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Explosão de usina seria 10x maior que Chernobyl, diz Ucrânia; relembre caso

Do UOL, em São Paulo*

04/03/2022 08h38

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, reagiu ao ataque da Rússia contra a usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, e disse que se a central explodir, o desastre "será dez vezes maior que Chernobyl", cenário da pior catástrofe nuclear da história, há quase 36 anos, e que atualmente está sob controle russo.

O fogo em Zaporizhzhia foi extinto, nenhum dos reatores foi atingido e não houve liberação de material radioativo. A central, no entanto, está sob controle da Rússia, e há registro de mortos e feridos, informaram as autoridades ucranianas.

"O exército russo está disparando de todos os lados contra a central nuclear de Zaporizhzhia, a maior usina nuclear da Europa. O fogo já começou. Se explodir, será dez vezes maior que Chernobyl! Os russos devem cessar imediatamente o fogo, permitir a entrada dos bombeiros, estabelecer uma zona de segurança!", escreveu Kuleba em sua conta no Twitter na noite de ontem, logo após a invasão.

Minutos depois do ataque, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de recorrer ao "terror nuclear" e de querer "repetir" a tragédia de Chernobyl. Hoje, Zelensky disse que o ataque poderia ter "parado a história da Europa". O presidente ucraniano divergiu um pouco de seu ministro sobre o impacto. Segundo ele, o desastre pode ser "seis vezes maior que Chernobyl".

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Relembre desastre de Chernobyl

Reator Chernobyl - Domínio Público - Domínio Público
Reator de Chernobyl
Imagem: Domínio Público

Chernobyl foi a primeira usina nuclear da Ucrânia, quando o país ainda era um território da União Soviética. Começou a ser construída em 1972, com quatro reatores nucleares do tipo RBMK (reatores canalizados de alta potência). Depois que as obras terminaram em 1977, a instalação passou a funcionar como as outras usinas nucleares.

Até 1986, a usina era responsável por produzir aproximadamente 10% de toda a energia consumida pela Ucrânia. No entanto, em 26 de abril daquele ano, às 1h23, o reator número 4 da central, situado a 100 quilômetros da capital Kiev, explodiu durante um teste de segurança, causando a morte imediata de quase 30 pessoas.

Durante 10 dias, o combustível nuclear queimou e liberou na atmosfera elementos radioativos que contaminaram, segundo algumas estimativas, até 75% da Europa, especialmente as então repúblicas soviéticas da Ucrânia, Belarus e Rússia.

As autoridades soviéticas tentaram esconder o acidente. O líder da URSS na época, Mikhail Gorbachev, não falou publicamente sobre a questão até 14 de maio.

Um total de 116 mil pessoas foram retiradas em 1986 dos arredores da central, que permanecem atualmente praticamente inabitados. Nos anos posteriores, outros 230 mil moradores deixaram a zona.

Placa com símbolo de radiação em Pripyat, na Ucrânia. A cidade foi centro da tragédia de Chernobyl - Getty Images - Getty Images
Placa com símbolo de radiação em Pripyat, na Ucrânia. A cidade foi centro da tragédia de Chernobyl
Imagem: Getty Images

Durante quatro anos, quase 600 mil pessoas foram enviadas ao local do desastre com pouca ou nenhuma proteção para controlar o incêndio, isolar o reator com uma cobertura de concreto e limpar os arredores.

Passados quase 36 anos do desastre, o balanço de vítimas da catástrofe continua sendo objeto de debate. O comitê científico da ONU (Unscear) reconhece oficialmente apenas 30 mortes entre os operários e bombeiros que faleceram vítimas da radiação após a explosão.

Em 2006, a ONG Greenpeace calculou em quase 100 mil o número de mortes provocadas pelos efeitos radioativos da catástrofe nuclear.

A central de Chernobyl manteve a produção de energia elétrica até dezembro de 2000, quando a pressão dos países ocidentais resultou na paralisação do último reator operacional.

Após anos de adiamento, no final de 2016 foi instalado um arco gigante de aço sobre o reator danificado, estrutura que cobriu o "sarcófago" de concreto, rachado e instável, e que deve garantir a segurança pelos próximos 100 anos.

Especialistas apontam que até 30% das 190 toneladas métricas de urânio de Chernobyl foram emitidas na atmosfera. As autoridades afirmam que os humanos não poderão viver na região de forma segura por pelo menos 24 mil anos.

O acidente foi apontado como umas das razões que contribuíram para o fim da União Soviética. Os impactos econômicos imputados pelo acidente só pioraram a crise econômica que a nação soviética vivia desde a década de 1970.

Apesar de não estar mais funcionando, a região da usina foi invadida por militares russos. Segundo Leonardo Paz, analista de inteligência do FGV-NPII (Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas), o fator nuclear pode estar por trás da invasão.

"A usina é importante porque ainda tem material nuclear que é fundamental para ser usado em qualquer ambição bélica. Da mesma maneira que Putin anexou a Crimeia em função da posição estratégica, tendo acesso rápido a material nuclear, você desarticula qualquer reação futura da Ucrânia", disse Leonardo.

Leonardo Trevisan, professor de geoeconomia internacional da ESPM, aponta que apesar de desativada, a usina é importante também porque representa um símbolo da era soviética.

Um pico de radiação foi registrado perto da usina após a apreensão por forças russas. Um desastre na extinta usina nuclear, no entanto, é "extremamente improvável", dizem especialistas.

* Com AFP e informações da reportagem de Rebecca Vettore, colaboração para o UOL