"Não sei o que farei": Ucranianos narram destruição de bairro em Kiev
Mais uma vez, na manhã desta sexta-feira dia (18), um novo conjunto habitacional em Kiev, capital da Ucrânia, foi atingido por um foguete ou míssil russo. O local ainda conta com muitas pessoas vivendo em seus apartamentos, principalmente idosos que moram sozinhos, pessoas com deficiências físicas e doentes impossibilitados de se moverem por si próprios.
O local atingido foi completamente destruído por uma única explosão que abriu uma cratera de pelo menos 5 metros de diâmetro e de 3 a 4 metros de profundidade. A área, que faz parte de um grupo de vários prédios de cinco andares separados por um grande vão, costumava a ser usada para o lazer de crianças e estacionamento para os adultos,
O ponto de impacto, apesar de suas proporções, deixa claro que a arma que se chocou naquele local, não atingiu diretamente nenhum dos prédios do condomínio.
A destruição colossal em todo o entorno foi causada pela onda de choque, pelo calor e pelos estilhaços lançados incandescentes por centenas de metros a milhares de quilômetros por hora contra tudo e todos os que estavam ao seu redor.
Sentado, quase soterrado em meio aos escombros arremessados para todos os lados do pequeno cômodo que até o início desta manhã foi a sua cozinha, Roman, um senhor com voz rouca, face caída, de mãos, braços e pernas muito trêmulos, havia conseguido um cigarro com um dos jornalistas que entravam e saiam dos apartamentos destruídos pela explosão.
Tomava o resto de sopa que havia sobrado dentro de uma panela deixada aberta sobre o fogão coberto de uma poeira fina de cimento e concreto. Falava sozinho dizendo que não sabia para onde ir o que fazer. "Este foi um bairro muito bom, não sei o que farei da minha vida".
Como ele, muitas pessoas ali tentavam encontrar um significado para o que estava acontecendo. Com vassouras de palha, varriam os corredores cheios de pedaços de vidro e ferro contorcido. Subiam e desciam as escadas congestionadas e perigosas carregando baldes de plástico com entulho como se estivessem, desde o primeiro segundo, tentando reconstruir suas vidas o mais rápido possível.
Sinaida Grigorievna, uma senhora de 75 anos de idade, chorava sobre a cama que tinha em sua sala enquanto um voluntário ucraniano, Ihor, a ajudava arrumar a fechadura de sua porta.
Seu apartamento, muito cheio de moveis, com um grande tapete vermelho pendurado na parece como se fosse um quadro ficava do outro lado de onde a explosão ocorreu. Seus móveis, suas roupas e sua vida haviam sido salvas pelas paredes entre a explosão e o cômodo em que estava.
Tentando acalmá-la, Ihor, que em tempos de paz era um cozinheiro de um restaurante italiano das redondezas chamado Di Mario, cantava num italiano meio inventado a canção "Ti voglio bene assai".
Queria consolar a senhora que chorava não apenas pelo terror que havia acontecido, pela destruição que ela, por não ter ainda saído de seu apartamento, não havia ainda visto, mas também, tentava tranquilizá-la pela morte de suas plantas de estimação, caídas pelo chão de um dos quartos e da cozinha, ambos os cômodos ainda praticamente intactos.
O exército russo continua tendo problemas para avançar com suas tropas em direção a capital ucraniana e até agora não conseguiu garantir controle absoluto de nenhuma das cidades que ocupou. Segundo analistas, as tropas enviadas pelo Kremlin estão tendo que arcar com milhares de baixas.
Em vídeo compartilhado na internet, combatentes ucranianos, mostravam fotos de corpos de soldados russos embalados em sacos plásticos dentro de uma sala refrigerada. As fotos grotescas dos rostos desfigurados, segundo a legenda, pediam para que as mães destes soldados mortos, se os reconhecessem, que os viessem buscá-los antes que fosse enterrados em fossas coletivas.
As atrocidades da Ucrânia continuam.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.