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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


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Voluntários brasileiros se unem e ajudam conterrâneos a saírem da Ucrânia

Clara Magalhães Martins aguarda na fronteira da Polônia brasileiros que buscam deixar a área invadida pelos russos - Clara Magalhães Martins/Arquivo Pessoal
Clara Magalhães Martins aguarda na fronteira da Polônia brasileiros que buscam deixar a área invadida pelos russos Imagem: Clara Magalhães Martins/Arquivo Pessoal

Lucila Runnacles

Colaboração para o UOL, em Madri

26/02/2022 15h07

Enquanto a Rússia avança sobre a Ucrânia na mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), voluntários brasileiros no Brasil e na Europa usam grupos em redes sociais e fazem vaquinha online para ajudar outros conterrâneos a saírem da área de conflito.

"Primeiro fiz um post em uma rede social oferecendo alojamento no meu apartamento na Alemanha, onde moro atualmente. Logo tivemos a ideia de criar um grupo no Telegram para compartilhar e centralizar informações", conta a paulista Clara Magalhães Martins.

Em menos de 48 horas, uma centena de brasileiros se uniu para divulgar informação e auxiliar na retirada de compatriotas da Ucrânia.

Eles compartilham no grupo todo tipo de informação que possa ajudar: horários de trens extras, pessoas que oferecem alojamento ou apoio em países vizinhos, áreas onde a situação está mais complicada na Ucrânia, e até mesmo mensagens de brasileiros que estão oferecendo refúgio dentro do próprio país em guerra.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Do mundo virtual à ação em poucas horas

Compras - Clara Magalhães Martins/Arquivo Pessoal - Clara Magalhães Martins/Arquivo Pessoal
Compras feitas pela paulista que mora na Alemanha Clara Magalhães para ajudar brasileiros que chegam à fronteira da Ucrânia com a Polônia
Imagem: Clara Magalhães Martins/Arquivo Pessoal

Além de criar o grupo na rede social, Clara dirigiu da Alemanha até a fronteira da Polônia com a Ucrânia por mais de 15 horas. A advogada alugou um carro e comprou vários alimentos com dinheiro do próprio bolso para distribuir onde fosse preciso. Cerca de 115.000 pessoas cruzaram a fronteira com a Polônia desde o início do ataque russo, na quinta-feira — anunciou vice-ministro polonês do Interior, Pawel Szefernaker, neste sábado (26).

Clara deu entrevista ao UOL enquanto esperava notícias de brasileiros que pegaram um trem em Kiev e que estavam tentando chegar à fronteira ainda hoje.

"Estou há muitas horas sem dormir e cheguei no começo da tarde deste sábado (26). Estamos aqui para ajudar no que for possível. É lindo ver esta rede de apoio que está se formando", diz.

Voluntários na fronteira da Polônia - Clara Magalhães Martins/Arquivo Pessoal - Clara Magalhães Martins/Arquivo Pessoal
Voluntários na fronteira da Polônia ajudam na retirada de estrangeiros da Ucrânia
Imagem: Clara Magalhães Martins/Arquivo Pessoal

A situação na fronteira em que está, na cidade polonesa de Medyka, ainda está tranquila, afirma Clara. Ela diz que viu filas nos postos de gasolina da cidade, mas que ali há combustível.

"Enquanto espero aqui, estou vendo muitas famílias ucranianas chegando com carros lotados, malas e colchões. Tem muitos voluntários e pessoas que estão chegando para oferecer carona para outras regiões da Polônia e distribuindo alimentos", relata.

Ligia Lapa é outra brasileira que está ajudando na coordenação do grupo. "Filtramos as informações que chegam até nós para facilitar a evacuação e repassamos quais fronteiras estão abertas, etc. Somos como um meio de campo. Também perguntamos se tem pessoas dispostas a oferecer acomodação ou até mesmo um prato de comida e essa cadeia de solidariedade só aumenta", conta a paulista, que mora na Bulgária há 4 anos.

Um contato leva a outro

João Bernardi, que é radialista no Rio Grande do Sul, ficou sabendo do grupo e colocou um brasileiro também jogador de futebol que estava tentando sair da Ucrânia em contato com o grupo "Teto Brasucat".

"Hoje de manhã acordei com um áudio dele dizendo que tinha conseguido chegar na Romênia graças à ajuda recebida no grupo, e que logo estaria embarcando para o Brasil. O brasileiro é incrível, a gente se ajuda muito nessas horas. Isso é algo realmente emocionante", descreve.

Como tudo no grupo é voluntário, Clara decidiu abrir uma campanha virtual para arrecadar dinheiro e, assim, ajudar mais pessoas. Quem quiser pode doar qualquer quantia de qualquer lugar do mundo através do site Vakinha.com.br, e procurar a campanha Extração de Brasileiros na Ucrânia.

A embaixada do Brasil em Kiev, na Ucrânia, divulgou nesta sexta-feira (25) nas redes sociais que estava disponibilizando lugares em um trem com destino à cidade de Chernivtsi, próximo à fronteira da Romênia, para brasileiros e latino-americanos. Mas nem todos os brasileiros que ainda estão na Ucrânia puderam embarcar, seja por falta de lugares ou por dificuldade de acesso ao local de embarque.

Na manhã deste sábado, um grupo de jogadores brasileiros, familiares e amigos conseguiu pegar um trem e sair de Kiev após deixar o bunker em um hotel da capital ucraniana, onde eles passaram os últimos dias em meio à guerra contra a Rússia. Os cerca de 50 brasileiros se dividiram em carros e foram em comboio até uma estação de trem de Kiev.