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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Europa 'será livre', disse Biden em 2002 ao votar pela expansão da Otan

22.nov.2021 - O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa em Washington - Alex Wong/Getty Images/AFP
22.nov.2021 - O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa em Washington Imagem: Alex Wong/Getty Images/AFP

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

26/02/2022 04h00

No centro do conflito entre Rússia e Ucrânia, o hoje presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu em 2002 uma votação no Senado americano que autorizou a expansão da Otan —aliança militar criada por EUA e Europa após a 2ª Guerra— para o leste europeu. Na ocasião, ele afirmou que a medida tornaria a Europa "livre".

A Rússia invadiu a Ucrânia na última quarta-feira (23) justamente sob o argumento de evitar a adesão da antiga república soviética à Otan, que se expande desde o final dos anos 1990 apesar de protestos russos.

Segundo o presidente russo Vladimir Putin, a origem do atual conflito remonta ao fim da Guerra Fria, em 1991, quando a Otan teria se comprometido com a Rússia a não avançar sobre as repúblicas que ganhariam independência após a dissolução da União Soviética, acordo esse que a Otan nega que tenha existido.

Apesar da oposição russa, a República Tcheca, Hungria e a Polônia já faziam parte da aliança militar ocidental no final daquela década.

"Ali já pisca um sinal de alerta", disse ao UOL Maristela Basso, professora de direito internacional da USP.

A tensão, no entanto, aumenta em 2002, quando com apoio do hoje presidente Joe Biden, o Senado americano aprovou a expansão da Otan e ainda autorizou envio de ajuda financeira a sete países do leste e do centro da Europa candidatos a membros da aliança militar.

Então presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, Biden afirmara que a votação era simbólica.

"Nesse caso o simbolismo importa", afirmou Biden sobre o resultado, uma "importante mensagem" sobre a "política de portas abertas" da Otan. Ele disse ainda que a expansão da aliança faria da Europa um continente "livre".

A expansão da Otan aumenta significativamente o processo de mudança da zona de estabilidade em direção ao leste europeu, portanto apressando o dia em que o continente será livre como um todo"
Joe Biden, em 2002

Além de permitir o avanço da Otan para o leste europeu, os senadores aprovaram o repasse de US$ 55,5 bilhões (valores de então) a sete países que na época se interessaram por integrar a aliança militar ocidental.

Por esmagadores 85 votos a 6, o dinheiro foi dividido entre Estônia, Lituânia, Letônia, Eslováquia, Eslovênia, Bulgária e Romênia. A verba serviria para ajudar esses países a cumprirem os requisitos para a adesão.

Hoje, 14 dos 30 países que compõem a aliança militar são do leste europeu.

Desde o final dos anos 1990 estrategistas americanos avisavam que isso daria problema. Mas continuaram até que encontraram do outro lado o Putin, que decidiu fechar essa conta"
Maristela Basso, professora da USP

Se a Otan integrar a Ucrânia, a aliança militar ocidental fará fronteira com a Rússia, tudo o que Putin não quer.

"Era uma questão de tempo. O Putin está dizendo: 'pegar a Ucrânia para vocês já não dá'", diz a professora.

Naquele ano de 2002, Biden também votou a favor da guerra no Iraque, depois de realizar audiências de várias testemunhas que sugeriram erroneamente que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa.

Mapa Otan - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

A resposta de Putin

Professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra e membro do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), Ronaldo Carmona afirma que Putin esperou "um raro enfraquecimento do ocidente" para atacar a Ucrânia.

"A despeito de ser a maior potência, os Estados Unidos enfrentam divisões internas como nunca se viu. O Donald Trump [ex-presidente americano] disse que a guerra acontece porque o Joe Biden [atual presidente] fraudou a eleição", afirma. "E a União Europeia não tem voz porque também padece de profundas divisões."

Esse momento de fraqueza permite a Putin enfrentar um problema vital para a soberania da Rússia"
Ronaldo Carmona, professor da Escola Superior de Guerra