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Ucrânia: A brasileira grávida que fugiu da guerra sem abandonar o cachorro

A bióloga Vanessa Rodrigues Granovski, à direita, passou por tensão até obter autorização para embarcar com Thor de volta ao Brasil durante fuga da Ucrânia - Arquivo pessoal
A bióloga Vanessa Rodrigues Granovski, à direita, passou por tensão até obter autorização para embarcar com Thor de volta ao Brasil durante fuga da Ucrânia Imagem: Arquivo pessoal

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL

04/03/2022 22h41Atualizada em 04/03/2022 23h53

As últimas 24 horas foram os momentos de maior apreensão para a bióloga brasileira Vanessa Rodrigues Granovski, 36, que acaba de sair da Ucrânia, sob invasão de forças russas desde a semana passada. Na Polônia para finalmente voltar ao Brasil, ontem, ela fez um apelo pedindo ajuda para que as autoridades a permitissem deixar a Europa em voo de resgate sem que tivesse que abandonar o seu cachorro, Thor. O bulldog francês, de 13 anos, recebeu hoje autorização para embarcar em um voo da FAB (Força Aérea Brasileira).

O vídeo da jovem ganhou força nas redes sociais e foi compartilhado centenas de vezes, inclusive pela defensora da causa animal, Luísa Mell. O apelo envolveu até o governo federal. A paulista de Sorocaba, grávida de dez semanas, explica que foi informada que o animal não poderia ser transportado no avião da FAB por questões regulamentares.

"Eu tive que sair correndo de Kiev por causa do bombardeio. Trouxe só o que importava, incluindo meu cachorro. Estou prestes a ser evacuada pelo embaixador do Brasil. Mas tem um problema: a FAB se recusa a transportar cachorro de focinho curto e eles exigem a papelada. Eu estou saindo correndo do país e não tenho como ver a papelada porque isso leva tempo e já estou muito nervosa com tudo isso", disse, emocionada, no vídeo.

Em situações normais, Thor só poderia viajar se Vanessa apresentasse a documentação que inclui avaliação de saúde, mas no caso da raça há ainda uma questão específica. "As companhias aéreas não gostam de transportar porque como eles têm o focinho curto podem ter algum problema respiratório e morrer, mas eu estou ciente disso. Inclusive ele já viajou comigo duas vezes. Nós compramos o Thor no México".

Fugindo da guerra

A bióloga conta que foi morar com o marido, Vladmir Granovski, 36, em Kiev em dezembro de 2019. Os dois trabalham em um laboratório de biotecnologia e moram em um apartamento próximo ao aeroporto militar da capital ucraniana. Vanessa lembra com medo dos bombardeios que viram da janela.

Moramos em uma área distante do centro da cidade, mas como é perto do aeroporto militar; vimos muitas ações da guerra, bombas explodindo, fumaça. Chegamos a ver um míssil passando e caindo do outro lado da floresta. Resolvemos sair quando os russos começaram a tentar chegar a Kiev pelo lado em que nós estávamos e ficou muito perigoso.
Vanessa Rodrigues Granovski, bióloga e tutora de Thor

A família não possui carro e precisou da ajuda de amigos para chegar a Lviv, na fronteira com a Polônia. O local se tornou refúgio para a população civil desde que o início dos bombardeios russos e 1,2 milhão de pessoas já fugiram do conflito. "Quando chegamos lá eu entrei em contato com a embaixada brasileira para saber quando seria a próxima evacuação e foi quando fiquei sabendo que não poderia levar o Thor comigo no avião".

O marido de Vanessa terá que ficar na Ucrânia até o final do mês, período em que vai tentar resgatar equipamentos da empresa de biotecnologia que fica localizada em Kiev, principal alvo dos ataques. "Por isso que eu estou trazendo o cachorro. A ideia é que se, nesse meio tempo, houver alguma janela pacífica para transportar alguns equipamentos para Lviv, esse é o plano. Caso a situação piore, ele vai deixar o país e vamos pensar nos próximos passos".

Expectativa de final feliz

A embaixada brasileira entrou em contato hoje com a bióloga autorizando a viagem do cão Thor no avião da FAB de volta para o Brasil. Mais cedo, Vanessa e um grupo de brasileiros foram transportados em segurança para a cidade de Varsóvia, na Polônia.

"Recebemos todo apoio da embaixada do Brasil, que nos transportou até a Polônia, nos forneceu alimentação, produtos de higiene durante a viagem e agora estamos em um hotel. Eu e o Thor estamos bem. Ele só está um pouco cansado, mas viajou tranquilo até aqui. Não sabemos quando vamos voltar, mas deve ser essa semana. Agora só quero voltar para casa dos meus país no Brasil".