassem.

A Bielo-Rússia negou ter qualquer participação no direcionamento do fluxo de migrantes. "A indiferença e a atitude desumana das autoridades polonesas levaram os refugiados a dar esse passo de desespero", disse o guarda da fronteira bielorrussa em um comunicado.