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Ataque da Rússia para explodir usina nuclear seria suicida, diz historiador

04/03/2022 09h12

O ataque da Rússia contra a maior usina nuclear da Europa despertou a preocupação de uma possível explosão. Mas de acordo com o historiador Rodrigo Ianhez, que participou do UOL News nesta manhã, a Rússia agiu de forma estratégica. No entendimento dele, o objetivo não era causar uma explosão, pois isso seria "um ataque suicida".

"Uma explosão 10 vezes maior que Chernobyl atingiria vastas regiões da Rússia. Se o ataque tinha essa intenção, seria um ataque suicida. Não faria sentido", analisou Ianhez.

O historiador também entende que o ataque pode ter sido estratégico por dois motivos: primeiro porque os russos sabem que um bombardeio convencional não causaria a explosão da usina; e depois porque o domínio da usina é importante para controlar a energia ucraniana.

"Os russos têm conhecimento do que há no local. O controle da usina é estratégico, mas não acredito que eles achassem que esse conflito podia causar um acidente nuclear. Especialistas apontam que é pouquíssimo provável que uma troca de tiros penetrasse a usina. Para penetrar seria preciso um bombardeio constante, longo, com concentração nesse local. E não é algo que nós observamos", analisou o historiador, completando depois: "A gente nem devia discutir questão da usina em termos de uma improvável catástrofe nuclear. É um objetivo estratégico. Faz sentido tomar uma usina fundamental para controlar energia ucraniana".

Ianhez não acredita que "os russos estejam agindo irracionalmente a ponto de arriscar o próprio país". Ele destacou que "uma contaminação poderia atingir o Mar Negro e portanto todos oceanos do mundo". Mas também ressaltou que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nem sempre cumpre o que diz.

"A Rússia não é um ator irracional, que arriscaria um vasto território do seu país. Mas o Putin não deixa claro seus objetivos. Ele falou que não pretendia ocupar o país. Mas o que ele deu a entender, quando anunciou as operações militares, não se concretizou. Ele falou que ia se limitar a Donbass e não foi o que ocorreu. De modo que a cada dia que a situação se estender, o resultado será pior", concluiu Ianhez.

De acordo com o historiador, que normalmente vive na Rússia, apesar da possível vitória do país na guerra contra a Ucrânia, existem derrotas com consequências duradouras.

"Mesmo se a Rússia alcançar o objetivo de neutralizar e desmilitarizar a Ucrânia, em outros fronts ela está perdendo: economicamente sofre sanções sem precedentes. Finlândia e Suécia cogitam entrar na aliança da Otan. A Alemanha começou uma remilitarização que não se vê desde a 2ª Guerra Mundial. Diplomaticamente foi uma derrota tremenda, independente do resultado na Ucrânia. E pra imagem da Rússia serão anos, talvez décadas, pra recuperar a imagem. Conheço russos, tenho amigos russos, e tenho observado situações de xenofobia. E acredito que foi só o começo", relatou Ianhez.

  • Veja as últimas informações sobre a guerra na Ucrânia e mais notícias no UOL News com Fabíola Cidral: