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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Brasileiras adaptam casas para receber ucranianos refugiados na Polônia

As brasileiras Letícia Friolle, Lara Guedes e Marciele Silva (da esq. para a dir.) seguram cartaz de apoio aos refugiados ucranianos em Cracóvia, na Polônia. O texto diz em inglês: "Sou do Brasil e estou com a Ucrânia" - Arquivo pessoal
As brasileiras Letícia Friolle, Lara Guedes e Marciele Silva (da esq. para a dir.) seguram cartaz de apoio aos refugiados ucranianos em Cracóvia, na Polônia. O texto diz em inglês: "Sou do Brasil e estou com a Ucrânia" Imagem: Arquivo pessoal

Dyepeson Martins

Colaboração para o UOL, em Macapá

18/03/2022 04h00

Em meio à crise de refugiados que deixaram a Ucrânia para fugir da guerra com a Rússia, um grupo de mais de 50 brasileiras que moram na Polônia oferece abrigo a famílias ucranianas que conseguiram atravessar a fronteira para o lado polonês.

As mulheres adaptaram as próprias casas, reorganizando móveis, comprando colchões e utensílios domésticos.

Mais de três milhões de ucranianos deixaram o país desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, informou a ONU (Organização das Nações Unidas), na terça-feira (15). A Polônia recebeu a maior parte dos refugiados, cerca de 1,8 milhão.

A mobilização brasileira não tem apoio de órgãos oficiais e se iniciou após a demora do governo da Polônia em repassar uma lista com os nomes dos refugiados na região, contou uma das voluntárias, a bióloga Daiane Anzolin, 38.

"No início estávamos esperando esse encaminhamento, mas colapsou. Tem criança dormindo no chão", conta Daiane.

A bióloga abriga, por um período mais longo, uma mulher de 50 anos e a filha dela de 25. Além disso, também recebe constantemente ucranianos que buscam só uma noite de estadia.

Daiane mora há dois anos em Cracóvia, no sul da Polônia, e disse que, para oferecer conforto e espaço às famílias, ela e o noivo, que é polonês, precisaram abrir mão da cama do casal.

"Durmo no sofá, e vamos ficar assim por pelo menos mais uma semana. Tem pessoas no nosso quarto, na cama extra, pessoal no colchão", diz Daiane. Junto com outras voluntárias, ela vai até a região de fronteira e ergue placas oferecendo ajuda.

"A gente começou a simplesmente chegar e perguntar: 'olha, você quer um lugar para dormir por dois dias?' A pessoa diz sim e a gente já vai destinando [para residências de voluntários]".

"Comunicação é na mímica, é no amor"

A diretora de marketing Letícia Friolle, 36, é outra brasileira que mudou a rotina após o início da guerra. Ela está em Cracóvia há cinco anos ao lado do marido, também brasileiro.

Quando o conflito armado iniciou, o casal se recuperava da covid-19 e, por isso, a mobilização era somente na internet. Logo após testar negativo para o vírus, Letícia passou a oferecer o apoio presencialmente.

No apartamento dela está uma mulher de cerca 35 anos e a filha, de aproximadamente 5 anos. Outras duas pessoas da mesma família também iriam para a residência, mas elas não conseguiram atravessar a fronteira.

"Marina e Lera, sejam bem vindas", escreveu Letícia Friolle, em ucraniano, no quarto para as refugiadas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
"Marina e Lera, sejam bem vindas", escreveu Letícia Friolle, em ucraniano, no quarto para as refugiadas
Imagem: Arquivo pessoal

Letícia relatou que a comunicação com as refugiadas ainda é difícil, mas acrescentou que o clima de solidariedade ajuda a contornar a situação.

"A comunicação é na mímica, é no amor. É brincar de boneca, jogar videogame, interagir com o gato, cozinhar junto. A mãe fala um pouco de inglês e a criança se esforça muito para falar alguma coisa em inglês, se não ela fala em ucraniano mesmo. A gente responde em inglês ou polonês e usa o tradutor do Google quando precisa dizer algo mais detalhado", conta.

Letícia mora num apartamento com dois quartos. Um deles, que era usado como escritório, foi adaptado e decorado com alguns brinquedos para dar privacidade e um pouco de alegria diante do clima de tensão.

"Elas chegaram só com uma mochila cada uma", diz a diretora de marketing, que evita assistir aos noticiários para não aumentar a aflição da família ucraniana.

"Quando for uma notícia sobre o fim da guerra ou uma coisa muito boa, ela vai chegar. Ficar vendo muitas notícias deixava a gente ansioso, então a gente prefere focar em amparar os refugiados."

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Um recomeço

A mobilização das brasileiras vai além da oferta de abrigo. Elas buscam alternativas, por meio de redes de amigos, para garantir um recomeço aos refugiados. Letícia, por exemplo, encontrou um curso de polonês para que mãe e filha ucranianas consigam melhorar a comunicação no país.

"Vai ajudar muito. Também ajudo a conectar outras famílias e estamos recolhendo donativos no Brasil para trazer esse auxílio financeiro para cá, especialmente porque ainda tem muita doação, mas não sabemos por quanto tempo isso vai se sustentar", afirma.

A chance de uma nova vida surgiu para a ucraniana abrigada por Daiane. A refugiada conseguiu um emprego num hotel e garantiu uma fonte de renda para ela e a filha.

"Ela está feliz. Mesmo que a gente fale que pode ajudar elas, que não precisa disso. Ela está feliz em poder seguir", diz a bióloga.