Europa 'será livre', disse Biden em 2002 ao votar pela expansão da Otan
No centro do conflito entre Rússia e Ucrânia, o hoje presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu em 2002 uma votação no Senado americano que autorizou a expansão da Otan —aliança militar criada por EUA e Europa após a 2ª Guerra— para o leste europeu. Na ocasião, ele afirmou que a medida tornaria a Europa "livre".
A Rússia invadiu a Ucrânia na última quarta-feira (23) justamente sob o argumento de evitar a adesão da antiga república soviética à Otan, que se expande desde o final dos anos 1990 apesar de protestos russos.
Segundo o presidente russo Vladimir Putin, a origem do atual conflito remonta ao fim da Guerra Fria, em 1991, quando a Otan teria se comprometido com a Rússia a não avançar sobre as repúblicas que ganhariam independência após a dissolução da União Soviética, acordo esse que a Otan nega que tenha existido.
Apesar da oposição russa, a República Tcheca, Hungria e a Polônia já faziam parte da aliança militar ocidental no final daquela década.
"Ali já pisca um sinal de alerta", disse ao UOL Maristela Basso, professora de direito internacional da USP.
A tensão, no entanto, aumenta em 2002, quando com apoio do hoje presidente Joe Biden, o Senado americano aprovou a expansão da Otan e ainda autorizou envio de ajuda financeira a sete países do leste e do centro da Europa candidatos a membros da aliança militar.
Então presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, Biden afirmara que a votação era simbólica.
"Nesse caso o simbolismo importa", afirmou Biden sobre o resultado, uma "importante mensagem" sobre a "política de portas abertas" da Otan. Ele disse ainda que a expansão da aliança faria da Europa um continente "livre".
A expansão da Otan aumenta significativamente o processo de mudança da zona de estabilidade em direção ao leste europeu, portanto apressando o dia em que o continente será livre como um todo"
Joe Biden, em 2002
Além de permitir o avanço da Otan para o leste europeu, os senadores aprovaram o repasse de US$ 55,5 bilhões (valores de então) a sete países que na época se interessaram por integrar a aliança militar ocidental.
Por esmagadores 85 votos a 6, o dinheiro foi dividido entre Estônia, Lituânia, Letônia, Eslováquia, Eslovênia, Bulgária e Romênia. A verba serviria para ajudar esses países a cumprirem os requisitos para a adesão.
Hoje, 14 dos 30 países que compõem a aliança militar são do leste europeu.
Desde o final dos anos 1990 estrategistas americanos avisavam que isso daria problema. Mas continuaram até que encontraram do outro lado o Putin, que decidiu fechar essa conta"
Maristela Basso, professora da USP
Se a Otan integrar a Ucrânia, a aliança militar ocidental fará fronteira com a Rússia, tudo o que Putin não quer.
"Era uma questão de tempo. O Putin está dizendo: 'pegar a Ucrânia para vocês já não dá'", diz a professora.
Naquele ano de 2002, Biden também votou a favor da guerra no Iraque, depois de realizar audiências de várias testemunhas que sugeriram erroneamente que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa.
A resposta de Putin
Professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra e membro do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), Ronaldo Carmona afirma que Putin esperou "um raro enfraquecimento do ocidente" para atacar a Ucrânia.
"A despeito de ser a maior potência, os Estados Unidos enfrentam divisões internas como nunca se viu. O Donald Trump [ex-presidente americano] disse que a guerra acontece porque o Joe Biden [atual presidente] fraudou a eleição", afirma. "E a União Europeia não tem voz porque também padece de profundas divisões."
Esse momento de fraqueza permite a Putin enfrentar um problema vital para a soberania da Rússia"
Ronaldo Carmona, professor da Escola Superior de Guerra
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.