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Pesquisadores de vacinas anticovid são eleitos 'Heróis do Ano' pela Time

Os cientistas Kizzmekia Corbett, Barney Graham, Katalin Karikó e Drew Weissman foram eleitos os "heróis do ano" pela revista Time - Divulgação/Time
Os cientistas Kizzmekia Corbett, Barney Graham, Katalin Karikó e Drew Weissman foram eleitos os "heróis do ano" pela revista Time Imagem: Divulgação/Time

Colaboração para o UOL, em Brasília

13/12/2021 13h39

Os cientistas Kizzmekia Corbett, Barney Graham, Katalin Karikó e Drew Weissman foram eleitos os "heróis do ano" pela revista Time, em 2021. "Para aqueles que têm a sorte de viver em países ricos com acesso a essas vacinas de primeira linha, isso fez toda a diferença", diz o anúncio da publicação norte-americana.

"Os milagres por trás das vacinas covid-19 são os heróis do ano da Time, não apenas porque deram ao mundo uma defesa contra um patógeno, mas também porque a forma dessa conquista surpreendente protege mais do que nossa saúde: eles canalizaram suas ambições para o bem comum, conversaram uns com os outros e confiaram nos fatos."

Além dos cientistas, neste ano, a cantora Olivia Rodrigo foi nomeada Artista do Ano e a ginasta olímpica Simone Biles recebeu o título de Atleta do Ano. Na categoria de personalidade do ano, a revista norte-americana elegeu o multibilionário Elon Musk. De acordo com as regras da premiação, o título é dado a quem mais influenciou os acontecimentos dos últimos 12 meses, "para melhor ou pior".

Perseverança que ajudou o planeta

Katalin Karikó e Drew Weissman são responsáveis por desenvolver a mRNA, tecnologia por trás das vacinas anticovid da Pfizer/BioNTech e da Moderna. A tecnologia permite que os laboratórios produzam imunizantes a uma velocidade maior em relação a outros métodos, mais tradicionais. Foi graças a essa tecnologia que as empresas puderam começar a produzir as primeiras doses no mesmo dia em que o coronavírus foi sequenciado, em 20 de janeiro.

No início da década de 2000, Karikó conheceu Weissman, então um cientista recém-chegado que vinha da equipe de Anthony Fauci, referência no combate à epidemia de HIV no auge da doença, nos EUA. Anos depois, em 2005, os pesquisadores descobriram que —ao alterar uma única letra na sequência genética do RNA— era possível evitar uma resposta imunológica exagerada no organismo humano.

Em 2010, um grupo de pesquisadores dos EUA fundou a Moderna, empresa que comprou os direitos das patentes de Karikó e Weissman. Em poucos anos, quase sem publicar estudos científicos, a empresa prometia ser capaz de tratar doenças infecciosas com RNA mensageiro.

Quase ao mesmo tempo, outra pequena empresa alemã fundada por dois cientistas de origem turca, a BioNTech, adquiriu várias das patentes sobre RNA modificado de Karikó e Weissman para desenvolver vacinas contra o câncer. Em 2013, depois de quase 40 anos de trabalho praticamente anônimo, Karikó foi contratada pela BioNTech, em que hoje é vice-presidente.

Ambos pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, Weissman e Karikó ganharam recentemente prestigiosos prêmios de pesquisa biomédica, conhecidos como Prêmios Lasker. Ao aceitar a homenagem, Weissman disse que tão importante quanto a descoberta deles é garantir que todos possam perceber os benefícios.

"Estamos colaborando com pesquisadores de todo o mundo para ajudá-los a criar suas próprias vacinas de RNA mensageiro contra a covid-19 a fim de aumentar o fornecimento global para pessoas em países de baixa e média renda", disse ele.

Katalin também prestou reconhecimento a seus colegas cientistas que, segundo ela, também contribuíram para o sucesso da vacina de RNA mensageiro contra a covid-19. "Penso em todas as meninas que podem se inspirar em minha história e que querem se tornar cientistas. A elas eu digo: fiquem curiosas, tenham a atitude certa e permaneçam no caminho por mais longa e sinuosa que seja essa estrada", afirmou ela.

12 anos de pesquisa

Em setembro deste ano, Barney Graham foi incluído na lista de 100 pessoas mais influentes de 2021 da revista Time por causa de suas contribuições para a vacinação. Graham integrava a equipe de pesquisa nos EUA que desenvolveu uma proteína capaz de combater o vírus. Sua pesquisa descobriu que algumas proteínas do vírus mudam de forma depois que se quebram nas células de uma pessoa, levando ao projeto de uma vacina melhor contra o vírus sincicial respiratório.

Em 2008, Graham estava trabalhando havia mais de 20 anos numa doença pouco conhecida, mas altamente contagiosa, causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR). Tanto o VSR causador do resfriado quanto o coronavírus Sars-CoV-2, que provoca a covid-19, possuem genomas que são feitos de RNA. Embora os dois estejam em ramificações distantes da árvore evolucionária, eles compartilham uma característica física comum que seria o primeiro passo na jornada de Graham no combate à covid-19.

Em 2017, enquanto trabalhava ao lado do biólogo Jason McLellan, Graham descobriu que "adicionar duas prolinas a uma junção-chave da proteína de pico de uma vacina poderia estabilizar a forma de pré-fusão da estrutura" (patente WO2018081318A1).
Posteriormente, esse método, quase incompreensível para leigos, seria aplicado à vacina anticovid-19. Durante a pandemia, o laboratório de Graham fez parceria com a Moderna para desenvolver tecnologia de vacinas.

Representatividade: negra na vanguarda da vacina

Única pessoa negra na lista de heróis do ano em 2021, Corbett começou a trabalhar numa vacina anticovid-19 logo no início da pandemia. Reconhecendo que o vírus era semelhante ao coronavírus da síndrome respiratória aguda grave, a equipe de Corbett utilizou o conhecimento prévio sobreas proteínas S do coronavírus para tentar combater o novo patógeno.

A equipe de Corbett, em colaboração com Jason McLellan e outros pesquisadores da Universidade do Texas, transplantou mutações estabilizadoras da proteína SARS-CoV S na proteína spike SARS-CoV-2.

Em dezembro de 2020, o diretor do Instituto, Anthony Fauci disse: "Kizzy é um cientista afro-americano que está na vanguarda do desenvolvimento da vacina." Num artigo, também para a Time, Fauci escreveu que Corbett tem "sido fundamental para o desenvolvimento da vacina de mRNA Moderna e o anticorpo monoclonal terapêutico Eli Lilly, que foram os primeiros a entrar em testes clínicos nos EUA " e que "seu trabalho terá um impacto substancial no fim da pior pandemia de doença respiratória em mais de 100 anos."

O trabalho de Corbett proporcionou a ela a oportunidade de fazer parte da equipe do National Institutes of Health, em março de 2020. Quando questionada sobre seu envolvimento com o desenvolvimento da vacina covid-19, Corbett disse: "Estar vivendo neste momento em que tenho a oportunidade de trabalhar em algo que tem importância global iminente ... é apenas um momento surreal para mim".