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Em meio a bombardeios, mães aguardam para dar à luz em hospital em Kiev

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

05/03/2022 04h00

Em meio a bombardeios das forças militares russas, uma maternidade em Kiev contabilizava nos últimos dias ao menos 20 bebês recém-nascidos e tinha mais 28 prestes a nascer. Quem fez o cálculo foi o grego Tasos Tsiamis, que mora na cidade, visitou o hospital, conversou com algumas das mulheres ali e fez o relato ao UOL.

Despachante de um escritório de contabilidade na capital da Ucrânia, Tsiamis, de 47 anos, mora em Kiev desde 2010. Desde o início da invasão do país pela Rússia, ele faz vídeos diários mostrando a situação da cidade após os bombardeios. TVs gregas estão recebendo as imagens que ele faz diariamente.

Em entrevista à reportagem, Tsiamis disse que não vai deixar a cidade, apesar do perigo iminente. "Eu não tenho medo", afirmou.

Segundo a Organização das Nações Unidas, o conflitou deixou 331 mortos, dentre as quais 19 crianças — duas delas morreram num único ataque aéreo na periferia de Kiev na sexta-feira (4), segundo os ucranianos.

Tsiamis disse que a maternidade que visitou fica no centro da capital, perto de um aeroporto. Ele diz que a quantidade de médicos e profissionais de não é ideal, mas eles "estão fazendo o melhor que podem" dentro das circunstâncias. "Eles tentam", afirmou o despachante na quinta-feira (3), depois de sair da unidade de saúde.

Antes do conflito, Tsiamis trabalhava num escritório de contabilidade organizando documentação para estrangeiros que queriam se estabelecer na Ucrânia, abrir empresas e viver legalmente no país.

Estou tentando ser forte, diz grávida

Nos vídeos feitos na maternidade, é possível ver as mulheres grávidas e suas crianças se acomodando em corredores apertados da maternidade.

Uma delas foi entrevistada por Tsiamis na quinta-feira, que compartilhou com o UOL o vídeo da conversa. Alessia, moradora de Kiev, disse que seu bebê deveria nasceria nos próximos três dias, portanto até amanhã (6). Ela procurava enfrentar a situação com serenidade.

Eu me sinto, às vezes, um pouco em choque. Aqui do lado de fora há bombas, ataques, tudo, mas, de toda a forma, eu estou tentando ser forte. Eu acredito que isso vai terminar logo. Eu espero. Todo mundo espera"
Alessia, moradora de Kiev


https://www.instagram.com/p/Canv84VqGrQ/

'Guerra é insana'

Tsiamis disse à reportagem do UOL que não pretende deixar Kiev porque é ali que ele tem sua vida e, neste momento, virou colaborador de veículos de comunicação. "Eu vou ficar aqui. Porque eu decidi ficar aqui, agora trabalhando oficialmente como jornalista para canais de TVs gregos", afirmou. "Eu não tenho medo", completou. "Se eu ficar com medo, talvez eu vá embora."

A razão é porque aqui é nossa casa, nossa vida, nosso trabalho, aqui é meu país"
Tasos Tsiamis, despachante e morador de Kiev

Tsiamis diz condenar a guerra e lembra os laços culturais e afetivos dos dois povos. "Acredito que não há razão para esta guerra. Estamos falando de dois países que são quase a mesma, quase uma nação. Muitos ucranianos são parentes de russos; russos são parentes de ucranianos. Mesmo idioma, mesma cultura. [O conflito] É insano."