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Grávida sem teste de covid-19 é barrada em hospital e perde bebê na China

Grávida chinesa esperou por horas atendimento por não ter teste de covid-19 - Reprodução
Grávida chinesa esperou por horas atendimento por não ter teste de covid-19 Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/01/2022 13h26Atualizada em 06/01/2022 13h47

Uma mulher sofreu um aborto espontâneo após ter o atendimento médico imediato negado por não portar um teste negativo para covid-19, na cidade de Xi'an, no norte da China. Liu Shunzhui, diretor local da Comissão de Saúde de Xi'an, fez um pedido público de desculpas hoje.

Os profissionais de saúde do hospital alegaram que sua admissão à unidade violaria as regras sanitárias locais contra a pandemia do novo coronavírus, pois a cidade está sob rígido controle de saúde depois do aumento de casos de covid-19.

Em um vídeo postado na plataforma de mídia social chinesa Weibo, em 3 de janeiro, a gestante aparece sentada do lado de fora do hospital com uma poça de sangue ao redor de seus pés. Ela recebeu atendimento horas depois, mas já havia perdido seu filho ainda não nascido. A mulher estaria no oitavo mês de gestação.

"Em nome da Comissão Municipal de Saúde, peço desculpas profundas à paciente e desculpas profundas pelo precário acesso ao tratamento médico e implementação inadequada de atendimento para grupos especiais durante a epidemia", disse Liu Shunzhui.

O diretor da Comissão de Saúde de Xi'an recebeu hoje uma advertência disciplinar do Partido Comunista após um protesto público nas redes sociais contra o descaso dos profissionais de saúde em relação à gestante e a outros pacientes.

Cidade vive rígido controle sanitário

A cidade de Xi'an é o epicentro do maior surto de coronavírus na comunidade da China desde Wuhan, local onde se originou a pandemia. Os residentes vivem sob um regime restrito desde dezembro. Por outro lado, ontem, os casos de covid-19 na cidade chinesa caíram para até o seu nível mais baixo nas últimas semanas. As autoridades locais declararam que o surto está "sob controle" depois de duas semanas de confinamento obrigatório.

Por outro lado, o cenário pandêmico em Xi'an vem se mostrando preocupante, já que as condições ainda se assemelham ao início de 2020. Desde dezembro, a cidade enfrenta o maior surto de coronavírus no país, com mais de 1.600 casos confirmados até o momento. Isso empurrou os índices de contágio na última semana de 2021 para o nível mais alto desde março de 2020.

Por 12 dias, os 13 milhões de residentes de Xi'an ficaram confinados em suas casas. A cidade, que antes era um ponto turístico, passou o Réveillon com ruas desertas, lojas fechadas, complexos residenciais fechados e um aeroporto vazio. O cenário deixou os moradores com falta de alimentos e outros suprimentos essenciais, o que afetou o acesso a serviços médicos.

Diante disso, uma onda de raiva e frustração em relação ao governo local se seguiu, ressaltando o desafio crescente enfrentado pela política de erradicação da covid-19 na China, que se baseia em um manual de testes em massa, quarentenas extensas e bloqueios instantâneos para impedir qualquer ressurgimento do vírus.

Por quase dois anos, essas medidas protegeram a maior parte do país das piores consequências da pandemia, e conquistaram o apoio popular esmagador. Mas como os surtos locais continuam, a escalada de protestos em Xi'an levanta a questão de quanto tempo a política de 'Covid zero' pode ser sustentada antes que o apoio dos civis comece a diminuir, com milhões de residentes presos em um ciclo aparentemente interminável de bloqueios.

Na última semana, o Weibo foi inundado de pedidos de ajuda e críticas sobre a incompetência do governo local de Xi'an. Durante a transmissão ao vivo de uma entrevista coletiva do governo sobre a Covid, os residentes manifestaram nos comentários suas insatisfações e reclamaram por mantimentos, o que levou autoridades a desabilitar todos os comentários.

Apesar da censura, os protestos não cessaram. No Weibo, a hashtag "Fazer compras em Xi'an é difícil" foi vista 380 milhões de vezes até segunda-feira.

Muitos residentes se sentiram frustrados por não terem acumulado alimentos suficientes com antecedência porque as autoridades locais lhes garantiram repetidamente que os suprimentos de comida eram abundantes e não havia necessidade de pânico.

Nos primeiros dias do lockdown, cada família teve permissão para enviar uma pessoa designada para comprar mantimentos a cada dois dias. Mas, à medida que os casos continuavam a aumentar, o governo de Xi'an tornou ainda mais rígidas as medidas de bloqueio, exigindo que todos os residentes ficassem em casa, a menos que tivessem permissão para sair para fazer exames em massa.

Recentemente, as autoridades locais prometeram entregas constantes de mantimentos para os residentes. Embora a escassez de suprimentos tenha diminuído em alguns bairros, muitas pessoas reclamaram nas redes sociais que não haviam recebido esses recursos em suas comunidades. Enquanto isso, a abordagem agressiva adotada pelo governo em algumas áreas para impor o bloqueio elevou ainda mais a indignação.

A situação se agravou na última sexta-feira (31), quando um vídeo que circulou nas redes sociais mostrou um homem sendo espancado por policiais responsáveis pela prevenção da Covid nos portões de um complexo residencial quando tentou entrar com um saco de pães cozidos no vapor.

Para alguns, o custo do bloqueio se tornou muito alto. Na semana passada, a mídia estatal noticiou incidentes em que indivíduos fizeram de tudo para escapar de Xi'an antes das restrições começarem. Como foi o caso de um homem que pedalou por 10 horas durante a noite em temperaturas quase congelantes na tentativa de voltar para sua cidade natal, depois que soube que Xi'an seria submetida ao lockdown. Ele foi colocado em quarentena e multado em 200 yuans, de acordo com um comunicado da polícia do condado de Chunhua.

Apesar das dificuldades, as autoridades de Xi'an prometeram repetidamente sua resolução de conter o surto em público.

Em uma entrevista coletiva no domingo (2), Liu Guozhong, o chefe do Partido Comunista da província de Shaanxi, da qual Xi'an é a capital, prometeu "elevar ainda mais os ânimos, fortalecer a consciência de prevenção, controle e isolamento, priorizar a prevenção de epidemias e controle em vilas urbanas, e alcançar a meta de trazer os casos de volta a zero na sociedade o mais rápido possível".

Apesar das críticas, as medidas severas de bloqueio parecem estar funcionando, já que o número de casos diários de Xi'an demonstraram queda desde domingo.

Se a tendência continuar, provavelmente levará apenas algumas semanas até que Xi'an consiga conter o surto.

(Com informações da AFP).