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Resistência na Ucrânia: moradores xingam russos e fazem trincheiras; veja

11.fev.2022 - Adolescentes ucranianos cavam para soldados que servem na frente oriental de seu país e enfrentam separatistas apoiados pela Rússia, perto da vila de Chervone, no leste da Ucrânia - Aleksey Filippov/AFP
11.fev.2022 - Adolescentes ucranianos cavam para soldados que servem na frente oriental de seu país e enfrentam separatistas apoiados pela Rússia, perto da vila de Chervone, no leste da Ucrânia Imagem: Aleksey Filippov/AFP

Do UOL, do Rio de Janeiro

01/03/2022 18h34

Na guerra entre Rússia e Ucrânia, a resistência dos moradores acontece de formas que vão da escavação de trincheiras à produção de coquetéis molotov. As histórias viralizam e especialistas lembram que é importante ter atenção ao significado dessas narrativas.

"Todo conflito internacional possui cenas de resistência, da população civil enfrentando tanques e da desproporcionalidade da guerra. Elas representam a realidade que, por vezes, esquecemos: são pessoas que lutam guerras decididas em grandes círculos de poder", afirma Lucas Carlos Lima, professor de Direito Internacional da Universidade Federal de Minas Gerais.

No caso ucraniano, não faltam histórias do tipo. Antes mesmo do início da guerra, um grupo de adolescentes de um abrigo situado na cidade de Chervone, no sudeste do país, já escavava trincheiras para abrigar soldados.

Quando o conflito começou, moradores de Lviv, no oeste da Ucrânia, iniciaram uma rotina de patrulhamentos para proteger a cidade.

"A Rússia mandou soldados para fazer diligências e também para marcar lugares onde os tanques devem ir para atacar. Nosso maior trabalho é achar os sinais e apagá-los", afirmou à época o brasileiro Igor Galli, professor de inglês e morador de Lviv.

A mesma cidade abriga a Pravda, uma cervejaria que decidiu interromper sua produção de bebidas para se dedicar à fabricação de coquetéis molotov, destinados à defesa territorial ucraniana.

No primeiro dia de confrontos, viralizou na internet o vídeo de um homem que, sem equipamento de segurança, removeu uma mina terrestre num local identificado como Berdyansk, no sul do país.

No dia 26, foi a vez de imagens de uma ucraniana xingando soldados russos em Henichesk, no litoral ucraniano, ganharem as redes.

"Que merda vocês estão fazendo na nossa terra com essas armas?", pergunta ela no vídeo. "Pegue sementes e coloque-as no seu bolso, pois assim pelo menos os girassóis brotarão em solo ucraniano após sua morte", diz.

Outra gravação que se tornou popular nos últimos dias mostra civis desarmados que tentam impedir o avanço de veículos russos em Chernigov, a 150 quilômetros de Kiev.

Civis recebem apoio internacional

Colunista de política no diário americano Washington Post, a jornalista Jennifer Rubin definiu as ações dos civis na Ucrânia como "um momento de bravura de tirar o fôlego". "O povo ucraniano e seus líderes, com graça e coragem inimagináveis, se recusaram a ceder diante da força esmagadora", escreveu ela.

Já o historiador, professor universitário e escritor israelense Yuval Noah Harari afirmou, em artigo publicado pelo jornal inglês The Guardian, que "o povo ucraniano está resistindo de todo coração, conquistando a admiração do mundo inteiro - e vencendo a guerra".

Para Harari, as histórias que chegam da Ucrânia "dão coragem aos governos das nações europeias, ao governo dos EUA e até mesmo aos cidadãos oprimidos da Rússia".

Lima concorda com a opinião. "Esses episódios circulam muitas vezes com maior reverberação que discursos diplomáticos. Podem ficar na mente tanto do tomador de decisão quanto do manifestante que pede o fim do conflito", diz.

Controle das histórias é parte da guerra

"Navio de guerra russo, vá se foder", disse por meio dos alto-falantes o porta-voz da tripulação de um navio de guerra ucraniano que estava na Ilha da Cobra, no Mar Negro, aos militares de uma embarcação russa no último dia 24.

O vídeo mostrando a situação viralizou na internet, juntamente com a informação de que os ucranianos haviam sido mortos após o envio da mensagem. Porém, dias depois, imagens divulgadas pelas forças russas revelaram que os militares estavam vivos e haviam, na verdade, sido capturados pelos inimigos.

"Notícias falsas tiveram papel importante no Brexit, nas últimas eleições presidenciais americanas e brasileiras", afirma Tito Lívio Barcellos Pereira, mestre em ciência política pelo Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense.

"Na guerra, a propaganda sempre foi uma arma e ela costuma ser extremamente utilizada. É preciso ter cuidado", comenta ele. Na sociedade em rede em que vivemos, uma informação viraliza antes que possa ser desmentida", conclui.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL